O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 12 de julho de 2009

Pascoaes e Hölderlin

Poetas da profecia e da divina loucura
à procura da índia ainda distante
encontram se numa infinita despedida
na ponte do tolo de Amarante

e lembram as ruínas do continente
célticas e gregas pedras no sol-pôr
e falam das hecatombes e da dor
da ignorância do dia impertinente

que alvoreceu na Europa desencantada
onde os gritos do mercado derrubam o mito
que era tudo mesmo e que é não mais nada

do que uma velha e gorda vaca bem acabada
na lembrança, remota, do rito
com o touro divino numa praia dourada.

40 comentários:

Paulo Borges disse...

Pascoaes e Pessoa visionam e efectuam um novo rapto de Europa, já não para Creta, mas para as "Índias espirituais", no voo largo e célere da divina I-lusão... São os poetas-profetas do futuro oculto no eterno instante e deixam a léguas de atraso todos os velhos do Restelo que se debatem ainda nas falsas questões do Velho Mundo, terra gasta que só reflorescerá pelo seu abandono. Com eles caminhamos, não já para Ocidente, como pretendia a jovem ingenuidade de Thoreau, mas para a re-Orientação vertical, essa que mais do que nunca hoje desponta no Finisterra, esse "Oriente ao oriente do Oriente" do "Opiário" de Álvaro de Campos.

O teu alemão é cada vez mais luso. Uma revisão e fica perfeito.

Havemos de dizer este e outros poemas, a retinir saúdes e taças de verde tinto, "na ponte do tolo de Amarante". Pascoaes e Hölderlin comparecerão e dançaremos a divina loucura com todas as ninfas do Tâmega, arrebatadas e amadas até ao infinito do que não tem nome!

Saúde, Dirk!

navegador disse...

posso ir convosco a amarante?

Saúde!

aval disse...

A avaliar pelo poema, sim.

Paulo Borges disse...

Já lá fomos várias vezes. Havemos de voltar e todos são bem-vindos.

aurora disse...

Também posso ir?
Também sei alguns poemas, gosto de pontes, de Pascoais e Holderlin, de loucuras divinas, de vinho verde, de verde campo, de contemplação e de cantar.

Ninfas do Tâmega disse...

Venham todos e tragam amigas e amigos. Estamos à vossa espera...

Lysithea disse...

Saúde!

Mª. da Luz disse...

Dirk, recordo que no "Diálogo", Hölderlin e Pascoaes encontram-se numa "floresta verde"... falam sobre a Grécia e os deuses. Sobre a Índia como "uma era perdida das ideias" e como uma "terra perdida na margem da Saudade"... tu ouves e prometes que sempre que os encontrares nos contarás os diálogos de ambos... desta vez foi em Amarante. E o próximo diálogo será já na "Índia ainda distante"?

baleia disse...

Tão amorosos!
As baleias podem ir?

inscrição disse...

E as velhas com buço?

Deleuze disse...

Eu também tenho direito?

preocupada disse...

É preciso levar merenda?

indiota disse...

Tenho uma enciclopédia grande. Acham que vai fazer falta?

três em um disse...

Somos um conjunto de trigémeos. Será que vamos caber?

quase a desistir disse...

Ó Paulito, eu sou mesmo muito magra. Tou com medo de ir e ninguém notar...

naifa do Tâm ega disse...

Só vou se a aurora me disser os poemas que sabe!

PPÁ disse...

Somos animais. Podemos ir?

aurora disse...

Não digo poemas às naifas.
Só às ninfas.

Então?! disse...

Quando é que vamos?

Porta-voz dos oprimidos disse...

Reunimos todos e resolvemos que somos complexados e, por isso, não vamos. Temos medo. Temos medo que tenham medo. Isto é respeito.

Além disso, a aurora é racista.

Não entendi! disse...

Medo?! Medo de quem? O que haverá no Tâmega que possa assustar alguém?

ninfáticos disse...

Somos tímidos.

Érato disse...

Ohhhh, toco e canto para vós... vinde e deixai a timidez

rouxinol disse...

Tocais bem?

Aurora disse...

Naifas arrepiam.
Quero esconder-me nos caniçais enquanto estrafegas no ar, sibilante.
Medo, sim, das naifas e dos vossos egos. Na ponte de Amarante só compareço se estivermos todos incognitamente em delírio poético.

Terpsícore disse...

Delicadamente, na ponte, dançarei para todos vós. Vinde para a Festa. Apressai-vos...

febril disse...

Os poetas são ruínas.
A música desafina e a dança move-se em desarmonia carnavalesca.
Qual é a pressa? Tu sem s?

aurora disse...

Corrigo-me: Não é "dos vossos egos" mas "dos nossos egos".

Anónimo disse...

:)

Isabel Santiago disse...

Em Amarante, Holderlin não atravessaria a ponte. Lançar-se-ia ao rio, porque iria atrás dos peixes com nomes de deuses. Pascoaes sentar-se-ia numa pedra para ver chegar à tona o seu rosto branco e escrever versos sobre as máscaras e o divino. Porque os deuses, como a Morte, gostam de ser múltiplos.

Agradeço muito a ideia de juntar Pascaes e Holderlin, em Amarante e antes disso no teu pensamento.

Anónimo disse...

Isabel, um :)

Isabel Santiago disse...

Anónimo,
um sorriso ainda maior. Há tantos dias sem sorrir, quase que me apetece andar por aí a semeá-los no ar...

Anónimo disse...

na feira de sant'iago em setúbal. dois loucos- o pão-e-uvas e o zé maluco, disputavam, a passo, voltas ao lago.nós apostávamos no vencedor. ninguém pensava no que pensavam. será que era importante. pareciam felizes. saberiam mais do que nós?

Isabel Santiago disse...

não sei o que é saber. Mas há boas indicações na breve história sobre o sentido da alegria. E ser alegre não é ter e ser mais, por exemplo para Espinosa?!

Sooooriso

Anónimo disse...

essa da multiplicidade da morte, não lembra a deus, nem ao diabo...
o espinosa sabia que estava morto antes da nascer.

Isabel Santiago disse...

Lembra a António Patrício e eu penso que a ideia é muito bela...e interessante de explorar...

Encontramo-la em "D. João e a Máscara", mas também em certas tragédias, nomeadamente nas Bacantes de Eurípides. Encontramo-la na vida e quando assistimos à morte dos que amamos nos nossos braços. São ainda outras aprendizagens das máscaras.

Um sorriso

Anónimo disse...

coro e lamento, os que amamos vivem sempre ao nosso lado...

um abraço

Isabel Santiago disse...

fraternamente recebido e sem máscara.

Anónimo disse...

isabel, agradeço.

à espreita disse...

Oh, acabou?!