O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Inefável


inefável

sopro d'algodão

que voa

sempre

mais além

de mim própria



toque de nuvem

aspiração de céu

abismo de mar



teima na dicotomia

quando tudo é uno

vasto

horizontal

holístico



inefável

este amar

que me faz ser

e em ti me perder

para depois me reencontrar...

13 comentários:

Anónimo disse...

É bonito. Apenas aconselho não misturar conceitos sofisticados, como "holístico", com uma linguagem mais despojada e imagens mais simples...

Unknown disse...

Eu nada aconselho, apenas aprecio.

Anónimo disse...

que leveza... este poema faz-nos voar ao Inefável.

guvidu disse...

(n)a leveza de um sopro de algodão?!...

grata!:)

Luiz Pires dos Reys disse...

Ena! Isto é que está um blog, minha gente!
Até temos um crítico literário! Para quando o suplemento "O ComPrazer do con-Texto" ou "O Nome da (Tia)Rosa"?
Bom, se bem que eu, em parte, "subscreva" a razão aduzida pelo nosso crítico, compreendo bem a da autora.
A consonância rimante da primeira sílaba de ambas as palavras e a inevitavel assonância imperfeita da segunda vogal suscitou, porventura, a escolha.
Isto, é evidente, para lá do próprio fluxo subliminar de sentidos que ali subjazem e afloram.
Mas não vou aqui viviseccionar a beleza indiscutível do poema.
Como quer que seja, sr. crítico de serviço (e nada contra, da minha parte!), quanto a palavras "proibidas" em poesia, creio que desde Joyce e Pound ficámos infectados, vacinados e curados de tais peias e "tabus", não lhe parece?
Aliás, em português, para lá dos mais chegados a nós, temos o caso brilhantissimo de Cassiano Ricardo no Brasil, para apenas referir um vulto de dimensão e valia consensual...

Um inefável abraço natalino à artista e outro, este mais "holístico" e "holónico", ao viviseccionista.

Anónimo disse...

abraço-te no meu inefável, Lapdrey

Luiz Pires dos Reys disse...

Obrigado, Anónimo!
Pena que, inefável, o abraço seja in-sensível...
Um afável inefável:"Até!"

Anónimo disse...

inefável, para já
tangível, brevemente

Luiz Pires dos Reys disse...

Ok, anónimo, "fique lá com a bicicleta"...
Agora não me apetece andar...

Fica, entretanto, a pergunta: Pensa sempre assim, "aos solucinhos"?
A sua média são umas corajosas (ah, valente!) seis palavrinhas por comentário.
É obra!
Não se cansa, nem nada?
Cuidado com esse coração, ouviu?
Quem o avisa... Lapdrey é...

(Até aos próximos capítulos...)

guvidu disse...

o "meu" inefável (entenda-se, poema) já dá direito a bicicleta?

é por ser Natal caro Laprey? rs

Anónimo disse...

e o teu coração Lapdrey preocupas-te com ele?

não me canso com a média de seis palavras, não!

guvidu disse...

grata pelo elogio ao poema :), tinha-me esquecido há pouco de o referenciar

Luiz Pires dos Reys disse...

O meu coração, angelicoso diabrete anónimo, tem quem dele se preocupe.
O de carninha tem um dono, o das entranhas da alma tem outro. É prático.
Isso liberta-me para outras coisinhas relativamente sem importância, tais como falar com certo anónimo, por exemplo, entre outras coisas de um pouco mais perdurância na memória.

Ok, em relação à média da meia dúzia: quem sabe se não passo a chamar a certa virtual entidade "Anónima Meia Dúzia" ou , sei lá, "Semi-Doze"...
Dou a escolher!
Se bem que esta converseta não tenha interesse algum...
É pura palha blóguica!