À luz e à profecia estão vendados,
Para Emaús nós caminhamos órfãos
E o coração é cinza nesse ocaso.
Mais do que órfãos, estamos todos mortos.
E eis que irreconhecida luz abrasa
A voz do Companheiro que nos volta
Trazido pelo sonho à nossa casa.
De súbito a presença de uma vela
Acende a sua face. E, em torno, à mesa,
Quando em sua inteireza se revela,
Como um clarão se esvai. De novo sós,
Para manter sua memória acesa,
Elevamos em canto a nossa voz.
(Ângelo Monteiro é um poeta nordestino, nascido em Alagoas em 1942 e residente no Recife há várias décadas. Este poema faz parte do livro O exílio de Babel (1983 a 1989) e foi incluído na antologia pessoal Todas as coisas têm língua)
2 comentários:
A tua voz, aqui por outra voz se escuta...
Abraço-te de olhar.
Que os dias te sejam cálices leves, meu amigo, no peso de querermos ser todos essa leveza de asa, pétala do corpo que por certo um dia teremos...
Grande poema, Francisco! Grande poema! Grande abraço neste novo ano que rompe e rompa a nossa treva!
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