terça-feira, 14 de outubro de 2008
No tempo em que o dia dos meus anos é o dia de hoje...
"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida."
Álvaro de Campos
Por isso, voltei a perceber que não percebia coisa nenhuma, e já pouco falta para que entre a família volte a ser inteligente por isso.
Esperanças e sentido? Guardem-nas para quem disso saiba: os ignorantes da própria ignorância.
"Corre brisa:
vai dizer que de novo
é tempo dum país que ainda não há
Vai dizer que por sua Penélope e por seu povo
Ulisses voltará
Ó noite
ó mar
ó voz das coisas silenciosas
deixai-me junto à costa que perdi meu barco
Ulisses navegador
Coroai-me de algas como de rosas
que eu sou Ulisses sem Penélope e sem amor
Ulisses já sem barco
Deixai-me junto à costa coroado de espuma
Que Ulisses já não tem
arco
não tem rainha.
Ulisses já sem reino e já sem
barco
Deixai-me coroado
Ulisses já sem coroa
nem resposta
quando pergunta
por sua cidade Lisboa.
Deixai-me desarmado
junto à costa.
Ó mar
ó noite
ó voz das coisas silenciosas
já Penélope deposta
o meu reino conquistado.
De espuma (como de rosas)
coroado
deixai-me junto à costa.
Meu reino por um barco.
E por meu arco."
Manuel Alegre, "Barco para Ítaca"
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida."
Álvaro de Campos
Por isso, voltei a perceber que não percebia coisa nenhuma, e já pouco falta para que entre a família volte a ser inteligente por isso.
Esperanças e sentido? Guardem-nas para quem disso saiba: os ignorantes da própria ignorância.
"Corre brisa:
vai dizer que de novo
é tempo dum país que ainda não há
Vai dizer que por sua Penélope e por seu povo
Ulisses voltará
Ó noite
ó mar
ó voz das coisas silenciosas
deixai-me junto à costa que perdi meu barco
Ulisses navegador
Coroai-me de algas como de rosas
que eu sou Ulisses sem Penélope e sem amor
Ulisses já sem barco
Deixai-me junto à costa coroado de espuma
Que Ulisses já não tem
arco
não tem rainha.
Ulisses já sem reino e já sem
barco
Deixai-me coroado
Ulisses já sem coroa
nem resposta
quando pergunta
por sua cidade Lisboa.
Deixai-me desarmado
junto à costa.
Ó mar
ó noite
ó voz das coisas silenciosas
já Penélope deposta
o meu reino conquistado.
De espuma (como de rosas)
coroado
deixai-me junto à costa.
Meu reino por um barco.
E por meu arco."
Manuel Alegre, "Barco para Ítaca"
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
11 comentários:
Anita,
Se o dia dos teus anos é o dia de hoje, este é o tempo em que festejamos o dia dos teus anos.
Tão alta vai a taça que não cai do céu.
Beijo
E este não podia faltar...
ULYSSES
"O mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos creou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundal-a decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre."
Saúde, Saudades! :))
Se este é o teu dia de anos, Rilke manda o anjo festejar com os vivos a tua presença entre os que também ainda o são. A vida é esse lado brilhante onde se escrevem nomes que se incendeiam com o que é simples, como tu.
Beijo Grande, Isabel! ;)
E somos cada vez mais esse Fogo.
John Francis Dooley, wipe the sleep from your eyes
And embrace the light
You have slept now for a thousand years
Beneath starless nights
And now it's time for you to renounce the old ways
And to see a new dawn rise
In former days, the masks were raised
When the god came down from off the mountain
And a sacrifice was made
For they knew that the day of wrath was fast approaching
Just like yesterday, before the war
John Francis Dooley, the scapegoat has run
All our sins are disowned
And now it's time for you to take off your mask
And cross the Rubicon
If you and I were one within the eyes of our designs
It would still not change the fact of our leaving
For tonight we must leave with the first gentle breeze
For the Isles of Ken we are assailing
Just like Ulysses on the open sea
On an odyssey of self-discovery
Brendan Perry
Provavelmente conheces a música...
Parabéns :)
Anita,
Um abraço das dunas. Estou na ermida, parece que já vejo outras a acenar-me. Se calhar também tu vais andar hoje pelas capelinhas e ainda nos encontramos...
Anita, que sempre vivas apoderada pelo que não começa nem acaba!
Felicitações no incriado!
Vergílio,
não conhecia não, mas parece que essa música já nos conhecia... :)
Luiza,
eu andarei de pés descalços na areia, quem sabe se junto às dunas não nos encontramos as duas.
Paulo,
o Paulo usou aí uma figura de estilo (que não me lembro o nome que o homem inventou já...): "viver apoderada", viver é já encontrar-se apoderado pela vida do amor... ;) E o resto... bom, é o que se vê - ou se não vê.
Desculpa ter chegado atrasada para cantar os parabéns. Entrego-te uma bolsa que hoje me apetece seja verde, mas nas tuas mãos ela será da cor que tu mais gostares. Ao abri-la encontrarás a prenda perfeita porque não é o que eu te desejo mas o que tu mais precisares. Um abraço apertadinho, sem prazo de validade!
Um beijo Grande, Anica!
Enviar um comentário