quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Dos Arquétipos do Ideal Português às Instâncias da Realização de Si - VII
Mar
Mar é, simultaneamente, a originária matriz de todas as possibilidades e o horizonte sem coordenadas da sua ilimitada experiência. Mar é a metamorfose e o caldear contínuos do nada e do devir, do imanifestado e da manifestação, na desmontagem da ilusão do ser como proteico fluxo de ritmos e correntes. Mar é a mente, a vida e o mundo, instável meio ondulatório da errância do in-ex-istir na saudade da experiência total. Mar é isto a que sem saber o que seja nos habituámos a chamar “nós”, esta turbamulta de sensações, emoções e pensamentos com que nos identificamos, este Todo o Mundo-Ninguém que nos vive sem que o vejamos ou queiramos, neste tempestuoso ou sereno rolar das vagas de acontecimentos, percepções e experiências que acreditamos nossas. Mar, e mar sem fim, mar-oceano, é o fundo sem fundo de tudo, o abismo que se abre em todo o fundamento, o vórtice que sorve nas entranhas hiantes o Titanic da vaidade de sermos, o apocalíptico tsunami que limpa da face da terra e do céu tudo o que pretendemos ser, saber, fazer e construir. O abismo que, enfim, fulgura em toda a superfície a clamar a infinita, excessiva e indizível profundidade de todas as coisas. A glória e a graça do seu haver sem quê, porquê ou para quê.
É neste mar-oceano que naufragamos e nos perdemos sempre que nele nos pretendemos achar e salvar, sempre que nele nos supomos outros, sempre que nele fantasiamos rotas, refúgios e portos seguros, razões, sentidos e fins que se substituam à nossa própria pertença e reconciliação com a impensável e inimaginável infinidade, inocência e imprevisibilidade da vida na sua caósmica irrupção. Como é neste mesmo mar-oceano que, oferecendo-nos a todos os ventos e tempestades, desistindo de nos orientar na cerração, podemos naufragar e, abismados no coração selvagem das coisas, subitamente emergir Ilha Encantada e Rei Encoberto, Ilha dos Amores exuberante das delícias da conformidade entre nautas e ninfas, na andrógina abertura da divina visão da totalidade, comovidos de espanto pela revelação do que sempre desejáramos sem que o soubéssemos.
Pois desde sempre, e sobretudo quando nos escondemos, o que secretamente queremos é descobrir-nos. O oculto móbil de tudo é o Descobrimento.
Mar é, simultaneamente, a originária matriz de todas as possibilidades e o horizonte sem coordenadas da sua ilimitada experiência. Mar é a metamorfose e o caldear contínuos do nada e do devir, do imanifestado e da manifestação, na desmontagem da ilusão do ser como proteico fluxo de ritmos e correntes. Mar é a mente, a vida e o mundo, instável meio ondulatório da errância do in-ex-istir na saudade da experiência total. Mar é isto a que sem saber o que seja nos habituámos a chamar “nós”, esta turbamulta de sensações, emoções e pensamentos com que nos identificamos, este Todo o Mundo-Ninguém que nos vive sem que o vejamos ou queiramos, neste tempestuoso ou sereno rolar das vagas de acontecimentos, percepções e experiências que acreditamos nossas. Mar, e mar sem fim, mar-oceano, é o fundo sem fundo de tudo, o abismo que se abre em todo o fundamento, o vórtice que sorve nas entranhas hiantes o Titanic da vaidade de sermos, o apocalíptico tsunami que limpa da face da terra e do céu tudo o que pretendemos ser, saber, fazer e construir. O abismo que, enfim, fulgura em toda a superfície a clamar a infinita, excessiva e indizível profundidade de todas as coisas. A glória e a graça do seu haver sem quê, porquê ou para quê.
É neste mar-oceano que naufragamos e nos perdemos sempre que nele nos pretendemos achar e salvar, sempre que nele nos supomos outros, sempre que nele fantasiamos rotas, refúgios e portos seguros, razões, sentidos e fins que se substituam à nossa própria pertença e reconciliação com a impensável e inimaginável infinidade, inocência e imprevisibilidade da vida na sua caósmica irrupção. Como é neste mesmo mar-oceano que, oferecendo-nos a todos os ventos e tempestades, desistindo de nos orientar na cerração, podemos naufragar e, abismados no coração selvagem das coisas, subitamente emergir Ilha Encantada e Rei Encoberto, Ilha dos Amores exuberante das delícias da conformidade entre nautas e ninfas, na andrógina abertura da divina visão da totalidade, comovidos de espanto pela revelação do que sempre desejáramos sem que o soubéssemos.
Pois desde sempre, e sobretudo quando nos escondemos, o que secretamente queremos é descobrir-nos. O oculto móbil de tudo é o Descobrimento.
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7 comentários:
Só a mente demente não mente.
Navegar é preciso, viver não é preciso.
Ó Paulinho, ou muito me engano ou este texto ainda é um resto da tua fase barroca... Gostei mais dos aforismos e até do livro sobre a saudade. São mais clássicos.
Ó Barroco, que tempo maravilhoso,
mas tambem gosto mais o estilo manuelino.
É fascinante a ideia de construir um templo manuelino com as palavras chaves da cultura portuguesa
Não é?
A palavra-chave de qualquer cultura é o silêncio.
muito enigmático!
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