domingo, 26 de outubro de 2008
Dos Arquétipos do Ideal Português às Instâncias da Realização de Si - IV
Demanda
Andar em demanda é viver ferido e movido da fome e sede de todo o ex-istir. Fome e sede de ser e de supra-ser, fome e sede de todo o possível e do impossível que nele há, saudade funda de ser e sentir tudo de todas as maneiras e de a isso mesmo superar, sem deixar nada de fora da plenitude de o não haver, de não haver dentro nem fora. Demandar é não se saciar com menos que o Infinito que se é na Encoberta Origem-Oriente de si e de tudo. Por isso a demanda é questa: pôr radicalmente em questão todas as falsas seguranças, prazeres e riquezas da ex-istência, todas as ilusões de serem ou poderem ser jardins de delícias as duras e sempre efémeras terras de exílio, todas as ficções de serem pátrias e lugares naturais de habitação e convívio os modos quotidianos de ser, sentir e pensar.
Demandar é partir. Demandar-se na Origem é exilar-se do exílio dos hábitos mentais e emocionais, dos hábitos sociais, culturais e civilizacionais, dos hábitos. É expatriar-se, desancorar-se, dessedentarizar-se. Passar pela escura noite do abandono de todas as referências, apoios e portos de abrigo, ser deserto e oceano e neles peregrinar ao Deus dará da libertação de todos os rumos. Abrir mão de todas as opiniões, crenças e doutrinas. Deixar cair tudo, reconhecer que nunca se esteve, nunca se está e nunca se estará senão nu, irremediavelmente nu. Por mais ficções que se inventem, por mais ademanes de boa consciência, por mais camadas de artifícios e maquilhagens em que ilusoriamente nos escondamos. Todas são transparentes. E a nossa nudez também. Tão transparente e luminosa que nos revela o Rei e o mundo que somos a descoberto. O rei vai sempre nu. É essa a sua implacável majestade, que onde irrompe dissipa todo o medo, disfarce e hipocrisia. O fazer de conta que se é o que nunca se foi e jamais se pode ser. Um ser existencialmente correcto num mundo de convenções. Num mundo de legalidades à margem da única Lei da Origem, a Liberdade-Plenitude de nada-tudo ser. Isso que se é, sem dever nem direito: não parte, mas todo; não fatia, mas bolo; não finito, mas Infinito.
Demandar é partir. Do próximo para o distante, do conhecido para o desconhecido, do que nos presumimos para o que somos sem presunção de o aprisionar no conceito sequer de ser. Desorbitar-se do que se pensa ser para o que se devém sem pensar. Largar amarras do repouso no ser sediado, sitiado e sedentário para a odisseia do vagar disponível pela infinita abertura dos possíveis. Desenquistar-se do crer-se um e um eu para o desfraldar-se metamorfose e Viagem na vertiginosa sucessão de todas as paisagens.
Andar em demanda é viver ferido e movido da fome e sede de todo o ex-istir. Fome e sede de ser e de supra-ser, fome e sede de todo o possível e do impossível que nele há, saudade funda de ser e sentir tudo de todas as maneiras e de a isso mesmo superar, sem deixar nada de fora da plenitude de o não haver, de não haver dentro nem fora. Demandar é não se saciar com menos que o Infinito que se é na Encoberta Origem-Oriente de si e de tudo. Por isso a demanda é questa: pôr radicalmente em questão todas as falsas seguranças, prazeres e riquezas da ex-istência, todas as ilusões de serem ou poderem ser jardins de delícias as duras e sempre efémeras terras de exílio, todas as ficções de serem pátrias e lugares naturais de habitação e convívio os modos quotidianos de ser, sentir e pensar.
Demandar é partir. Demandar-se na Origem é exilar-se do exílio dos hábitos mentais e emocionais, dos hábitos sociais, culturais e civilizacionais, dos hábitos. É expatriar-se, desancorar-se, dessedentarizar-se. Passar pela escura noite do abandono de todas as referências, apoios e portos de abrigo, ser deserto e oceano e neles peregrinar ao Deus dará da libertação de todos os rumos. Abrir mão de todas as opiniões, crenças e doutrinas. Deixar cair tudo, reconhecer que nunca se esteve, nunca se está e nunca se estará senão nu, irremediavelmente nu. Por mais ficções que se inventem, por mais ademanes de boa consciência, por mais camadas de artifícios e maquilhagens em que ilusoriamente nos escondamos. Todas são transparentes. E a nossa nudez também. Tão transparente e luminosa que nos revela o Rei e o mundo que somos a descoberto. O rei vai sempre nu. É essa a sua implacável majestade, que onde irrompe dissipa todo o medo, disfarce e hipocrisia. O fazer de conta que se é o que nunca se foi e jamais se pode ser. Um ser existencialmente correcto num mundo de convenções. Num mundo de legalidades à margem da única Lei da Origem, a Liberdade-Plenitude de nada-tudo ser. Isso que se é, sem dever nem direito: não parte, mas todo; não fatia, mas bolo; não finito, mas Infinito.
Demandar é partir. Do próximo para o distante, do conhecido para o desconhecido, do que nos presumimos para o que somos sem presunção de o aprisionar no conceito sequer de ser. Desorbitar-se do que se pensa ser para o que se devém sem pensar. Largar amarras do repouso no ser sediado, sitiado e sedentário para a odisseia do vagar disponível pela infinita abertura dos possíveis. Desenquistar-se do crer-se um e um eu para o desfraldar-se metamorfose e Viagem na vertiginosa sucessão de todas as paisagens.
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6 comentários:
Ela põe a capa com capuz. A ferida
e tão visível que ninguém a vê. Cobre-a. A si e à ferida. Vestida com o que a despe,montada no cavalo que passou no horizonte delirante e imaginante de Unamuno e D. Quixote, relendo em choro de identidade inexplicável as suas confissões, ela atravessa as paisagens sem contorno e inacabadas de Cézanne; ascende à montanha mil vezes pintada nas mãos de um pintor embriagado de vinho e vida.
Paulo, a partir de um momento qualquer da demanda, um desconhecido, com a forma de um estranho que suporta a vida à temperatura das estrelas, e se veste da luz que há em Turner ou em Rothko, torna a vida numa visão em que a Idade de Ouro cai na pele despida e ferida, como neve numa paisagem do Norte, e sara o que a salvo, não regressa.
O que eu penso destes textos é que eles não são senão uma entrega para esse lugar em que o Anjo da Origem salta como uma ameaça desejada para um rapto que subliminarmente atravessa cada instante em que o Paulo é. Vejo neles folhas de ouro, entre as palavras, como a neve de uma paisagem do norte e do desnorte. E custa regressar aqui e agora. Estes textos são fugas de Bach, em partituras de palavras.
Paulo,
Uma vez mais o seu texto me inspirou. Uma vez mais me junto à sua voz.
Um abraço
O que dizem dos meus textos digam-no antes da funda fonte que há em vós e que tão exuberante e generosamente brota e canta nas vossas palavras!
Saúde!
Descanso...
Sinto-me bem aqui...
Posso ficar?!
O que faz de nós organismos particularmente inteligentes? Humana particularidade...
A capacidade de raciocínio? Compreensão e relacionamento com o objecto?
Relacionamento inter e intra-espécie?
Aprendizagem?
Memória, memorização, assimilação, acomodação, interrogação e formulação de hipóteses?
Ou tão somente a subtil percepção do infinito?
Acredite que tudo isto me passou pela ideia ao ler a Demanda.
Aliás, permita-me como comentário directo ao e à forma como escreve... dá-nos esse tempo e essa liberdade para ir em demanda numa viagem infinita.
Sem conclusões precipitadas, nem respostas directas. Apenas com vontade de, se possível, contar a história depois da viagem. Essa a parte mais difícil. Para mim, entenda-se.
Sem demoras, um abraço!
É bom saber que existe um palácio chamado caminhada!
Repousa em movimento e move-te em repouso.
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