O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 25 de outubro de 2008

Dos Arquétipos do Ideal Português às Instâncias da Realização de Si - III

Encoberto

Encoberta é toda a Origem para todo o ex-istente e todo o ex-istente para si mesmo, na medida em que, dela procedendo e a ela demandando, nela se ignora, buscando-a e buscando-se como se desde sempre e para sempre nela intimamente não permanecesse. Encoberta é pois a realeza de todo o ser e de toda a consciência, a sua verdade, liberdade e soberania plenas, de que são pálida imagem a ciência, o livre-arbítrio e o poder. Encoberta a Origem e Encoberto o ex-istente, Encoberto é o mundo original, a festiva ebulição de todas as coisas na matriz do seu poder ser e ser tudo. Assim, abandonada a ilusão de um salvador ou salvação exteriores, o Encoberto Rei que mora esperando na Encoberta Ilha é todo o outro do ser que, nela e fora dela, na Origem e no exílio, espera por si mesmo, o si sem si de tudo que sem esperança nem desespero se espera, aguardando, ou seja, vigiando, resguardando, o resgate da consciência vagamunda e o fim do exílio que em verdade nunca se iniciou. Vislumbrando, daquém e dalém mar do esquecimento, o pleno reencontro do que em verdade jamais se apartou. A complementaridade dos dois que nunca foram senão um, ou nenhum, símbolos que somos, nós e tudo, de não haver separação. Por isso é infinitamente mais verdadeiro que 1 + 1 = 1. A equação aritmética do Amor que somos, mas que nos falta. Porque nos faltamos. Mas sê-lo e não havê-lo, pressenti-lo e desejá-lo, é a condição da Demanda.

1 comentário:

Anónimo disse...

Paulo,

Que desculpe esta voz que, no meio da sua belíssima expressão, mostra o mar que não é meio nem fim da Demanda, tão só reminiscência...
O mar que a seguir posto (como se abrisse o meu parêntisis individual) na sua escrita).

Um abraço grato pelo que leio,
Saudades