O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Amor de Amor

Pintura de Eugene Medard

Amor, daqui me leve em voo de asa e maresia

Em barco de cristal, pluma de vela, ou poesia
Amor de dor, amor daqui, amor de cor
Em canto que estremeça a noite e o dia.

Amor que de mim mesma me levante
E dos meus véus se eleve a voz que cante
O mesmo amor me envolva de espaço e de lonjura
Que ao mar regresse, amor a dor que mata e cura.

E deste amor de viagem, de paisagem
Me chegue mais Amor em barca fria
Para que o abraço, o fogo, o laço, o braço
Me leve, amor, à praia em que a cantar morria.

A essa ilha de sal, de vela e de coral
Ilha onde afundo o peito na vastidão da pena
Estátua de sol a deitar-se no vale
Ilha onde o Mar gigante se apequena.

Para que amor não chegue e me não cure
Leva-me,enfim, amor, onde não dure
A tua ausência tanto que dormida
Eu suba em tuas pernas ao céu da despedida.

2 comentários:

platero disse...

LI(N)DO

Paulo Borges disse...

Enlevo-me deleitado no amoroso estro!