terça-feira, 11 de março de 2008
Um texto sobre o eu
Quando estamos a dormir, ou sonhamos ou estamos em sono profundo ou pouco profundo. Estamos, de qualquer dos modos, adormecidos para uma certa realidade, a que vulgarmente chamamos "mundo". Mas parece que, mesmo aí, não temos consciência de nós mesmos.
Quando estamos acordados, estamos acordados para o mundo e adormecidos para o mundo dos sonhos que, provavelmente, nesse momento nem existe. Temos consciência de nós enquanto corpos e seres pensantes mas, ainda assim, colocamos as questões: quem sou eu? O que sou eu?
Em ambos os casos, não temos plena consciência de nós ou, então, a consciência de si não pode ser plenamente dita mas, apenas, talvez, sentida, consciencializada. Ainda assim, sou céptico e creio que é provável que nunca tenhamos plena consciência de nós (talvez por sermos abismo, infinito?), ou não colocaríamos as questões.
Não sei se existo desde sempre nem para sempre, e creio que, pelo menos neste corpo, isso é um facto. A pergunta pelo eu é uma pergunta em que se intenta ir além do fenoménico e encontrar alguma transcendência, algum sinal de vida para lá deste mundo.
É, também, uma pergunta perfeitamente natural, já que indagamos sobretudo e, assim sendo, por que não indagarmo-nos sobre nós mesmos, a nossa natureza? Penso que, quando se pergunta pelo eu, pergunta-se sobre a nossa natureza última e íntima, com a qual nos queremos identificar, o que ainda não acontece - como podemos identificar-nos com algo que desconhecemos?
Não sei se o eu existe ou não existe, creio que existe, porque existo e penso que sou um eu; pelo menos sou eu para mim. Repetindo-me e acrescentando alguma coisa, o eu é aquilo que pensamos ser mais intimamente, mais verdadeiramente, mais imutavelmente, para lá deste mundo corpóreo. Assim, pensamos que não é uma substância, se sequer é uma substância, corporal, mas incorpórea e que, de algum modo, está fortemente ligada ao corpo que também somos.
No fundo, pensamos que o eu é aquilo que somos necessaria e essencialmente, enquanto que o corpo é aquilo que somos contingentemente. E é verdade que o corpo é um objecto contingente, na medida em que, a não crer no determinismo, poderia não ter vindo a existir.
Penso que a grande questão é: a que se refere a palavra "eu"? A que me refiro quando digo "eu"? E, fora de ilusões, no quotidiano, quando o dizemos, referimo-nos a este conjunto de mente e corpo que cada um de nós aparentemente é. Mas o eu, reflectindo, não parece tanto ser esse conjunto mas, antes, aquilo ao qual se reportam todas as consciências, e que está para lá delas, na medida em que estas são consciências para mim.
A consciência de si parece ser consciência pura, na medida em que o si é si porquanto é si para si. Parece tratar-se de uma operação da consciência que, aparentemente, se reflecte sobre si mesma, dizendo: eu existo.
[Nota póstuma: ficamos com a clara impressão de que o eu é nada mais do que a consciência de si. Mas, ao termos deslindado o significado da palavra "eu", fica por deslindar o significado da palavra "si". Ou seja, não adiantámos muito, apenas no aspecto em que a consciência é uma condição necessária, mas talvez não suficiente, para que existam eus.]
Quando estamos acordados, estamos acordados para o mundo e adormecidos para o mundo dos sonhos que, provavelmente, nesse momento nem existe. Temos consciência de nós enquanto corpos e seres pensantes mas, ainda assim, colocamos as questões: quem sou eu? O que sou eu?
Em ambos os casos, não temos plena consciência de nós ou, então, a consciência de si não pode ser plenamente dita mas, apenas, talvez, sentida, consciencializada. Ainda assim, sou céptico e creio que é provável que nunca tenhamos plena consciência de nós (talvez por sermos abismo, infinito?), ou não colocaríamos as questões.
Não sei se existo desde sempre nem para sempre, e creio que, pelo menos neste corpo, isso é um facto. A pergunta pelo eu é uma pergunta em que se intenta ir além do fenoménico e encontrar alguma transcendência, algum sinal de vida para lá deste mundo.
É, também, uma pergunta perfeitamente natural, já que indagamos sobretudo e, assim sendo, por que não indagarmo-nos sobre nós mesmos, a nossa natureza? Penso que, quando se pergunta pelo eu, pergunta-se sobre a nossa natureza última e íntima, com a qual nos queremos identificar, o que ainda não acontece - como podemos identificar-nos com algo que desconhecemos?
Não sei se o eu existe ou não existe, creio que existe, porque existo e penso que sou um eu; pelo menos sou eu para mim. Repetindo-me e acrescentando alguma coisa, o eu é aquilo que pensamos ser mais intimamente, mais verdadeiramente, mais imutavelmente, para lá deste mundo corpóreo. Assim, pensamos que não é uma substância, se sequer é uma substância, corporal, mas incorpórea e que, de algum modo, está fortemente ligada ao corpo que também somos.
No fundo, pensamos que o eu é aquilo que somos necessaria e essencialmente, enquanto que o corpo é aquilo que somos contingentemente. E é verdade que o corpo é um objecto contingente, na medida em que, a não crer no determinismo, poderia não ter vindo a existir.
Penso que a grande questão é: a que se refere a palavra "eu"? A que me refiro quando digo "eu"? E, fora de ilusões, no quotidiano, quando o dizemos, referimo-nos a este conjunto de mente e corpo que cada um de nós aparentemente é. Mas o eu, reflectindo, não parece tanto ser esse conjunto mas, antes, aquilo ao qual se reportam todas as consciências, e que está para lá delas, na medida em que estas são consciências para mim.
A consciência de si parece ser consciência pura, na medida em que o si é si porquanto é si para si. Parece tratar-se de uma operação da consciência que, aparentemente, se reflecte sobre si mesma, dizendo: eu existo.
[Nota póstuma: ficamos com a clara impressão de que o eu é nada mais do que a consciência de si. Mas, ao termos deslindado o significado da palavra "eu", fica por deslindar o significado da palavra "si". Ou seja, não adiantámos muito, apenas no aspecto em que a consciência é uma condição necessária, mas talvez não suficiente, para que existam eus.]
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3 comentários:
Anónimo
Camélia
Aceitamos a ideia de sermos algo na medida que somos essenciais neste universo.
Será conveniente encararmos o facto de que o valor da existência é transitivo, pois á presente passado e futuro.
Tudo muda nada permanece, assim se se justifica que nada somos.
Mas quem me diz que a conciência, imaginação, sentidos...fazem parte do Eu ou também nada são?...
O corpo deteriora-se, claro que nada é. A essencia não será tudo?
DE onde advêm a possibilidade sermos e existirmos?
Por não sermos eternos não significa que não existamos. Eu também posso crer que tudo está em fluxo mas que, enquanto é, é. É, nem que seja no instante. Mas que parece ser verdade que tudo é impermanente, parece.
Nada é coisa nenhuma. Não há coisa alguma que seja coisa nenhuma. Apenas é por momentos e depois desaparece, como que por magia. É o tempo.
Não sei de onde advém a possibilidade de sermos e existirmos.
A possibilidade de ser é um incómodo sério que varia na proporção inversa dos resultados tardios do crescimento económico das flores de estufa, sobretudo quando perspectivadas nas horas tristes, sem depósito. Mas há boas perspectivas de aumento. Ou não.
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