O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 14 de março de 2008

Antonio Ramos Rosa

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.

5 comentários:

Anónimo disse...

ana!
houve um grupo português que musicou esse poema... é excelente!

e sempre que leio este poema, canto para mim

Ana Margarida Esteves disse...

Qual?

Anónimo disse...

Um belo poema da brasileira, Hilda Hilst...agora que é tempo de poesia e o Brasil te espera.

Se for possível, manda-me dizer

Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia
- Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite.
Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova
- E revestida de luz te volto a ver.

Hilda Hilst

Ana Margarida Esteves disse...

Grande Hilda Hilst:-)! Uma mulher de tal sabedoria que parecia irma gemea do Manuelinho.

Muito obrigada, obscuro!

JoanaRSSousa disse...

chamam-se linha da frente, ana!