sábado, 22 de março de 2008
pássaros com maçanetas de cristal
um pássaro
é uma porta
que dá para as traseiras de mim
para as veredas do sem-fim
onde as viagens pingam gotas de suor
feito de ervas e calor rasteiro
de quando o mundo se entorna
nas tardes repletas de Maio
basta deixá-lo entreaberto
entre o susto de de repente
e o súbito cântico sem destino
para as velas de estar à escuta
me rasgarem espaços de não voltar
e todos os pássaros
todas as nuvens
todos os ventos
tudo o que tem rasguras no nome
explodem de mim
retalhado de agora e de nunca ter sido
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1 comentário:
Sobre esta fotografia, sobre este olhar cheio de alma e luz, só talvez uma oração se cumpra dentro de mim. Tem tudo o que vi no mundo na infância. Na minha infância cheia de contemplação e sossego. Na minha infância sem tempo. Não só na infância biológica, mas seguramente na infância da alma. O que dizes é, ou tem a flor de amendoeira em cada sílaba a despontar. As do Van Gogh e as das escarpas de Barca d'Alva.
Sobre os cegos sei que percebi, como Junger, que todos deveriam ir ao Egipto, por ser uma terra de luz. diz este autor: "O conhecido quadro de Breughel em que os cegos se precipitam na água comos e fosse um elemento hostil, tem especial profundidade, e o facto de o Egipto ser uma país aconselhado para as doenças dos olhos explica-se talvez mais de outra forma do que pelas razões aparentes."
Paulo, também convivi com cegos, na Faculdade e com uma aluna. Tinha um lado trágico de Tirésias, a Ana. Linda e visionária. Luminosa a pensar e ser. E, agradeço ao Professor Carlos João ter-me dado o papel de Tirésias num seminário da Faculdade. Foi, decididamente, dos dias mais marcantes da minha vida universitária. No outro dia fui ver a Antígona e quando Tirésias apareceu estremeci e chorei. Há, seguramente em nós, memórias de cegos que nos abalam e fazem ver para além dos limites da luz. Obrigada pelo que deixaste ver.
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