terça-feira, 8 de setembro de 2009
Ouro Mundano
«Espantam-se os utopianos de que seres razoáveis possam deleitar-se com o fulgor incerto e vário de uma pedra preciosa, quando lhes é dado fruir da luz das estrelas e do Sol. Consideram louco o que se julga mais nobre e mais digno de apreço por se cobrir de lã mais fina. Admiram-se de que o ouro, de sua natureza inútil, tenha adquirido valor fictício tão considerável, chegando a ser mais estimado que o próprio homem, embora tenha sido este que lhe deu aquele valor e o utiliza segundo lhe apraz.
Tomás Morus, A Utopia, tradução de José Marinho, Guimarães editores, Lisboa, pág.103
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4 comentários:
O valor do ouro é tão fictício quanto o das estrelas, dado que somos nós que atribuimos valor a ambos. Mas as estrelas são mais originárias e por isso têm mais valor actual, dependemos mais delas que do ouro e o próprio ouro depende delas. Elas por sua vez são mais independentes. Estarão mais próximas de Deus?
Adoro estrelas.
Provavelmente não há nada mais divino no mundo material do que uma estrela. A própria vida vem delas.
O pôr do Sol é como uma morte, um adeus ou um até já. O Sol nasce e morre em mistério. O seu nascer é lânguido e cheio de vontade. Mas o próprio sol é parte de um sistema e não é O anterior. O anterior é só acessível pelo pensamento, e é uma espécie de escuridão ou de luminosidade, ou talvez uma espécie de nada. Nada que conheçamos mas um sentimento que conhecemos, nada aí fora, mas tudo aí fora, a consciência total, ou a inconsciência de uma única coisa ou de tudo numa única coisa, e alheamento de tudo o mais. Como quando nos concentramos muito sem que nos apercebamos que estamos concentrados, como um surfista que frui o apanhar de uma onda, absorto de tudo o mais, só existe ele e a onda. Só existe o sentimento que isso, eles, gera. Ascensão ao puro sentimento. Libertação pelo puro sentimento. Libertação constante de puro sentimento, ser constantemente puro sentimento. Sim, já estou a exagerar.
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