O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 22 de setembro de 2009

votar é como mijar contra o vento

21 comentários:

Joana Serrado disse...

depende, se for uma rapariga, o efeito ate pode ser bastnte purificador.

Luiz Pires dos Reys disse...

Eis uma excelentíssima resposta dum ser que pensa de todo o modo e em qualquer circunstância (a favor ou contra todos os ventos e marés, e de forma "bastante purificadora") a um ser que, ao que se afigura, pensa melhor a "regar as malvas".

Não sei se haverá cabines de voto com mangueira. Por isso, deixo aqui um conselho: tratará o votante de levá-la em si ou consigo. Caso contrário, tal como a burra, assim fará o retorno do voto: "mija para trás"!

Agradeço a definição a baal, mas tenho por hábito "aliviar-me" antes de sair.

Obrigado, Joana, pela superior resposta, de quem é mais prevenida e menos atreita a "aflições" e "apertos" de última hora: à boca das urnas ou à face do(s) vento(s).

João de Castro Nunes disse...

Só mija contra o vento... quem quer! JCN

baal disse...

é uma frase do tempo em que havia imaginação (1975), de um partido que já não existe (prp-br, partido revolucionário do proletariado-brigadas revolucionárias), mas caro damien pode optar por outra frase do mesmo partido:
'se o voto á a arma do povo não votes, senão ficas desarmado'

como disse deleuze 'a filosofia é um devir revolucionário'

baal disse...

eu diria jcn, que cada um mija como pode e a mais não é obrigado.

João de Castro Nunes disse...

Por isso é que, para não dar o meu voto a ninguém, mijo... para o ar! JCN

Joana Serrado disse...

eu tenho de urinar agachada. Como o voto.

Anónimo disse...

De facto, é com algum "pudor" que me meto na já "enjoativa" conversa do "mija para onde calha" e "como pode".
Sendo da equipa do "mijo purificador":) Tenho uma frase que configura uma adivinha, acerca dos belgas que faz perigar ainda mais o acto do voto em si (risos. Dizem os holandeses para gozar com os belgas: "Sabem porque é que os belgas têm os joelhos amarelos?... Pois é...é por "mijarem contra o vento..." Se calhar... são dos que votam muito... hum! não sei.

Então... o resultado aqui pode muito bem ser o de o eleitor, para além de poder ser enganado nas suas justas expectativas de melhoria de vida, entre outras... ainda agrava a situação (se o caso se repete com frequência) de vir a ficar com os joelhos de chinês (que não é amarelo como se sabe...)

É mesmo só uma brincadeira... não deixem de votar, ou não deixem de votar "bem", pois parece que não há vento, dizem! que eu....

Um riso e um sorriso

Luiz Pires dos Reys disse...

Sim, baal, em 75 havia muita "imaginação".

Por isso, é que nos imaginaram assim como estamos. E trataram de cumprir a coisa, direitinha.

O PC imaginou-nos todos comunistas e muito salazarentamente carneirinhos, mas a realidade encarregou-se de imaginar o PC de outra maneira.

Os outros "partidinhos", esses, imaginaram-se muito sebasticamente salvadores da pátria e houve gente muito pouco sebastiânica (dizem os tais!) que acreditou que tudo os salvaria menos D. Sebastião: acho que calçaram as peúgas do avesso.

É nisso que estamos: do avesso!

Concordo, baal, em que o voto é um suborno com que nos compram os sonhos, sem nos venderem senão pesadelos e patavinas, e é sobretudo um logro, como tão bem defendem anarquistas e alguns outros malucos muito provavelmente bem lúcidos.

A questão é: alternativa a isso, há? Com estas regras de jogo? Não creio!
Há, pois, que baralhar e dar de novo!

Bem, há sempre aquela boa maneira à Far West: Alcatrão e peninhas nestes senhores todos!

Paulo Borges disse...

Confesso que a frase me diverte muito, eu que alterno entre praticá-la e não... Conforme os ventos ou a sua ausência.

baal disse...

a culpa é da filosofia damiem, passo a tentar demonstrar, a filosofia (ontologia) quando perguntou pelo ser só criou hierarquias (estado, deus, patrões), partindo dos molares, dos universais, da univocidade do ser para nos convencer da transcendência. está na hora do rizoma, do plano de imanência, da criação que transforme a potência de ser em potência de ser feliz, sem deus, nem patrões.

João de Castro Nunes disse...

Imanentes conversas... de mijo! JCN

platero disse...

mictórica e ao que parece alentejana
:
Noite fria de Inverno, A vai da Vidigueira a Vila-de-Frades namorar.
O vento está de Vila-de-Frades para a Vidigueira.
A tem vontade de mijar, vira-se de costas para Vila-de-Frades, para mijar a favor do vento, vai mijando e andando, pára de mijar e continua andando, até que dá por si a chegar de novo à Vidigueira.

Verdade ou mentira foi assim que a ouvi contar, e dela, estória, me recordo sempre que vou de visita a S. Cucufate. De Vila-de-Frades um pouco para lá

Podem crer

Luiz Pires dos Reys disse...

baal, aquilo que você escreveu acima pode ser escrito ao contrário, às avessas ou às arrecuas, que nada muda em nada de nada, quanto me parece.

É mera substituição de escolástica, contra-escolástica ou anti-escolástica, ortodoxia ou heterodoxia ou paradoxia:
anda-se à volta do sempre mesmo no sempre outro.

Dizer que "está na hora do rizoma, do plano de imanência, da criação que transforme a potência de ser em potência de ser feliz, sem deus, nem patrões", perdoar-me-á, mas soa um tanto a "palavras de ordem".

Eu tenho a nada humilde teimosa de humilhar-me em ser teimoso e, por isso, não vou lá muito em ordens, sobretudo as das palavras.
Quando elas tentam afogar-me , eu vou-me a elas e... "suicido-as".


Quanto ao mais:

Rizoma? Pois sim: se as raízes estiverem, como nas árvores de Rilke, tanto na terra quanto no céu.

Plano de imanência?
Serve para...? Tem de ser "plano"? Não poderá ser uma fresta?
Parece-me que algo de algures emana de nenhures, para estarmos aqui a trocar códigos de barra semânticos. Isto é mais plano ou mais rombo?

Quanto a criação.
O ante-big-bang está a dar-se a todo o instante, em nós e em toda a parte da não-localidade do cosmos e dos universos e multiversos.

Que isso transforme "potência de ser" (isto é mais "Aristóteles" ou mais "Nietzsche"?) em "potência de ser feliz", parece-me relativamente indiferente. Potência é ja "potência de algo", como "consciência" é sempre "consciência de alguma coisa".
Mas num e noutro caso, é apenas um saco vazio: o que se põe lá dentro? Ou o que de lá sai?

Ser feliz, o que é? Boa pergunta. Sem resposta. Felizmente.

Quanto a Deleuze: gosto muito de vê-lo, arrumadinho, na minha estante.

João de Castro Nunes disse...

COUSAS DE VOTAR E MIJAR

Há quem mije contra o vento
e quem mije a favor dele:
quem não quer molhar a pele
mijar evite ao relento.

Mije em casa, que é melhor,
sem dar gostos a ninguém:
não precisa de se expor
a ser o gozo de alguém.

Se, porém, tem de mijar
fora de casa, ao ar livre,
mije lá... como calhar.

Pelo que a mim diz respeito,
oxalá que céu me livre
de não fazê-lo... ao meu jeito!

Autor... desconhecido, supostamente F. P. (folha volante).

JCN

João de Castro Nunes disse...

Eu, por mim, alteraria o último verso, dando-lhe a seguinte redacção:

de não mijar... ao meu jeito!

Atrevimento meu! JCN

baal disse...

as palavras são enunciados, a consciência (eu-subjectivo) está arrumadinha na máquina abstracta, não somos consciência, somos agenciamentos, não da máquina de turing, mas da máquina abstracta que é ante-lógica. às avessas muda o poder de ser e de existir, que só é este graças à filosofia 'institucional.
sobre ser feliz 'espinoza irá determinar dois pólos, alegria- tristeza, que são para ele as paixões fundamentais: a tristeza será toda a paixão, não importa qual, que envolva uma diminuição da minha potência de agir, e a alegria será toda a paixão envolvendo um aumento da minha potência de agir'

quanto à sua estante damien eu ficava de pé atrás com o deleuze, ele é bem capaz de a revolucionar, colocá- la às avessas.

João de Castro Nunes disse...

Já não será mijo... a mais?!... JCN

platero disse...

João Castro Nunes

resposta a desafio. Eu escreveria:
oxalá que céu me livre
de mijar barriga, peito...

de diurese basta

João de Castro Nunes disse...

Alinhando no desafio, proponho para o último tercet:

Pelo que a mim diz respeito,
oxlá que o céu me livre
de não mijar... a direito!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Ou, ainda:

de não mijar... a preceito!

À escolha. JCN