Ficou no fundo do mar
O grito suspenso do fim
O fio de luz e pranto
Não resistiu ao gume do contentamento
A última vontade de ser sem mais
A capitânia S. Gabriel naufragada
No cais antes da partida
Uma vida inventada ao sabor da espuma
Animada pelo vento sem dentro ou aconchego
Feito de bruma e sofrimento cristalino
O desejo é um barco e um berço
As barcas vão e se regressam trazem nos remos o hálito de nunca
O gélido arrepio dos que só se perdem depois
Pois se há um aqui é para isso
Nem paraíso nem inferno
Corpo combustivo lavrado de anímica impaciência
Alma feita de escuridade e esquecimento
Nem eternidade até
Nem o que seja água para matar a sede
Se se nasce não há saciedade que não seja regressiva
E só regressam os fantasmas
As almas penadas que acreditaram na morte
Não há véus que velem nem luz que dê a ver
As velas são para voar na flor das águas
Rumo à perdição
A Índia onde se jugulam as promessas
Onde os perdidos nunca se encontram
Não se perde o que não se tem
Só sente o que parecia seu
A explodir num voo de pombas de todas as cores
Susto de liberdade incontida a estilhaçar o céu
Para que choras os dias esgotados
É sem salvação o que vive para si
Não te agasalhes se a noite cair de repente
Se de dentro rebentam os diques da claridade contida
A força do ocaso leva tudo numa cavalgada de ser ninguém
Tirésias sabe o travo do beijo eterno de Ofélia
Enleada nas águas negras pelo som incandescente
Dos violinos que segregam a impossibilidade da aurora
Há que deixar no fundo o que é do fundo
As portas fechadas pelo medo são versos arrancados ao silêncio
Pelos passos dos que fogem da inquietação
Tomados pelo terror de serem só infinito
1 comentário:
É. Refúgio.
Este lugar do mundo é refúgio.
E é tudo aquilo que se pode dizer de um refúgio.
Ou é ficar em silêncio, neste lugar. Quem sabe naufragar, derivar, seguir no embalo*
E fotografia, Paulo!
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