O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

E... AGORA?!...

Quando o monarca D. João Terceiro
por desacatos que ele provocou
Camões fora da pátria colocou
mudando-lhe em degredo o cativeiro,

um escarninho riso sorrateiro
no rosto dos rivais se divisou
e toda a corte se regozijou
por ver-se livre desse arruaceiro.

O mal foi quando o Poeta, ao regressar,
na mão trazia, para os deslumbrar,
o poema que nas Índias compusera:

"Agora atirai pedras" - lhes reitera -
medíocres de engenho e de talento,
atirai pedras, montes de excremento!"

JOÃO DE CASTRO NUNES

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