O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

passagem


Dança rubra

As rótulas do tempo retesam os tendões da espera

Elevo-me na desgraça de ser no depois

A passagem para além não tem tempo nem espaço

Filigrana de lume a expectativa do fim

Tem mil braças a profundidade dum abraço

Pássaro de dentro no sem horizonte do esquecimento

Alado tudo o que margina a absolvição da treva

Vertido em redor em lava perfumada de incensos terminais

No passado no agora no que aí vem

Fique o que ficar será cinza à flor das águas do vau do instante

O salto a vasa o sem regresso que amortece a âncora do impossível

A morte a sorte o norte

A agulha de marear aponta o longe que no peito germina

Secreto regular pleno de tudo o que passa para sempre

1 comentário:

Joana Serrado disse...

gosto da ideia que o tempo tem rótulas, articulações.