O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 25 de outubro de 2009

Dedicatória


À Adraga do Meu Coração*








Hoje acordei e sou rocha.
Nem passado, nem futuro estampado no rosto. Talvez uma escarpa mais pontiaguda me denuncie, por entre as outras rochas. Ou talvez faça temer algum pescador que queira lançar a cana daqui.





Hoje acordei e sou rocha.
Há grãos de areia aos meus pés que foram pedaços de mim. E eu já fui feita dessa areia que o Mar leva daqui. Todos eles se misturam com outros grãos de outras rochas e com o Sal. Todos eles ganham nova vida depois de se soltarem de mim e fazem viagens que eu fico a imaginar daqui.





Hoje acordei e sou rocha.
Sou feita que um material do mundo que me escapa ao entendimento. Todos os minerais que me compõem, os sais, todas as pequenas quantidades de minerais dissolvidos ao longo dos séculos… tudo isso me traz o equilíbrio de que preciso para que não se dê o colapso.





Hoje acordei e sou rocha.
A textura e a estrutura com que acordei hoje é de uma verticalidade que me assusta. Sempre tive vertigens. Sempre tive medo das alturas.





Hoje acordei e sou rocha.
Fragmentada, com alguma inclinação, provocada pela erosão dos dias e por vulcões desconhecidos. Todos os dias e todas as noites, os ventos fortes me trazem e me levam outras partículas da terra e do mar.





Hoje acordei e sou rocha.
Sem me importar com clareza com a força ou a suavidade com que as ondas me tocam.
A suavidade traz um manto branco e puro que me tapa a escuridão da pele. E a força traz os salpicos que me enfeitam e me dão o brilho ocasional que uma rocha tem em frente do sol-pôr.





Hoje a cordei e sou rocha.
A dureza não me deixa satisfeita, a resistência também não.
Mas ter os olhos cheios de Mar, ser quente, a ferver de beijos do Sol, vê-lo descer e colorir o horizonte a cada dia, ver chegar a Lua e dormir com ela, faz-me sonhar sem querer ser outra coisa.


10 comentários:

platero disse...

tudo lindo:
os textos e a Praia

Paulo Feitais disse...

Faço minhas as palavras anteriores, acrescentando o olhar...
:)

Anónimo disse...

Belas e lindas palavras. Mais linda a Sereia, mais belo o mar. Na areia e na ecarpa, na pedra e no degrau de si veio sentar.

A Sereia chega com uma luminosa onda... e vem a cantar.

Que belas areias e mar vêm aqui dar!

Um beijo de sal e uma rosa no olhar.

Semente disse...

:)

queridos amigos, obrigada pelos sorrisos.
Encontrei-vos à beira-mar, hoje.
Que bom!

beijinhos aos três*

rmf disse...

Acrescento, mais um... parabéns!:)

Belo, tudo, e em conformidade com o teu olhar, que aqui, desejou ser de todos nós.

Um sorriso, um abraço e um rodopio! :)

Semente disse...

Rui,
em rocha, hoje, já durmo com a Lua.
O meu olhar é sempre belo neste lugar, porque o lugar é belo em si mesmo. E sempre que regresso à Minha Adraga, é com estas imagens que fico*

Anónimo disse...

Olha, olha!

Falhei!? Mas não totalmente, uma memória inconsciente levou-me a dedicar-te hoje a postagem acima.

Mas não tinha a certeza!... e tinha...
É?



Um abraço de sempre.

João de Castro Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
platero disse...

o pescador de cana
pesca a ILUSÃO
de Tubarão?

bjnº

Anónimo disse...

E depois temos as imagens fascinantes... lua e a pedra e a água: a luz que vem de tudo isso.
É isso, a Luz!

Outro beijo.