O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Lembrando-me de Baal: "O mais belo espectáculo de horror somos nós" - António José Fortes

Já não há tempo para confusões - a Revolução é um momento, o revolucionário todos os momentos.
Não se pode confundir o amor a uma causa, a uma pátria, com o Amor.
Não se pode confundir a adesão a tipos étnicos com o amor ao homem e à liberdade. NÃO SE PODE CONFUNDIR! Quem ama a terra natal fica na terra natal; quem gosta do folclore não vem para a cidade. Ser pobre não é condição para se ganhar o céu ou o inferno. Não estar morto não quer forçosamente dizer que se esteja vivo, como não escrever não equivale sempre a ser analfabeto. Há mortos nas sepulturas muito mais presentes na vida do que se julga e gente que nunca escreveu uma linha que fez mais pela palavra que toda uma geração de escritores.
A acção poética implica: para com o amor uma atitude apaixonada, para com a amizade uma atitude intransigente, para com a Revolução uma atitude pessimista, para com a sociedade uma atitude ameaçadora. As visões poéticas são autónomas, a sua comunicação esotérica.

António José Forte, "Uma faca nos dentes"

4 comentários:

baal disse...

'contra o horror a revolução'

pois é nada se pode confundir, mas é suficiente uma visão autónoma e uma comunicação esotérica?

para o revolucionário individualista é a 'palavra de ordem' que é fundamental, a poesia (actualmente) não se faz com megafones mas sussurando, é esse o seu segredo, é preciso gritar reduzir a poesia a 'palavras de ordem' que contribuam para a destruição deste sistema. convenhamos que não é esse o caminho da actual poesia.

para os que não sabem ler, a palavra de ordem.
(apesar de a conhecerem melhor que nós)

para os amantes a acção.
( apesar de a realizarem melhor do que nós)

para os amigos o combate.
(apesar de deles precisarmos para a revolução).

Joana Serrado disse...

a poesia não sussurra, e não podemos pensá-la em termos de tempo ( o que é a poesia actual? as gerações? o sangue novo? não interessa `a poesia sempre essa "ordem de palavras" eternas.

acho que um poeta e poetisa (reforço esta particularidade do ser)


nunca sabe ler, apenas escrever

nunca age, apenas ama

combate (e a amizade ai não vejo que seja tão diferente do amor...a não ser para sexualidades mais reprimidas, que precisam de estabelecer a diferença)

com uma faca entre a os dentes ou a língua

baal disse...

também não pensamos a filosofia temporalmente,a história da filosofia é inexistente a problemitazação repete-se, só mudam os filósofos como mudam os poetas ( o ser diz-se de muitas formas).

os combatentes não são poetas e a sexualidade não é reprimida é sublimada fora da luta.

com uma faca na manga.

Ana Margarida Esteves disse...

Olare, como isso e verdade. Pena que nos esquecamos disso com tanta frequencia. As psicologias de trazer-por-casa e os livrinhos de auto-ajuda andam sempre a nos dizer para nos olharmos pelo menos uma vez por dia ao espelho e dizer-mo-nos o quanto somos maravilhosos. Nao seria muito mais saudavel o termos como ritual diario cuspir na nossa propria imagem para nos lembramos do quanto somos banais, limitados e substituiveis?