O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

aí está o OUTONO


com o strip-tease arbóreo
os plátanos os áceres
as sensuais catalpas vestidas só de frutos
os ulmeiros
as onomatopaicas olaias cujas folhas
são páginas inteiras de ÓOs

as cores vivas das montras
contra o nevoeiro-cinza que enche as Ruas
rolos de edredons
manequins vestindo peles pela primeira vez:
raposas martas astrakhans

os cães dos fumadores de haxixe
e os donos-companheiros
junto às fontes da cidade

o vento fresco varredor de folhas de árvores
e do som metálico das horas
dos relógios das igrejas

mas sobretudo
o cheiro feromonico
do fumo acinzentado
das castanhas

aí está o Outono
e entra-nos no sangue

9 comentários:

Anónimo disse...

O Outono! Em sentido "literal"?
(riso)

O Outono da cidade é uma aparição de toda a realidade a bater-nos na "cara do entendimento" mal tivemos tempo para nos desviarmos das folhas: de ácer, de plátanos, os ulmeriros e... todas as de folha caduca... (o melhor é não me adiantar muito para não tropeçar... nem fazer confusão entre as caducas e "as caducas"... ou entre elas e a mais confessada ignorância dos nomes das coisas que são árvores de "outonar".

O cheiro inconfundível das castanhas!
Caem as sombras de outono!

Entra no ar o cheiro
das castanhas...
Não tarda a anoitecer...

Um beijo dado no vento,
em cinza e nevoeiro!
Anoitece!

A folha caiu da árvore
o pássaro tremeu
O vento traz a chuva!

...

platero disse...

lembras-te do Portugal amarelo por dentro - das tintas e do fumo - eu fumava cachimbo, expelia fumo que nem máquina dos Caminhos de Ferro a caminho da Casa-Branca

O portugal era um Café de outono-inverno. das mesas de mármore húmidas, do pavimento escorregadio,
da atmosfera condensada do ar da respiração e do fumo do tabaco.

lembro-me de te justapor à Maria dos versos do nosso RODAPÉ, e de ter sentido uma lagriminha muito saudável escorrer-me pela cara abaixo. É bem possível que fosse Outono e as ruas já estivessem cheias do fumo das castanhas
se não, também não faz mal. é para isso em parte que serve a poesia

o beijo que me mandaste era " no vento"
ou "nas ventas"?

beijinho sério para ti

Anónimo disse...

Ó Platero!!!
Não se pergunta!

Estás muito pessoano, hoje:

"Ventas nas Pias!"

Lembro, mas parece que não era eu... e era...

rmf disse...

Ulmeiros, os negrilhos, por terras de montanha rareados;
olaias, ou árvores do amor e o limbo córdico;
catalpas, e a linearidade dos frutos;
uma ávore longal que branda aroma às folhas,
o perfume das castanhas que cinzam o olhar ‘outone’,
um quente interior vazio que gira por entre as formas.

em dedicatória

Abraço amigo!
um sorriso à poetiza.

João de Castro Nunes disse...

Que doce que é o outono
com as folhas a cair:
dá vontade de ir dormir
um reconfortante sono!

JCN

platero disse...

JCN

despem-se as árvores nas Ruas
nos Parques na Avenidas
certas mulheres bem vestidas
sem que o pareça andam nuas

platero disse...

RUI MIGUEL

Feliz por te ter inspirado
brilhante comentário

abraço

antiquíssima disse...

Em cada ser que nasce há um Outono que se augura e chora.

João de Castro Nunes disse...

Quem dera, meu caro e admirado PLATERO, que fosse sempre OUTONO... com folhas a cair das árvores e lindas mulheres a ver as montras muito bem vestidas... embora ao mesmo tempo discretamente nuas! Sempre Outono... com castanhas transmontanas em terras transtaganas! Que delírio! JCN