O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

No fio do sagrado

Descalça-te

dirige-te ao mais secreto íntimo

a caminho contemplarás
e verás que tudo o que pode desabar está sempre por um fio

o fio partir-se-á quando chegares
e logo saberás que nada desaba.

4 comentários:

Rasputine disse...

"O mundo é mundo por um triz" - Teixeira de Pascoaes.

João de Castro Nunes disse...

E por outro triz... poderá deixar de sê-lo. Em cronologia cósmica... é daqui a pouco. Te arrenego! JCN

Luiz Pires dos Reys disse...

Como Lapdrey ficou "paralítico" - de tanto olhar 360º em volta, em todos os descritivamente geométricos sentidos, - venho eu aqui afiar a língua no fio da lâmina, perdão, do sagrado.

Começo por descalçar-me do indiscreto do passo: sem estardalhaço.

E, entre o esticar a corda do deslumbre habitual perante o lavrar de texturas por que Luiza se escreve, e o estar (sei-o) em tal visitação o meu desabe sempre por um fio, vejo-me chegar ali onde, a caminho do que nunca chega, o incompleto está sempre inteiro.

Sinto-me como timo no íntimo, e como se calçado de ver, na quase contemplação do segredo insolúvel que é o apenas chegar-se a porto de destino quando a corda se parta do rumo que, em puro desnorte, quanto mais nos perca mais nos faz encontrar-nos.

Obrigado, Luiza: sempre.

Anónimo disse...

Luiza,

Como por um fio do sagrado, assim nos movimentamos na dança silenciosa dos pés. Pode o mundo desabar que no fio da navalha o secreto íntimo sobreviverá... "mundo por um triz".

Saudades do caminhar descalço que nos trazes.