O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 27 de outubro de 2009

A interculturalidade

A interculturalidade não é nem folclore para descansar nem turismo para entreter. De facto, o encontro de culturas remonta aos alvores da história. Tem porém as suas dificuldades, sobretudo quando uma cultura se crê superior a outra - como tantas vezes sucedeu e não só nos nossos dias. Cada cultura é uma galáxia com vida própria. É portanto metodologicamente inadequado, ainda que por vezes possa resultar uma violação fecunda, aproximarmo-nos a uma cultura com as categorias de outra. Comove e aterra darmo-nos conta da confiança enorme que o Ocidente ainda tem nos seus instrumentos. É a força do mito. Porém os acontecimentos do mundo, depois da Primeira e sobretudo da Segunda Guerra mundial (que ainda designamos assim), estão a fazer perder ao "Primeiro Mundo" a confiança nos seus mitos e preparam-no para aproximar-se a outras civilizações com modos distintos dos da "missão", da "colonização" e do "desenvolvimento", ainda que seja apenas uma minoria sem força política a que clama que os velhos modelos já não servem para o entendimento, a paz e nem sequer para o bem-estar pessoal. São muitos porém, ainda, os que imaginam, por exemplo, que os direitos humanos, tal como "nós" os formulámos, são universais; e agora, com a melhor intenção, os querem ampliar a uma "ética global", quiçá porque ainda cremos que o mundo é redondo - e nós o seu centro"

- Raimon Pannikar, La experiencia filosófica de la India, Madrid, Trotta, 2000 [1997], p.13.

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