O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

FARISAÍSMO

Para não ter de louvar
uma obra de arte qualquer,
o fariseu... na intenção
de não tomar posição,
desvia dela o olhar
para nem sequer a ver:
não se vá... comprometer!

Ainda há disto por cá
e certamente haverá!

JOÃO DE CASTRO NUNES

6 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Que barretada!... JCN

Anónimo disse...

Como tem passado, JCN?

Que mauzinho me saíu! JCN ...
O barrete é de campino, é?
Ou é mesmo frígio...

Temos poética farisaica?
Há por aí bi-barretes?
(risos)

Agora a sério, Doutor:

Louve quem louvar a obra
Arte só é se qualquer
Não fariseu que use o eu
Possa enfim ter posição
De procurar a melhor
Em rima e dedicação
Desculpe a hesitação.

Ainda há e haverá
Quem brinque com sedução!

(Serpentes que voam... baixinho!... JCN!)

Abraço, JCN!
Não quero ferir nem magoar a sua "malignidade".

Atirem pedrinhas, em chuva!
Que faz tanta falta neste deserto!

Um sorriso para si que tanto me fez rir de novo, ao ler os comentários de... ontem?

Anónimo disse...

Riso puro, aberto e transparente, JCN!

Em Saudade.

João de Castro Nunes disse...

Permita-me, "saudadesdofuturo", que, conquistado pelo seu "riso puro, aberto e transparente", transcreva para si esta "jóia de alto preço":

Minha mulher a tudo achava graça:
como criança de alma ainda pura,
em todo o sítio ou em qualquer altura,
de tudo ria, menos da desgraça.

Eram faladas suas gargalhadas
que, atravessando portas e janelas,
faziam ressonância nas estrelas
e eram pelos anjos escutadas!

Se em vez de ser católico romano
eu presumisse de pagão profano,
sabeis o que diria a esse respeito?

Que o dom de rir assim, de peito feito
e alma sã,
sem ânimo de ofensa,
era dos deuses... uma recompensa!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Pedras, não! Já desisti de construir a minha casa "à beira-mar / para o resto da vida lá passar". Já me resignei a um pequeno apartamento citadino. Que fazer das pedras entretanto arremessadas... pelo Damião (de Góis)?... Os meus respeitos, que lhe são devidos. JCN

João de Castro Nunes disse...

Uma pérola sua, saudadesdofuturo, vale bem um chuveiro de pedras... maldosamente arremessadas... contra indiferentes e inatingíveis moinhos de vento, que não param de girar. Uma pérola... por mil pedradas! JCN

rmf disse...

Não me esqueci, João.

Ainda da conversa sobre os 'Santos', e deste soneto que aqui nos apresenta.

Pedia-lhe encarecidademente que, se possível, desse continuidade a este prenúncio de possível poema Camoneano. Digo, nunca o experimentei nem à sua lei.

Digo-o imperfeito, tal qual a distância que por vezes aproxima a alma de quem escreve. A noção da cor no resultado prático da luz, a visão das imagens que renascem da tela como imperfeitas obras de criação, tão verdadeiras e sublimes que até fariseus se afastam delas.

Gostei deste seu poema João, abraço.

Imperfetto

Gasto em frente a uma parede despida
Deteve-se Homem visto em passagem
encantado pela forma da miragem
Que a olhar se destacava fenecida.

(...)