O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

The King of Gaps

There lived, I know not when, never perhaps -
But the fact is he lived - an unknown king
Whose kingdom was the strange Kingdom of Gaps.
He was lord of what is twist thing and thing,
Of interbeings, of that part of us
That lies between our waking and our sleep,
Between our silence and our speech, between
Us and the consciousness of us; and thus
A strange mute kingdom did that weird king keep
Sequestered from our thought of time and scene.

Those supreme purposes that never reach
The deed - between them and the deed undone
He rules, uncrowned. He is the mistery which
Is between eyes and sight, nor blind nor seeing.
Himself is never ended nor begun,
Above his own void presence empty shelf
All He is but a chasm in his own being,
The lidless box holding not-being's no-pelf.

All think that he is God, except himself.

- Fernando Pessoa, Poesia Inglesa, I, edição e tradução de Luísa Freire, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, p.280.

arevistaentre.blogspot.com

6 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Ainda me fico... pelo Manuel Bandeira! De longe! JCN

antiquíssima disse...

De longe ou perto ninguém fica. Tudo passa.

antiquíssima disse...

Só o Rei dos Intervalos não nasce nem morre. O intervalo, em que nada acontece, é o melhor do espectáculo inútil e prodigioso da vida.

João de Castro Nunes disse...

Reis destes... só na cabeça de vento do Pessoa, nos "intervalos" das etílicas libações! "Vou-me embora para Passárgada"! JCN

antiquíssima disse...

Todos pensamos ser alguém. Excepto o que realmente é.

João de Castro Nunes disse...

Essa... parece da Biblia de... Saramago! JCN