O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

É possível escapar à sombra. Basta não te acrescentares à transparência.

2 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

Belíssimo pensar, e não menos belíssimo modo de dizê-lo.

Na verdade, é à visibilidade, ao ter peso, ao ocupar o seu espaço que tudo nos apela na vida comum. E porém...

E, porém, é na invisibilidade que mais nos é dado ver, é na leveza que melhor ponderaremos, e em não ocuparmos espaço que mais nitidamente se nos mostra o verdadeiro sentido do próprio, de propriedade e até de território.

Quanto mais invisíveis, leves e insituáveis somos, mais se nos mostrará a transparência, que é, mais do que uma presença, a presença duma ausência: a ausência da opacidade e, logo, também da própria sombra e da sombra própria.

Pois quem seja luz apenas cria sombra naquilo ou em quem tenha vulto, que a configure.

Daí que baste "não [nos] acrescentar [mos] à transparência”.

Paulo Borges disse...

Damien, este comentário torna tudo transparente.