segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Os cães
"- Tu notarás, continuei eu, esta natureza no cão, digna de admiração num animal.
- Qual natureza?
- Esta: ele rosna quando vê um desconhecido, embora dele não haja recebido nenhum mal, enquanto que acarinha aquele que conhece, mesmo que dele não haja recebido nenhum bem"
- Platão, República, 376 a.
- Qual natureza?
- Esta: ele rosna quando vê um desconhecido, embora dele não haja recebido nenhum mal, enquanto que acarinha aquele que conhece, mesmo que dele não haja recebido nenhum bem"
- Platão, República, 376 a.
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5 comentários:
Filosofia é sobretudo lucidez?
Platão teria lido Pavlov?
abraço
Temos muito que aprender com os cães. Diógenes soube-o bem.
Pena que o termo ‘cinismo’ tenha sido tão distorcido para poder servir para designar certos aleijões de carácter. Isto sem moralismo.
A vida entre humanos não deveria ser uma troca, nem a convivência um cálculo.
Vendo bem, desde a época de Platão até este nosso tempo, o termo ‘filósofo’ também sofreu adaptações sucessivas. Hoje designa um bicho que se move numa selva muito pouco silvestre.
Um bicho avesso à sua própria bicheza, uma máquina mental de catalogar, de repetir, de etiquetar, de divagar. E que se leva muito a sério.
Talvez a virtude que hoje importa mais na Filosofia (entendida sem a tralha toda que lhe meteram na bagageira) seja o riso. Filósofo será aquele que sabe rir-se de si. Em si. E não só para si. A tal seriedade é uma espécie de bicha solitária que se nutre do que poderia fazer nascer uma alma nas caixas cranianas demasiado engrenadas e seguras do seu papel pensante. Talvez o pensamento deva assumir-se como passamento - a morte, essa excedência que alimenta o riso, Vladimir Propp viu-o bem – como passagem. Para onde? (A resposta que
cada um encontre é capaz de dar vontade de rir).
:)
Entre a vigia do adverso, real ou ilusório, com justa prontidão para a defesa ou o ataque - em função da mais nua identidade sua ou identificação de quanto o perigue -, e a mansidão que, pronta, nele se abre ao confiável que o doma ou amansa, está, creio, um certo pendor canino em todo o homem: em ser, caninamente, o mais perfeito guardião de sua íntima cidadela.
Diógenes, diz-se terá procurado por um homem, com uma candeia, em pleno dia...
Procurava um homem íntegro! Uma criatura do mundo, naturalmente, não de uma cidade específica... um país...
Os cães são pois bons exemplos para o homem: a sua "fidelidade" é canina! A si mesmos e ao "seu" sol que não pode ser dado nem tirado por ninguém deste mundo! Mas que pode ser encontrado na utopia de uma "anarquia vivida" e sonhada.
Gostei deste passeio "canino":)
Publiquei este excerto a propósito de certos acontecimentos recentes e de sempre em certo blogue...
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