O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 8 de setembro de 2009

imanência

não é a consciência que é luz, não é ela que ilumina, são as coisas que são luminosas por elas mesmas,é a luz que é consciência, uma consciência imanente à matéria.
em vez de ser a consciência-sujeito que forma imagens das coisas, são as coisas que em si são já imagens, figuras de uma matéria-luz em incessante propagação como plano de imanência da realidade.

5 comentários:

guvidu disse...

baal, namastê :)
tudo é luz, mas tb opacidade...
concordo no que citas qdo referes a «incessante propagação como plano de imanência da realidade», por essa luz-transcendência...certo?

baal disse...

boas, fragmentus
quase... é a partir da imanência daquilo que é, que existe percepção.
o eu é subtraido a um campo transcendental que é plano de imanência, uma vida é um fluxo de velocidade e luz (matéria), a vida/sujeito( menor que uma vida) é uma actualização desse virtual.
o eu-transcendente é uma traição filosófica à imanência.

guvidu disse...

baal, deixa-me assimilar toda essa informação :)

Luiz Pires dos Reys disse...

Creio que insistir-se em estruturas frásicas que redudem em "definidoras" (com o modelo sujeito+ predicado+ complementos) é fadar-se o pensar à pouco vida e menor saúde ainda.

Com efeito, qual a real vantagem de dizer que “não é a consciência que é luz” mas que “é a luz que é consciência”? O que é que isso altera? A relação de origem? Será?

Alterará a consciência? Não, visto que esta carece, ao que parece, de/da luz.
A luz, entretanto, se é consciência (como diz o texto), e se a consciência carece da iluminação das coisas “que são luminosas por elas mesmas” – o que parece ser primordial e primeiro são, afinal, as coisas.

As coisas? Mas então as coisas são independentes da consciência? Estão na consciência? Não carecem elas, como se diz, de olhos para que se veja a luz e verificar que “são luminosas por elas mesmas”?
Mas haverá o visto sem o que o vê?
Há aqui um raciocínio um tanto "em uroboros", creio.

Sou capaz de concordar em que aquilo a que chamamos “matéria” é “matéria-luz”, como certas teorias científicas recentes tendem para "vê-la", mas é sobretudo assim que tradições antiquíssimas a entendem e experimentam há séculos e até milénios. Já uma das Upanishads diz:

"There is a Self(Atman)that is of the essence of Matter.
There is another inner Self of Life that fills the other.
There is another inner Self of Mind.
There is another inner Self of Truth-Knowledge.
There is another inner Self of Bliss."
(Taittiriya Upanishad, II, 1-5)


(continuo no comentário seguinte)

Luiz Pires dos Reys disse...

A título de exemplo (pedindo desculpa pela longa citação), eis uma passagem da obra magistral de Sri Aurobindo, “The Life Divine”, que nos pode aqui dilucidar, ao menos na melhor colocação das excelentes questões aqui suscitadas.
Obrigado, Baal.

“In a certain sense Matter is unreal and non-existent; that is to say, our present knowledge, idea and experience of Matter is not its truth, but merely a phenomenon of particular relation between our senses and the all-existence in which we move.

When Science discovers that Matter resolves itself into forms of Energy, it has hold of a universal and fundamental truth; and when philosophy discovers that Matter only exists as substantial appearance to the consciousness and that the one reality is Spirit
or pure conscious Being, it has hold of a greater and completer, a still more fundamental truth.

But still the question remains why Energy should take the form of Matter and not of mere force-currents or why that which is really Spirit should admit the phenomenon of Matter and not rest in states, velleities and joys of the spirit.

This, it is said, is the work of Mind or else, inceevidently Thought does not directly create or even perceive the material form of things, it is the work of Sense; the sense-mind creates the forms which it seems to perceive and the thought-mind works upon the forms which the sense-mind presents to it.

But, evidently, the individual embodied mind is not the creator of the phenomenon of Matter; earth-existence cannot be the result of the human mind which is itself the result of earth-existence.

If we say that the world exists only in our own minds, we express a non-fact and a confusion; for the material world existed before an was upon the earth and it will go on existing if man disappears from the earth or even if our individual mind abolishes itself in the Infinite.

We must conclude then that there is a universal Mind, subconscious to us in the form of the universe or superconscious in its spirit, which has created that form for its
habitation.

And since the creator must have preceded and must exceed its creation, this really implies a superconscient Mind which by the instrumentality of a universal sense creates in itself the relation of form with form and constitutes the rhythm of the material universe.

But this also is no complete solution; it tells us that Matter is a creation of Consciousness, but it does not explain how Consciousness came to create Matter as the basis of its cosmic workings.”

(“The Life Divine”, Ed. Sri Aurobindo Ashram, Pondicherry,1973, págs. 234 e seg.)