O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

lavra recém-desconexa: desenfreio da boca em exílio

(a Saudades, em irremediável futuro)


quisera
que cada horizonte fechado fosse abóbada celeste de mim ausente,
e fazer de cada crepúsculo irmão
das auroras infindas, onde sol e luz se beijassem
no trespassar mútuo das omnipresentes
fulgurações.

quisera
pensar-me lys em flor, no paraíso terreal, dia sim dia não,
onde houvesse apenas sombras às riscas,
na sombra que de mim foge apressadamente,
cavalgando sem freio aqui e em todo o lugar,
infindamente sem fim.

a entrada
por onde do labirinto se sai penetra antiquíssima
uma gruta convexa por dentro
– ali, onde os sentidos se a si não limitam,
ao tropeço no real - esse arlequim de todas esquinas
mais ínvias.

lassos
de eternidades tardias, eis chegam os guardiães
do ausente em todo o ser que se esperanseia
com as cores todas da vida, intactas num mealheiro,
dependuradas do olhar inseguro
da maré vasa.

conduzem
pelo sopro e pelo fogo frio que delas exala, à melodia
a que, múltiplos, os tempos seu manto aurífero entretecem,
e de que hão-de ser altar no serem jardim
em que ecoem os rumores do primaciar das fontes
inauditas.

D.


(com a alma agrafada ao céu da boca,
emudeço em tudo de cabeça para baixo,
suspenso dos antípodas de mim...)

5 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Não gosto de ler... "farfalhices"! JCN

Luiz Pires dos Reys disse...

Ainda hesitei em "dedicar-lhe" algo de semelhante jaez, mas depois pensei melhor e logo dei conta de que o desmereceriam, des-temido cavaleiro dos haruspícios verbais.

De resto, farfalhice não faz boa rima com nunice. Aliás, nem arrima: tão-só desarruma!

Isto, não vá alguém imaginar que me disporei a entretê-lo (a esse alguém, já se vê) com farfalheiras, que mais desaire e desastre causam (e causaram já) do que acerto...

Citando e parafraseando António Ramos Rosa, e para contradizê-lo (a ele, claro), direi:

" Nâo posso adiar o amor para outro século, não posso", mas posso adiar a palavra.

Ainda que me custe (e nada me custa, ainda que me custe), antes isso, do que adiar-me e sobretudo "odiar-me".

Antes isso, do que... "isto"!


P.S. Grato, pelo apreço de se ter dado à canseira de desfarfalhar leitura de tal farófia.

(O sentido de tudo está com quem o tem, e para quem o haja.)

baal disse...

contradizer o poeta do grito claro é chato.

cheio de medo damien? arrependido? houve uns que o foram e nunca mais existiram.

Luiz Pires dos Reys disse...

Duvide-se-me: que eu vos não exista!

Contradizer, porém, é uma chatice auto-consentida: não poética, portanto - ainda que num grito que, claramente, mais parece desfecho de autoclismo... sem papel... que torna mais claro ainda o próprio dejecto ... que nos (in)contradiz.

Medo? O medo é um quase arrependimento de ser.
E eu não sou. Não sou eu.
E eu, ...

João de Castro Nunes disse...

Lá está, vossemecê, senhor DAMIEN, a "fugir... pela porta do cavalo!... Olhe que ainda não são horas de "lanchar"!... Aguce o engenho, mais a pena... e deixe-se de barroquices... desafinadas e destemperadas. Afine o cavaquinho! JCN