O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal

Desnudas-te em fogo e nasces Deusa no berço das minhas mãos. Ajoelho-me ouro, mirra e incenso. É Natal.

18 comentários:

Anónimo disse...

Muito bonito!Dourado e sedutor. Eleva à Contemplação

Anónimo disse...

Maravilhoso!

Este, sim! É Natal e Quinto Império.

guvidu disse...

apaixonado...adorei!

Luiz Pires dos Reys disse...

Poeta!!
..."ajoelho-me (em) ouro, mirra e incenso"...

Anónimo disse...

É com grande e intenso júbilo que te recebo... Feliz Natal, Casto Severo.

Anónimo disse...

se ajoelhou tem de rezar - gabriel o pensador

Luiz Pires dos Reys disse...

Bom Anónimo, o ajoelhar não tem que ver directamente com o ajoelhar, meu caro, coisa que é sobretudo ocidental e mais sobretudo catolico-romanamente cristã.
A maioria dos povos, ou ora de pé, ou prostrado. Coisas bem diferentes.
O ajoelhar é coisa que decorre antes da honra, preito, obediência ou vassalagem que a algo ou alguém se preste ou queira vir a prestar.
Não confundamos, porém, o calo no joelho com o ardor no coração: assim também não confundiremos certas práticas, que apenas comprometem quem as queira manter, com o uso que se dê à prática de amiúde ser nobre no sentir, pensar, falar e agir, e jamais ser submisso a algo que não a nossa própria honra de ser.
Tal como alguém escreveu: importa-nos sempre estar "de pé, sobre os joelhos".

De novo: ..."ajoelho-me (em) ouro, mirra e incenso"...

Perante o Sem Nome, mas não anónimo, estou de pé, ainda que prostrado, tal como me prostro perante uma flor, que a Esse mesmo glorifica... no simples ser, de estar sendo... ela mesma, natal de si...

Anónimo disse...

maravilhoso, Laprey, arrependi-me da brincadeira com este excerto:

"Perante o Sem Nome, mas não anónimo, estou de pé, ainda que prostrado, tal como me prostro perante uma flor, que a Esse mesmo glorifica... no simples ser, de estar sendo... ela mesma, natal de si..."

(só fiquei na dúvida do "estar sendo,...ela mesma, natal de si...")

que o Bem o proteja sempre em Sabedoria e Amor!

Anónimo disse...

Vocês não se curam!?

Luiz Pires dos Reys disse...

Não, Dr, o que cura não carece de cura.
Besides, we feelgood, Dock!

Luiz Pires dos Reys disse...

Caro Anónimo, necessidade alguma de “arrependimento”, aqui. Ao menos de tal jaez.
Baste-nos o “arrepio”, para o arrepiarmos caminho…
Por vezes, até o excesso e a brincadeira leva as coisas a um limite que lhes estilhaça a casca com que as atamancamos habitualmente da "patine" de inutilidade.
Sendo o caso, aqui faço o mea culpa.

Quanto à sua perplexidade em relação à flor "estar sendo, ...ela mesma, natal de si...", direi talvez o seguinte.

O "estar-sendo" do ser da flor “passeia-a” no tempo, qual seu perdurar no a-parecer do que nela jamais se mostra ou mostrará: propriamente, o Ser, o insondável de si.
No fio do tempo por que ela passa, repassa-a o incessante "fractal" de mutação vital a que ela está intrinsecamente sujeita, no contexto do Todo do "organismo" da Vida.
Na contemplação da natureza, como ela se nos dá, espelha-se em nós algo de nós mesmos, enquanto dadores de sentido às próprias coisas.
Assim, a flor, enquanto tal, isto é, enquanto imagem sensível de algo que nós identificamos coma palavra flor, “nasce” em mim a partir do sentido que eu lhe dou, sentido esse que lhe é conferido a partir do que ela me mostra e de como se me mostra.
No seu processo de existência vital nas sucessivas fases do germinar, brotar, crescer, florir, dar fruto, definhar e fenecer, a flor em todas elas está no seu intacto "tal-qual-ismo" pleno: está tal qual é.
Nisto é que dela é dito que nem Salomão se vestiu como qualquer uma delas, visto que o sábio rei se revestiu de algo que lhe era extrínseco, ao passo que a flor está nua de tudo, revestida apenas de si.
Ela não tem interioridade como nós. Ela é apenas o que se mostra e como se mostra, o que apresenta e como se apresenta, como se mostra e apresenta: o que poderá ser aqui ou ali "deficitário" é tão-só a nossa balança de "cognição", que sempre pende entre saber e ignorar, saber no ignorar, ignorar no mesmo saber, e as mais variantes desse "jogo" de reciprocidade.
A flor,essa, não se esconde, não se oculta: ela revela, se bem que, como tudo na natureza, nisso mesmo se re-vela.

(Talvez “filosofada” a mais, e elucidação a menos… Que lhe parece?)

Anónimo disse...

Parece muito bem, mas a flor parece melhor.

Anónimo disse...

caro Lapdrey tem 1 visão dicotómica da realidade, você não vale mais que a flor, só porque pensa!

Luiz Pires dos Reys disse...

Sabe, caro Anónimo (vale para todos eles, menos para um), eu adoro ser dicotómico, e unitómico também.

Tem dias... (e noites também...)

Para tricotómico (não tem nada a ver com tricot, ok?) estou a treinar afanosamente: isto, se aqui a "sociedade anónima" me der uma bela ajuda... como é costume.)

Anónimo disse...

Não se percam em discussões fúteis. Sigam a pista: as três gotas de sangue sobre a neve alva e pura, a poesia que em chamas crepita no coração do gelo, a vida que vem no galope da morte.

Não esqueçam: as três gotas de sangue na mais pura e alva neve!...

Luiz Pires dos Reys disse...

Cara Miledh,

Seja a neve de que cor for, sempre o sangue será da mesma tintura: humana.

Seja a alvura a da neve ou da alma, sempre o sangue será da mesma tintura: desumana.

Seja três as gotas, ou mais ou menos do que tantas, sempre o sangue será da mesma tintura: inumana.

Seja quem tal vê tinto ou alvo na alma, no tom alvorado da alba ou no tinturado esbranquecer do lusco-fusco, sempre a tintura será pista para o que não deixa rasto algum.

Sigamos, pois, os indícios do trilho, mas não deixemos que eles nos detenham nem prendam.

“Discutir”, cara Miledh, é apenas não adormecer no caminho, para se poder detectar as três gotas.

(Demais, tudo é poético, mas nem tudo é poesia!)

Obrigado.

Anónimo disse...

Tudo é poesia, em espírito pacificado!

Anónimo disse...

não responde Lapdrey?
2-1
anonimo-Lapdrey