nunca escrevi
sou
apenas um tradutor de silêncios
a vida tatuou-me nos olhos
janelas
em que me transcrevo e apago
sou
um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar
(citando Mia Couto)
Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".
"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"
- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente
Saúde, Irmãos ! É a Hora !
nunca escrevi
sou
apenas um tradutor de silêncios
a vida tatuou-me nos olhos
janelas
em que me transcrevo e apago
sou
um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar
(citando Mia Couto)
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8 comentários:
«nunca escrevi sou apenas um tradutor de silêncios
a vida tatuou-me nos olhos janelas em que me transcrevo e apago»
MARAVILHA!
obrigada por o postares, este meu patrício merece-o :)
fragmentus
"um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar":
eis uma soberba metáfora que exprime, de maneira cruamente poética, o trágico dilema que, sentados no confortável sofá, imaginamos dilacere um soldado em combate num qualquer cenário de guerra.
Mas creio que bem poucos dentre nós escapariam ao assalto do medo, que de supetão nos varreria a coerência como se fosse uma tempestade de areia, e nos estatelaria no romper (sem remissão nem remorso) daqueles princípios que, de forma assim muito provavelmenter inconsequente, teríamos obviamente defendido quando placidamente, na paz morna ou podre em que muitos de nós quiçá vivemos.
As guerras, por certo, não são precisas (não necessárias, filosoficamente falando, não sei), mas sempre nos deixam excelente oportunidade de despertarmos da letárgica bonomia da poeira dos nossos dias mais pardacentos.
As outras passagens que citou, Liliana (obrigado por isso) parecem-me uma bela micro arte poética e uma nana-filosofia de vida.
Fragmentus,
a primeira vez que me encontrei com este poema foi um êxtase...
como cruamente a versatilidade das palavras nos atinge com suavidade, candura.
bj
Lapdrey
"um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar":
nesta metáfora cabem mil histórias que não saberíamos resolver de outra forma.
Não é uma guerra sangrenta...é uma afirmação onde batalhamos, porque estamos vivos de sangue, e atravessámos o palco de apenas sermos derrubados se assim o permitirmos, com consentimento.
(isto assim o é no meu prisma que reflecte cores...e claro uma cor não faz arco-irís)
talvez por isso as pessoas dialoguem...
bj
"Um tradutor de silêncio"... que poema lindo! Quem nos dera que todos os silêncios fossem assim traduzidos, em beleza!
"Um soldado que se apaixona pelo inimigo que vai matar"... que imagem linda e paradoxa, que forma de ver com os olhos do coração.
Como diz Mia Couto " milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida!" :)
Mia Couto " milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida!
estas palavras não conhecia e hummmm...que sublime.
obrigado pela partilha.
bj
"O mestre mantém o silêncio e os discípulos escutam-no"
Pelos vistos, o proverbiante "mestre" diz que mantém o silêncio mas, no entanto, vai falando:
hum...cá me parece que o pobre senhor está "assim-dicamente" xexé.
Será?
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