O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 12 de março de 2008

Se pensamos por medo e agredimos a realidade com o conceito de haver ...

... nao sera muito melhor passar o resto do tempo que dura a ilusao de estarmos vivos sentados no sofa a adormecer o cerebro com "reality shows"?

12 comentários:

Paulo Borges disse...

Como é que se pode adormecer uma mente que já dorme, a sonhar ser real e haver realidade, seja com "reality shows" ou outra coisa qualquer ?

Ana Margarida Esteves disse...

Agora e que estou mesmo baralhada: Quando e que saberemos que estamos acordados? Quando nos dissolvermos completamente nos elementos?

;-)

Anónimo disse...

Desculpem lá a intromissão, mas agora é que a minha obscuridade se agravou...
Não podem ser mais claros, Paulo Borges e Ana Margarida?

Parece que estou a ver um filme absurdo e com legendas trocadas... de parte a parte...
Bom...
A mente adormecida a pensar que é real... acho que percebi.
A questão dos "reality shows"... ironia?


Seria necessária alguma luz, não concordam?

Paulo Borges disse...

Acordar e dormir, irreal e real, são o sonho / "reality show" mental.

Anónimo disse...

Todas as coisas são uma mesma coisa (elas são vazias…) Não lhes parece?

Ana Margarida Esteves disse...

Exacto, mas a minha questao e mais de natureza etica: Como agir no mundo, que escolhas fazer quando se tem consciencia da ilusao e da vacuidade de tudo.

Um forte abraco para voces os dois.

Anónimo disse...

Essa questão é uma boa questão, Ana Margarida, mas não pode haver uma boa resposta. Tudo depende da centelha que vibrar em ti... mas agir com naturalidade (quero dizer de acordo com a natureza,Shizen significa, em japonês: natureza, contudo, o seu significado à letra é: “o estado ou situação de que algo seja por si mesmo o que é”...
Parece ser uma boa solução..
De acordo com esta filosofia/religião... o Tao é a totalidade da espontaneidade ou «naturalidade» de todas as coisas. Cada coisa é simplesmente o que é e faz. Por isso, o Tao não faz nada; não precisa de o fazer para que tudo o que deve ser feito seja feito. Mas, ao mesmo tempo, tudo que cada coisa é e faz espontaneamente é o Tao. Por isso, o Tao «faz tudo ao fazer nada».

Gostei de te "ver"
:)
Assunto que me interessa, este das filosofias orientais...

Ana Margarida Esteves disse...

Sim, estou a ver que te interessas bastante por filosofias orientais. És Budista? Tens lido, escrito ou traduzido livros sobre o Budismo, Hinduismo ou Taoismo? Praticas meditação?

Paulo Borges disse...

Ana, a meu ver, a vacuidade e ilusão de tudo não altera em nada a regra de ouro da ética: não fazer aos outros o que não queremos que façam a nós, abster-se de fazer sofrer os seres, procurar em tudo o seu bem... Apenas lhe acrescenta ver tudo como um sonho, relativo às diferentes percepções das nossas mentes condicionadas por diferentes conceitos e emoções... que sofrem e se alegram porque tomam as suas percepções como reais... Mas ver as coisas assim, irreais, além de nos trazer sabedoria e liberdade, também aumenta a empatia / compaixão com o sofrimento ilusório que os seres vivem como real e o sentimento da possibilidade de tudo alterar: se tudo é um sonho, então pode-se despertar ou, pelo menos, sonhar de modo mais agradável, enquanto não se desperta de vez...

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com O Paulo Borges. A centelha que apontei e que vive na Margarida, a luz que não é só dela, mas da qual participa, lhe ensinará o caminho da ética imprescindível para que participe na Luz que a sua alma reflecte, porque essa já existia antes mesmo da consciência, do pensar e do agir.
Agir de acordo com a Natureza, é a lei... desde que se conheça a nossa própria Natureza. Assim... quis dizer que a resposta para a su dúvida de como agir perante a realidade, dependerá do conhecimento que a Margarida tenha dessa sua verdadeira Natureza e da Natureza do mundo.
Obrigado por ter ajudado a clarificar a coisa.
Penso que a Ana também agradecerá.

Um abraço.

Anónimo disse...

Agora respondo à Ana,
Interesso-me, sim, por todas as religiões, gosto de as comparar, mas sou "free lancer" e "outsider" (desculpa os estrangeirismos... que para ti, se calhar, já não são...)
Já pensei algumas coisas sobre o budismo, o taoismo, o zen, os cristãos gnósticos... também sobre teosofia... e os mistérios gregos, mas não é a minha área...só curiosidade e intuições... Não sei verdadeiramente nada.
Sou das literaturas e gosto de escrever.
Ah!! Também pratiquei Tai Chi Chuan... com o mestre fora... pouco tenho feito...

jinhos, inhos...

Ana Margarida Esteves disse...

Clarificou com certeza! Muito obrigada, Paulo e Obscuro, por terem a paciência para aturar as questões ético-metafísicas que me têm assaltado nesta época Quaresmal, Iniciática, em que estou prestes a partir para o Brasil para um ano de investigação-acção.

Beijinhos!