O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 9 de março de 2008

Permanecendo no caminho para casa

Ele, no fundo, procurava o conhecimento que salva, salvar-se, mas de quê? Eu acho que ele procurava acima de tudo salvar-se de ser isto, porque queria algo mais, o "isto" limitava-o. Ele queria ser ilimitado - uma ilimitação de poder. Nunca na vida tinha visto, nem viria a ver, algo ilimitado, espacial ou temporalmente. Mas ele imaginava-o, e ora o imaginava como isto, ora como aquilo, mas imaginava-o. O que o incomodava não era, na verdade, ser isto, porque tudo é um isto, mas um isto específico, não poder ser um isto indefinido, que pudesse ser todas as coisas ou nenhumas. Trazia consigo a vontade de ser Deus e mais alguma coisa. Na sua natureza, Deus, que permanecia, no entanto, um conceito estranho à sua compreensão, porque ora o era, ora o não era. Ele não podia ser Deus, mas queria ser algo mais do que um isto mundano, poeira que logo se extingue. Sonhava ter em si ou participar em algo imortal. Procurava, apaixonadamente, a raíz de todas as coisas e seria o Seu conhecimento que o salvaria, esse novo estado em que ficaria, de luz e de graça, completamente resplandecente.

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