quarta-feira, 5 de março de 2008
Em homenagem a Maria Gabriela Llansol, na Hora da sua Vida
"Revelação no mais secreto de nós mesmos,
que nem a razão nem o sentido podem compreender,
a não ser no amor nu:
[...]
Se houvéssemos chegado a esta claridade
diante do seu rosto, vacantes e livres
de todo o modo, de toda a coisa
que se aprende, conta ou compõe,
no seio do abismo sem fundo
veríamos a luz na sua luz.
[...]
Deveis andar em grande erro
ao procurar no exterior a luz em partes,
quando ela está toda em vós e vos liberta totalmente.
Se quereis tornar-vos mestres
nesta filosofia, não vos afirmeis:
abandonai todas as coisas, convosco próprios.
Ah ! Deus, que nobreza
esta livre vacuidade,
onde o amor abandona amorosamente tudo o mais
e nada busca fora de Si mesmo,
pois que, na sua pura Unidade,
encerra a bem-aventurada eternidade"
- Hadewijch (séc. XIII), Écrits Mystiques des Béguines, Seuil, 1994, pp.205-206 (tradução do francês, aguardando a prometida tradução do neerlandês por Joana Serrado).
que nem a razão nem o sentido podem compreender,
a não ser no amor nu:
[...]
Se houvéssemos chegado a esta claridade
diante do seu rosto, vacantes e livres
de todo o modo, de toda a coisa
que se aprende, conta ou compõe,
no seio do abismo sem fundo
veríamos a luz na sua luz.
[...]
Deveis andar em grande erro
ao procurar no exterior a luz em partes,
quando ela está toda em vós e vos liberta totalmente.
Se quereis tornar-vos mestres
nesta filosofia, não vos afirmeis:
abandonai todas as coisas, convosco próprios.
Ah ! Deus, que nobreza
esta livre vacuidade,
onde o amor abandona amorosamente tudo o mais
e nada busca fora de Si mesmo,
pois que, na sua pura Unidade,
encerra a bem-aventurada eternidade"
- Hadewijch (séc. XIII), Écrits Mystiques des Béguines, Seuil, 1994, pp.205-206 (tradução do francês, aguardando a prometida tradução do neerlandês por Joana Serrado).
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Ah, Hadewijch ! Poetisa do "amor nu": "Quem quiser satisfazer o amor, / não se poupe em nada, eu o aconselho, / mas dê-se de todo o seu ser / e viva para esta obra sublime: / secreta para os amantes, / desconhecida aos estranhos / que do amor não compreendem a essência. / Estas doces errâncias / na escola do amor, / quem nelas se não arrisca, sempre as ignora.
Por mais cruelmente que seja ferida, / do que o amor me imponha, / nenhuma coisa será abandonada"
- Ibid., p.105 (lemos, como vês, pelos mesmos livros).
Das páginas de um diário da Maria Gabriela Llansol:
"Todos os autores que eu amo formam um labirinto no seu texto. São um só, potência magnífica que o jardim do pensamento permite, ou O Vergel."
E antes tinha escrito...
"I- mas interrogo-me sobre qual a potência da luz, do solar ao sombreado, aquele que se filtra no vergel e no seu texto ou a que noite, à noite, o deixa ler sentado à mesa. A presença subtil que, passando pelos diversos objectos iluminados, os torna, nos seus olhos, objectivos. (...) Será o Anjo, todo o vergel? (...) Se for uma energia, ele dirá que a criação desse fluxo entre o olhar e a coisa, a torna simples ou múltipla. E se não for? E se for movimento? Um movimento amante? Nesse caso, o ser do Anjo só terá ficado presente depois de escrito o texto, e de o texto ser esse engenho raro para o guardar connosco."
A Maria Gabriela Llansol não fez textos, apresentou sempre o Anjo e o Anjo é o texto. O labirinto em forma de jardim, porque essa foi a sua paisagem, a única que recebeu em uníssono como som e imagem. O segredo dessa revelação não o contou, ela que nunca narrou nada, não foi uma narradora, foi uma Figuração esplendorosa do pensamento numa Língua que não a merece.
"O encontro entre mim e Rilke é tão estranho: o seu Anjo não vem a caminho, e digo-lhe adeus, adeus."
O meu encontro entre mim e a Maria Gabriela foi tão estranho: o seu Anjo não vem a caminho , e eu digo-lhe permanece, permanece...
O que ela gostaria era que lessemos o poema de Hadewijch em comunidade, que fossemos a comunidade dos poetas e lessemos, em vez de falarmos.
Se apenas falássemos poeticamente, dissolvendo-nos nisso... A verdadeira poesia é a morte do poeta.
Enviar um comentário