O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 11 de março de 2008

As duas principais propriedades da consciência

Ser sobre algo. Ser para alguém.

6 comentários:

Paulo Borges disse...

Creio que assim se reduz a consciência ao seu exercício mais comum, grosseiro e convencional: ser sobre algo e ser para si. Sugiro a leitura da crítica de Plotino a Aristóteles e à sua ideia de um Deus-Pensamento que eternamente se pensa a si mesmo. Assim surge o Intelecto que em si encobre o Uno ou, melhor, o inefável que nem Uno se pode dizer, pois está livre de se objectivar subjectivando-se.
Mas isso não está fechado nos livros de filosofia: está neste preciso instante no intervalo entre cada pensamento, no vazio de cada pensamento, no indizível.

afhahqh disse...

Estamos sempre a aprender! Compreeendo e até concordo em que seja a versão mais grosseira de "o que é a consciência?", talvez por ser a mais evidente. Mas o que é o inefável? O que é o Uno? Será que existe algo inefável, ou tudo pode ser dito? Será que existe algo que é o Uno, e aqui até concordo que existe, que é o conjunto de todas as coisas, esse corpo total e mais coisas se mais houverem, o conjunto de tudo o que existe e não existe? Esse uno é inefável? Haverá alguma coisa consciente que não se subjective, que não diga:eu? Etc., etc.

Paulo Borges disse...

Sim, claro que há coisas conscientes que nem sempre dizem eu: nós próprios ! Vivemos muito mais tempo, e conscientes, do que aquele em que pensamos ser alguém/um eu que está vivo e consciente. O problema é que aplicamos a todo o estarmos vivos e conscientes isso que então pensamos, a interpretação que nesses momentos fazemos e que projectamos no que entendemos como passado e futuro. Retrospectiva e prospectiva fatal.

Anónimo disse...

Que privilégio...
Escutar mestre e discípulo
à fala!...

Paulo Borges disse...

Só se for eu o discípulo...

afhahqh disse...

Então eu sou nada...