O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sim, Sim; Não, Não...


«Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que for além disto procede do espírito do mal»

Mt. 5:37

(...) Mas porquê? Porque muitas vezes utilizamos a linguagem de um modo preverso; não com o objectivo de esclarecer, mas de confundir. Apenas para convencer os outros da nossa pequena "verdade".

Sim e não. Neste domínio do "sim" e do "não" é a criança, nunca o adulto, o guia e o Mestre. O adulto, a menos que se torne, ele próprio, criança, sempre adultera tudo. Sim e não. «Seja esse o vosso modo de falar». Quando perguntamos a uma criança por que está a construir castelos na areia, talvez nos responda simplesmente «Porque sim»; e, se lhe perguntarmos por que não quer comer a sopa, poderá dizer apenas «Porque não». Não precisa de "filosofias", nem de complexas argumentações. Podem parecer-nos tolas as suas respostas, mas, apesar de parecerem tolas, estão muito mais em conforme com a sabedoria do Evangelho do que com a "lógica" de alguns dos mais brilhantes pensadores.

Isto, porém, não significa que a Filosofia se deva eliminar. Ela constitui um encaminhamento para a sabedoria, sem conseguir, no entanto, resolver em definitivo o problema fundamental da vida.

José Flórido, Reencontrar Agostinho da Silva o Poeta e o Poema, Zéfiro, 2006


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