O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 30 de março de 2009

Provocações agostinianas: da filosofia e da ciência como "substitutos do amor para pessoas fracas"

Se você algum dia sentir com o amor, no sentido de prisão por alguma coisa ou alguém, esse receio do grande artista e esse desejo de que não fosse, de que não tivesse sucedido a você o que lhe parece ser ou um dom imerecido da vida ou uma exigência a que as suas forças nunca poderão corresponder, então pode estar certo de que Deus o visitou e terá atingido alguma coisa de bem mais alto e bem mais belo do que essa pobre filosofia; é possível até que essa sua filosofia como esta minha física sejam apenas substitutos do amor para pessoas fracas; deram-nos alteres de menor peso porque não nos viram com bons músculos. É uma pena que tenhamos de sentir este desprezo por nós próprios, mas que havemos nós de fazer se em lugar de amarmos nos entretemos pacificamente, com a paz dos miseráveis, a comentar Kant – e sem saber se o percebemos – ou a estudar Einstein – e sem saber se o percebemos ?
- Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 258.

Celebram-se 15 anos da morte de Agostinho com um Colóquio, 6ª feira, dia 3 de Abril, no Anfiteatro I da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Um pensador e um pensamento que não são "para pessoas fracas".

11 comentários:

agostiniana disse...

"O amor com desejo é santo porque é uma nostalgia de Deus, uma busca da calma perfeita; o amor sem desejo é o estar-se em Deus" - Agostinho da Silva, "Alcorão", "Nova Águia", nº3, p.110.

Anónimo disse...

E o desejo sem desejo é Deus liberto de o ser.

Amaro disse...

Um motim de luz revolve as entranhas da terra
Uma mulher saudosa declina a lonjura
Trémulos vamos todos à fonte
A vida fraca, jamais segura

Pedro Rodrigues disse...

Amor... se colocarmos as letras ao contrário fica Roma... Roma é o império da razão, a definição dos contornos do mundo, a criação de conceitos para agarrar as coisas com a mão (con capio), o acreditar na solidez da realidade (rés), na permanência das coisas, em Deus como criador e no Homem como o criado.

Roma... se colocarmos as letras ao contrário fica Amor... Sendo algo indefinível pois não há limites para o Amor, recordo-me de palavras como Saúde, Silêncio, nada que é tudo, vacuidade, Cristo, Buda, Maomé, bola de sabão, culto do Espírito Santo, shunyata, bolha, ... Mozart e espontaneadade.

Sendo Roma um espaço cheio de objectos e pouco oxigenado, Amor é um espaço vazio e infinito. Como seria bom se o Deus de que fala Agostinho nos visitasse a todos:)

Saúde!

Rosa Amotinada disse...

Como seria bom se nos visitasse!?... Pois não abres a porta a ti mesmo!?...

Homem de Papel disse...

De resto, o género humano deve e pode ser ele mesmo criador da sua felicidade
Kant

Skepsis disse...

Vê-se...

Anónimo disse...

Mais uma citação com a qual não concordas, ó Paulo?

Paulo Borges disse...

É verdade, mais uma. Se concordasse com tudo, não era uma citação.

Homem de Papel disse...

eras tú?

Ana Margarida Esteves disse...
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