O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 19 de março de 2009

Contemplação



Contemplação

Vejo passar o tempo, o rio calmo
Onde se afoga o desespero humano;
Imagino-lhe a foz, no trágico oceano
Da morte;
E a nenhum Sul ou Norte
Consciente
Consigo vislumbrar-lhe a lírica nascente.

Já caudaloso em cada latitude,
Em vão procuro a fonte
Que lhe dê começo:
A madrugada duma telha de água,
Hesitante
Antes do grande dia
Que toda a madrugada principia.

Ganges sagrado do desassossego,
Vem dos confins do nada
Em direcção ao grande mar vazio...
E à tona da barrenta omnipotência
Leva a cega inocência
Naufragada
De cada vida nele purificada.


Miguel Torga, Câmara Ardente.

1 comentário:

Paulo Borges disse...

Viva, caro João! Se puderes responde ao mail que te enviei.

Abraço