sábado, 14 de março de 2009
Da radical abolição de preconceitos
"Que maneira ha de approximar a sensibilidade da rapida multiplicação dos estimulos? Evidentemente que maneira natural, por assim dizer, não ha nenhuma. Mas ha uma maneira artificial.
Como obter essa artificialização da sensibilidade? Como pode o homem tornar-se, effectivamente, o constructor do seu proprio emotivismo?
Mediante trez processos:
(1) A abolição do preconceito da personalidade. Acabemos com a idéa de que cada individuo é só elle-proprio. Todos nós coexistimos ao mesmo tempo que existimos. Todos nós somos todos os outros.
(2) A abolição do preconceito da individualidade. Deixemos de acceitar como verdadeira a these fundamentalmente theologica da indivisibilidade da alma. Somos aggregados de celulas, agrupamentos de psychismos, de sub-nós, somos inteiramente tudo menos nós-proprios. Submerjamo-nos no mar de nós-proprios, afogados no Universo de lhe pertencermos.
(3) A abolição do dogma da continuidade lateral. Não julguemos mais que nós, do presente, somos um laço, um hyphen mobil, entre o passado e o futuro. Não somos. Somos sim continuos mas não com o passado ou com o futuro. A nossa continuidade é toda com o presente - com o presente externo de todas as cousas, e com o presente interno de todas as sensações"
- Fernando Pessoa, in Pessoa Inédito, coordenação de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Livros Horizonte, 1999, pp.311-312.
Como obter essa artificialização da sensibilidade? Como pode o homem tornar-se, effectivamente, o constructor do seu proprio emotivismo?
Mediante trez processos:
(1) A abolição do preconceito da personalidade. Acabemos com a idéa de que cada individuo é só elle-proprio. Todos nós coexistimos ao mesmo tempo que existimos. Todos nós somos todos os outros.
(2) A abolição do preconceito da individualidade. Deixemos de acceitar como verdadeira a these fundamentalmente theologica da indivisibilidade da alma. Somos aggregados de celulas, agrupamentos de psychismos, de sub-nós, somos inteiramente tudo menos nós-proprios. Submerjamo-nos no mar de nós-proprios, afogados no Universo de lhe pertencermos.
(3) A abolição do dogma da continuidade lateral. Não julguemos mais que nós, do presente, somos um laço, um hyphen mobil, entre o passado e o futuro. Não somos. Somos sim continuos mas não com o passado ou com o futuro. A nossa continuidade é toda com o presente - com o presente externo de todas as cousas, e com o presente interno de todas as sensações"
- Fernando Pessoa, in Pessoa Inédito, coordenação de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Livros Horizonte, 1999, pp.311-312.
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3 comentários:
Podem os humanos dispensar as suas ilusões vitais, a começar pela de serem humanos?
Intricação. O mundo quântico é intemporal; não tem um antes nem um depois. Provavelmente como o Universo e, portanto, a Matéria.
Fonte: http://hiperfisica.blogs.sapo.pt/
E menciono este fenómeno, pois nada nos aproxima mais destes três processos do que a visualização deste tecido universal.
Passei várias vezes sobre este post... várias vezes procurei razões para contrariar aqui o pensamento pessoano. Não encontrei nesta citação nada que me suscite discordância radical. Ponderação, sim, Talvez até vontade de desmontar esse pensamento. Muito à frente do seu tempo, Pessoa! Uma sensibilidade abrangente; e que interessante maneira de ir fundo nas perguntas e também nas respostas! Um museu, um excelente património da nossa humanidade e do mistério que nela há.
É acabar com os preconceitos!
Repensar o ser, o tempo e o espaço a individualidade a personalidade...
Um abraço, Paulo
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