O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 31 de março de 2009

Teodiceia

"Quem tem uma obra, a obra o tem; quem traz mensagem a há-de ler perante o rei; arqueja, mas lê, sufoca, mas lê, e depois de ler cairá por terra, mas já a leu. É a posse mais terrível de todas, a escravatura mais completa, aquela que uma obra exerce sobre o seu criador. Se você a não fizer, é realmente porque a não tinha, porque era fraco: a opinião dos seus amigos era apenas uma ilusão dos seus amigos. Se você for um criador não dará a felicidade nem a si nem aos que estão imediatamente à sua volta."

- Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 235.

5 comentários:

Paulo Borges disse...

É na verdade um grande texto, Dirk! Poderias publicar a tua tradução alemã?

Mas porque o intitulaste "Teodiceia"?

Semente disse...

A arte nunca é nossa, nem de ninguém, o que não me parece ser assim tão mau. Gosto dela assim, sem ser minha, sem me pertencer nunca.

Porque o que me enche de alegria é se a vejo. Basta-me isso. Mesmo que a não entenda.

Belo texto*

Anónimo disse...

Um criador possesso da obra? Antes nada criar e ser livre! Criador é o que cria sem dar por isso e desdenhando o que cria.

Dirk disse...

Wenn wir Gott darin gleichen, Schöpfer zu sein, und es keine wesentliche Unterscheidung zwischen meinem und Gottes Akt der Schöpfung gibt, dann sind die Konsequenzen die ich als Schöpfer trage und tragen muss auch diejenigen Gottes. Wenn Gott unser Schöpfer ist und wir die höchste seiner Schöpfungen, dann müssen wir ihm zugestehen, was auch wir uns zugestehen müssen: das Werk geht über alles, auch über die Glücklichkeit der anderen: dies wäre ein Argument für die Sinnhaftigkeit des "Schlechten" in der Welt.

Paulo Borges disse...

Dirk, não é a tradução... É um texto teu, inspirado em Agostinho?