O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 4 de março de 2009

Doctor Steel - Reality Engineering



Agradeço ao meu filho Martim ter-me dado conhecimento deste video.

9 comentários:

Anónimo disse...

"we are in control of our own mind, and that's crazy enough.
But I... I'm crazy enough to assume that I am in control of your own mind, and even in my own. Crazy isn't it? Then ... who controls whom or what? Nothing or no one or nothing at all too?"

So, whats is the reality?
Who controls? Who does not control?
Be patient my son... Write it down, and the answers will be revealed as they are, your unreality.

Luiz Pires dos Reys disse...

Sistema de crenças, pensamento e vontade - eis a tríade que nos (de)limita e controla.

É porque lhe conferimos "verdade" e aceitação de credibilidade que assumimos algo ou alguém como "verdadeiro", como "real", como dotado de determinado sentido e valor.

Cada ser humano é um "sistema de crenças", tão movente, maleável e modelável quanto o fluxo das sensações que se lhe apresenta a cada momento.

"Ter controlo" de si, creio, significa furtar-se a todo o condicionamento, à restritiva pressão das coisas e dos outros, a todo o constrangimento exterior ou interior limitante. “Ter controlo” sobre os outros, talvez signifique apenas a capacidade de limitar e manipular tais coisas nos outros.

Mas, nisso mesmo, controlando os outros, um tal está a controlar-se terrivelmente a si mesmo nisso, sem sequer se dar conta de tal: controla-se no controlar, o que lhe dá a ilusória convicção de que é senhor dos outros, quando muito provavelmente, nisso, é apenas escravo de si mesmo. Daí, o desenlace “fatal” e “irremediável” de todo um tal tipo de escravidão, o destino suicidário de tais seres - ou eles, por si mesmos, ou o monstro que criam fora de si, é a mesma arma com que se suicidam na perversão extrema do que seria serem “autenticamente”.

Muito provavelmente a "percepção de realidade" é uma espécie de harmónio constituído pelo feixe de dados de "presunção de realidade" que, em cada instante, somos capazes de apreender e modelar: vigilante, criativa e autonomamente.

Política, propaganda, publicidade, crença, fé, rotina - eis apenas alguns dos grilhões, espartilhos e “camisas de sete varas” que circunscrevem o perfil do condicionamento humano e delimitam a linha volátil da normalidade.

Quanto menos nos apercebemos de tal coisa, mais tal coisa existe em nós, porque precisamente tal coisa é em nós feita do esquecimento da raiz de nós, e construída a partir duma fábrica de exterioridade que nos violenta e aprisiona, desde que nascemos.

As sociedades são, basicamente, formas, modelos e códigos de mútua "presunção de verdade", de "realidade". A "realidade", e a "verdade" dela e nela, é o que nós (dela) fazemos (e nos fazemos), e assim permitimos e nos obrigamos a acreditar que ela seja.

Cada um de nós é único, singular e omnidiverso. Verificar que se o não é, é começar a deixar de sê-lo. E começar a deixar de sê-lo é começar a ser a ilimititude do que podemos assumir ser e querer ser.

Se bem que isso crie e centre "em nós", e não já em algo "exterior" a nós, o eixo do nosso condicionamento, é porém mais passível e provável que, pela vigia, decisão e modelagem de si possamos algum dia romper tal limite do não-limite de que somos feitos.

Isso precisamente torna tão subtil, diáfana e indeterminável a linha delimitante do que chamamos "normalidade", "sanidade" e "loucura" - meros “padrões de referência” que, de facto, em parte alguma existem em estado puro. Eles, sim, são a "irrealidade" mais crua de quanto imaginamos que haja, visto que são criações presuntivas do que seja ser, de ser e para ser.

Na prisão de tais determinações auto-aceites se aprisiona a nossa consciência, fazendo de "algo" que é paradigma do ser ilimitado que, como que "quânticamente", é também nada, e nada que é o que a consciência em nós "focar" e o que tal "enfoque" em nós, focando para nós, desfoca do nada de que tudo brota e da vacuidade que a tudo "subjaz".

É, muito provavelmente, a "complexidade simplificante", ou a "simplicidade do complexo" que "resolve" o enigma de ser "pessoa": não há algo como controlo ou não-controlo, sanidade ou loucura, realidade ou irrealidade, verdade ou erro - muito provavelmente, há tão só "assumpção de sentido", que confere sentido "àquilo" que só tem sentido e o sentido que lhe conferimos, se lho conferimos.

Gratíssimo, Paulo, por este magnifico post! Abraço!

Paulo Borges disse...

Caro Lapdrey, este post, como agora deixo esclarecido, deve-se ao meu filho Martim, que mo enviou. Desde que viu o Matrix compreendeu o que chamo "vacuidade".

Excelente, este comentário!

Paulo Borges disse...

A crença na realidade ser real é o grande factor de auto-opressão e o fundamento sem fundamento de todo o aprisionamento ilusório que parece ser a existência e o mundo, cela de ficção no espaço infinito.

Anónimo disse...

sobre o budismo (soyen shaku)

'todas as coisas são minhas filhas, todas são a imagem do meu eu, todas surgem da mesma fonte e são parte do meu corpo. por isto não posso encontrar repouso enquanto a menor parte do que existe não tenha chegado a seu destino.

...
os povos se assinam entre si para que deus viva.

Anónimo disse...

se assinam ou se assassinam?

Anónimo disse...

O que é a realidade? O que é haver realidade?

Luiz Pires dos Reys disse...

Caro Interrogativo,

Quem porventura pendura interrogações como quem pendura cabides, dificilmente saberá como escolher o casaco para cada um deles.
E muito menos chegará a usar algum dos casacos...

Coragem, amigo!
Nunca é tarde!

(Quem sabe se, entre o pegar no cabide e o vestir o casaco, não acontece algo ou algo não acontece...!?)

Anónimo disse...

foi um erro, 'se assassinam'
obrigado, é uma adaptação de um livro muito antigo de Romain Rolland 'Nicolai e a biologia da guerra' -Typographia dos Irmãos Pongetti-1935