O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 21 de dezembro de 2008

Universo em festa*




Eram grãos de areia que nunca mais acabavam
Eram gotas de água salgada que nunca mais adoçavam
Eram estrelas que luziam e nunca mais se apagavam

Eram corações que pareciam que nunca mais batiam
E, logo ao lado, outros tantos em forma de coração que só amavam, só sentiam

Eram braços que só envolviam e confortavam
Eram olhos que só brilhavam e, ao longe, pareciam aquelas estrelas que luziam
Eram pés assentes na terra quente com as cabeças bem soltas nas nuvens

E as almas, essas, estavam vivas entre tudo e todos.
Eram almas soltas que nunca mais deixaram de sonhar

E o sonho?
O sonho.
O sonho tinha tantas cores como as do arco-íris vezes sete

Eram gotas de água, eram grãos de areia, eram estrelas.
Era um praia onde tudo e todos chegavam a cada instante e de lá saíam, em grande algazarra, sem saber para onde ir a seguir. Riam, dançavam, soltavam areia no ar, corriam, cantavam e sentavam-se à conversa com outro qualquer.

Era o mar a dizer-lhes que ficassem.
Eram as ondas a rebentar pelas costuras do mar
E de tanto tentarem alcançar a areia, as rochas, os pés secos
De tanto irem e virem

As ondas e o mar já iam e vinham como se não soubessem que nome tinham
Era o mar sem dar nome às coisas e a dizer que ficassem perto dele.

Eram grãos de areia que nunca mais acabavam
Eram gotas de água salgada que nunca mais adoçavam
Eram estrelas que luziam e nunca mais se apagavam

O universo em festa*


*

O texto foi publicado originalmente no meu blog pessoal.
Perdoem-me a partilha póstuma.
É este o meu desejo para todos os serpenteados e todos os emplumados,
para o Ano Novo que caminha até nós com os passos do tempo.
Ao qual acrescento com o coração:

Saúde!
Festa eterna na alegoria, no sonho e na manhã seguinte!
Fechem os olhos e deliciem-se com a festa de luz e cor que cada um tem em si mesmo!
Gargalhadas vindas do útero da alegria que todos trazemos cá dentro!
Saltos no infinito de tudo o que não somos.
Porque o que somos sempre deixamos de ser a cada momento, a cada passo do Universo.
E o Universo não se engana. O tempo passa porque é assim que tem que ser.

3 comentários:

Anónimo disse...

Querida Sereia,

Que o Natal seja uma festa imensa como a tua alma o sonha e deseja. Vai um salpico? Plim!... outro: plim! Era champagne?, Então, mas o teu mar tem brinde?

Não teve graça?! Está bem!

Que o Natal te encha de Graça. Ainda mais?? Ai, que hoje não sai uma direita. Deve ser da aZ.elhice.
Que me perdoe o feliz contemplado!

Luiz Pires dos Reys disse...

Grato, Sereia*, pelos salpicos neptunianos, e pela bela, infante linguagem!
Que os reinos de Saturno, Neptuno e Urano na Noite se entrecruzem ...

fas disse...

Que foto! Excelente e inflamada.