O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 21 de dezembro de 2008

Raminho de cheiros para a consoada


"Eu caminhava na noite
e entre silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava.


(...)


Nesse lugar pensei: quanto deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens e tão perto."


Sophia de Mello Breyner Andresen


"Fica tranquilo se, de repente,
o Anjo se sentar à tua mesa;
alisa com vagar os breves vincos
que a toalha fez debaixo do teu pão.


Convida-o para a modesta refeição,
que também ele lhe saboreie o gosto,
E possa levar aos lábios puros
um simples copo de todos os dias."


Rainer Maria Rilke


"Riquíssimo Senhor; quem vos fez pobre?
Se vestistes terra e céu, quem vos despiu?
Ó encoberto Deus, quem vos descobre?


Aires Teles de Meneses


"Silêncio! Todo o Universo
Está ali - dentro de um berço"


Miguel Trigueiros



"Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos."


(...)


Alberto Caeiro


PS. Uma sugestão: porque não colocar sobre o lugar de cada um na mesa um textinho destes, ou outro? Para vós vai este raminho, embrulhadinho em beijos.

10 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Muito obrigada por estes lindos versos tão doces e frescos quanto as clementinas e o aroma dos abetos, que muito associo a esta linda quadra.

Votos de um Santo Natal e um Grande 2009!

(Estou em Portugal a passar a Quadra;-)!)

Anónimo disse...

então que eles te adocem a alma, que parece tão azeda

Anónimo disse...

Querida Ana Margarida,

Pois esperava ouvir também a tua voz, Tenho-me lembrado do tempo em que conversávamos mais. Deixámos de conversar... Fico contente que venhas a Portugal. Eu para saír do Alentejo... ultimamente, menos. Quem sabe nos cruzamos numa dessas ruas da "capital do império" como sabes que gosto de chamar à Lisboa que amo. (Talvez encontremos os dois "fantasmas" ou não encontremos nenhum...) Que é feito da minha princesa?... tenho sentido falta dela. Sabes, vou-te dizer um segredo, baixinho: O Anónimo tem alguma razão, não tem? Andas muito inquiridora...hum! Vai passar, vais ver...

Um sorriso:)
Muita ternura
Muita Paz

Semente disse...

Saudades!

Que bom ler-te de novo!
Obrigada pela partilha de sempre... e por esta, em particular.

Gostei muito de ler estes pequenos bocadinhos de nós mesmos, escritos pelas mãos de iluminados.
Adorei a sugestão de colocar pequenas palavras ou quadras no lugar de cada um :)

os votos, esses, os meus votos... estão no Universo em festa*

beijinho*

Ana Margarida Esteves disse...

Querido(s) Saudades do Foturo,

Há um tempo para plantar e outro para colher ...

Plantar significa enterrar-se no humus, colocar-se em causa, entrar em putrefacção, para poder dar frutos.

Teria muito gosto em encontrar você(s) nas ruas de Lisboa, que eu amo cada vez mais. Gostaria ainda mais que vocês me mostrassem o que ela ainda tem de imperial. Não os restos do passado, mas o "porto calmo de abrigo/ de um futuro maior" de que falam os Madredeus.

Muita ternura (é tempo de celebrá-la)
quantos sorrisos queiram:)
Muita Paz

Maria disse...

Belo, querida Saudades! O raminho está no vaso... agora, vou guardar o textinho.

Recebe beijinhos também.

Anónimo disse...

Ana Margarida,

Isso é que é falar! Cá para nós, que ninguém nos ouve, os dois "diabretes" devem estar a vomitar, também. Ainda restamos nós. E com as pedras que vão caindo, "ainda havemos de fazer um castelo". Grande Álvaro de Campos sufucado no vómito de si mesmo, ou sufocando no vómito de tudo. Será Natal do mesmo modo, mesmo sem ele ou sem nós.

Um beijo

Luiz Pires dos Reys disse...

Grato pelo requintado da escolha: de escol!
Silêncio, que vai (re)nascer (cada) Um de nós!
Façamo-nos berço.. e abismo do melhor em nós!

Anónimo disse...

...o corrector ortográfico anda distraído e eu, emendo prestes, na quinta linha do segundo comentário deve ler-se: "sufocado". Mas lá passou, deve ser por ser Natal.

Paulo Borges disse...

Desculpe, Saudades, o meu ingrato agradecimento tardio! Os versos têm já lugar à mesa. Carnatalescas saúdes!