O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 20 de dezembro de 2008

“Nós somos o sentido das coisas – há que criar as coisas!” (António Maria Lisboa)


O que acontece em nós não depende da nossa vontade, da nossa vontade é a adesão incondicional ao que em nós acontece, da nossa vontade é a eliminação dos elementos aberrantes que contraem e desviam disso, da nossa vontade é cumprirmos exactamente isso. O que foi libertação de forças prender-nos-á, será um muro no nosso caminho, uma algema, se não passarmos de novo através das palavras. Criámos o seu novo sentido: há agora que criar a sua nova realidade. As coisas não estão feitas senão assim: nós somos o sentido das coisas – há que criar as coisas! Tudo se cumprirá implacavelmente – e da nossa vontade é isso e o nosso pensamento será isto pois não sairá de nós a não ser quando o nosso pensamento for já ele próprio o que se cumpre implacavelmente.” (António Maria Lisboa, “Exercícios sobre o sono e a vigília de Alfred Jarry”, in “Poesia de António Maria Lisboa”, Assírio & Alvim, 1977)

Quando, na fase inicial da maioria das práticas espirituais, se procura silenciar o fluxo do pensamento, o asceta apercebe-se rapidamente que aquilo que ele até então supunha ter origem em si próprio navega na verdade, e porventura anda atolado, num mar mais vasto e mais impessoal ou supra-pessoal, do que a sua próprio mente.
É quando procura manter-se, persistentemente, como testemunha de tal torrente - feita quer da “materiais” propriamente pensados, mas também dos diversíssimos sentimentos, emoções e memórias de que a mente se constitui local indistinto de armazenamento -, que verifica que é a sua própria adesão a tais “sementes” de “pensamento” que precisamente dá vida e alimenta essa inquieta corrente interna de um “mentar” inferior ancorado e dominador.
Ocorre-me - a propósito do que António Maria Lisboa aqui escreve acerca da criação dum novo sentido, criador de uma outra realidade, que por sua vez crie e re-crie as coisas mesmas -, uma singular demonstração de como linguagem, palavras, sentido e apreensão da realidade estão mais interligados do que talvez, apressadamente, supuséssemos.

Talvez o filtro genético social mais comummente reconhecido seja o nosso sistema linguístico. Dentro de qualquer sistema linguístico específico, por exemplo, parte da riqueza da nossa experiência está associada a um número de distinções feitas em alguma área das nossas sensações. Em maidu, uma língua indígena americana do norte da Califórnia, apenas três palavras são utilizadas para descrever o espectro de cores. Dividem o espectro como se segue (as palavras em português são as aproximações mais chegadas):

Lak – Vermelho
Tit – Verde-azul
Tulak – Amarelo-laranja-castanho

Enquanto os restantes seres humanos são capazes de fazer 7.5000.000 distinções de cores diferentes no espectro de cores visíveis (Borng, 1957), os falantes nativos de maidu habitualmente agrupam a sua experiência nas três categorias fornecidas pela sua língua. Estas três palavras maidu para cores cobrem a mesma gama de sensação do mundo real que as oito palavras específicas para cores em português. Aqui a questão é que um falante de maidu é caracteristicamente consciente de apenas três categorias de experiência de cor, ao passo que o falante de português tem mais categorias e, portanto, mais distinções perceptivas habituais. Isto significa que, enquanto os falantes de português descreverão a sua experiência de dois objectos diferentes (digamos, um livro amarelo e um livro laranja), os falantes de maidu tipicamente descreverão a sua experiência da situação idêntica do mundo real como sendo a mesma (dois livros tulak).
Ao contrário das nossas limitações genéticas neurológicas, as introduzidas pelos filtros genéticos sociais são facilmente superadas. Isso é demonstrado mais claramente pelo facto de que somos capazes de falar mais de uma língua – isto é, somos capazes de utilizar mais de um conjunto de categorias ou filtros sociais linguísticos para organizar a nossa experiência, para servir como nossa representação do mundo. Por exemplo, tomemos a frase comum: O livro é azul. Azul é o nome que nós, como falantes nativos de português, aprendemos a usar para descrever a nossa experiência de uma certa porção do continuum de luz visível. Enganados pela estrutura da nossa língua, chegamos a presumir que azul é uma propriedade do objecto a que nos referimos como sendo um livro, ao invés de ser o nome que damos à nossa sensação.”(Richard Bandler e John Grinder, “A Estrutura da Magia – Um livro sobre linguagem e terapia”, Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1977)

24 comentários:

Anónimo disse...

Lapdrey, sou o teu pai, ou o pai de algo em ti, que mais não seja do sentido das tuas palavras e de serem tuas: ao ler-te crio-te e crio-o. E por isso sou o teu filho, pois nisso eu mesmo ou algo em mim se cria. Crio-te criando-me e crias-me criando-te ao leres-me agora. Somos pai e filho um do outro ao mesmo tempo que o somos de nós mesmos. E o mesmo em relação a todos os que nos lerem. Criamo-nos todos uns aos outros e a tudo.

Anónimo disse...

Eu unifiquei a minha percepção: só vejo batatas fritas.

Luiz Pires dos Reys disse...

Grato - entre ser e entre-ser, ter e entreter, ler e inte-ligir - que são, parece-me, ou podem ser, modulações duma qualquer harmonia holónica que se integra ao desintegrar-se, e o seu exacto contrário, que é o mesmo.
Estamos, ainda quando disso nos não demos conta, no preciso fio da lâmina da incerteza quântica: "ao mesmo tempo" poder ser e não ser, ser aqui e ali, ser onda ou corpúsculo, e ser (ou não-ser) o mistério que vai de cada uma a cada outra dessas coisas.
Somos por isso, muito provavelmente, “magos”, ainda que inconscientes e involuntários de tal facto e tal realidade, o que quer que isso seja, ou se o haja.
Aleister Crowley, um ser que mereceria um estudo mais atento - para lá de certos (i)limites e destemperos que porventura o desviaram e enviesaram do que seria um desequilíbrio mais saudavelmente equilibriante, inaugurante dum novo absoluto paradigma de ser – diz, num texto cifrado em linguagem de rigor indesmentivelmente “científico” , que “todo o acto intencional é um acto de Magick”, posto que, atendendo à definição postulante de que “Magick é a Ciência e a Arte de causar a ocorrência de uma Mudança em conformidade com a Vontade”, “qualquer mudança que se queira pode ser obtida com aplicação da Força do tipo e graus próprios, de maneira apropriada, através do meio adequado ao objecto desejado”.
Assim sendo, todo acto de vontade do homem pode ser colocado sob o âmbito qualificativo de “mágico”, ou “mágicko”, como Crowley preferiu grafar, a fim de reabilitar esta arte operativa tão antiga, e deste modo destrinçá-la daquela fraude aplaudida por tontos de fraque e “palhaçada” da magia de palco, vulgo prestidigitação.
O que aqui está em questão, caro(a) Entre-ser, é de novo a questão da Matrix em que, voluntária ou involuntariamente, estejamos “metidos”.
Podemos ir nisto a dois extremos:

1. Ou dizer que estamos todos sob o império da Matrix, padrão ilusório ou “ilusionista”, mesmo para aqueles que disso estejam mais ou menos conscientes, o que mostra que estamos ainda sob tal ilusão – a ilusão de estarmos conscientes de que há ilusão, quando a máxima ilusão é precisamente aceitar que haja alguma ilusão realmente existente, quando o que “há” é o “tal-qual-ismo” de sermos tão-só a natureza própria que sempre somos, desde sempre e para sempre.

2. Ou dizer (como diz Crowley, e o diz aqui também António Maria Lisboa) que, sendo o padrão da “realidade” baseado no paradigma da Matrix, nos é permitido criar a nossa própria realidade, e assim (re)criarmo-nos a nós mesmos.

A primeira é, ao que se me afigura, no limite, a perspectiva “budista”; a segunda é, em principio, a perspectiva “mágicka” de Crowley e, no limite, a situação de todo o verdadeiro artista, seja ele o que o é em si mesmo (como os que edificam a beleza e a verdade em si mesmos, com a matéria-prima de si mesmos: na alma, no espírito e na vida), seja o que o é a partir de si mesmo (como todo o mais incomum artista, trabalhando sobre matéria-prima extrínseca a si mesmo: na palavra, no silêncio, no olhar, no gesto, e em quase tudo).
Entre uma e outra, o que haverá, se haja alguma coisa?
Creio que, entre sermos aquilo que “já” somos e nunca deixámos de ser, e sermos aquilo que a nossa superior (e não arbitrária) vontade queira em nós que sejamos, haverá ainda um “caminho do meio”.
Isso poderia muito bem ter como ponto de partida algo como o diálogo entre aquelas “entidades” cósmicas que Crowley denominou, na linha duma reactivação das mais ancestrais deidades egípcias, Nut(Nu ou Nuit) e Hadit.
Tal como está escrito naquele “Liber Al vel Legis” de que Crowley se disse o profético receptáculo em escrita automática, eleito por superiores desígnios:

“Nu! O esconderijo de Hadit.
Vinde! Todos vós, e aprendei o segredo que ainda não foi revelado. Eu, Hadit, sou o complemento de Nu, minha noiva. Eu não estou estendido, e Khabs é o nome da minha Casa.
Na esfera, eu sou em toda a parte o centro, enquanto Ela, a circunferência, em parte alguma é encontrada.
No entanto, ela será conhecida e eu nunca.” (II, 1 - 4)

Esta interconexão entre Nut e Hadit roça estranhamente, ou talvez não, muitas das linhas mestras das mais recentes teorias científicas de explicação do universo, tais como a Teoria das Cordas e a Teoria M.
Mais uma vez, o trismegisto Hermes parece, dir-se-á, ter ainda razão: “o que está em baixo é como o que está em cima, para perpétuo milagre duma só coisa”…

Anónimo disse...

Não vejo oposição entre os dois extremos, ou seja, não vejo que os extremos o sejam. Mas o que lhe quero perguntar é como vê a intensificação da magia em Crowley pelo recurso à sexualidade.

Luiz Pires dos Reys disse...

O-posição há, se bem que isso possa não significar polaridade irredutivel, mas apenas manifestação daquilo que se o-põe, põe, coloca "diante" ou "frente a" algo.
Se assim não fosse, viveríamos num mundo a preto e branco, em que os "extremos" não teriam gradações entre si, o que (ao que parece) não acontece.
O que pode acontecer é que, em dado ou dado momento, tais gradações sejam mais ou menos evidentes e discerníveis, o que não significa que elas lá se não mantenham sempre o-pondo-se.

Em relação à (inevitável a "tentação", não é?) "intensificação da magia em Crowley pelo recurso à sexualidade": que tem isso directamente a ver com o tema aqui, caro(a) K.?

É óbvio que o tema pode ser aprofundado, mas quando tal venha a propósito.
Mostre-me que vem.

Anónimo disse...

Caro Lapdrey, o tal qual pode ser inseparável do jogo ou i-lusão que o re-vela pelas criações das nossas mentes... E se não quer falar de sexualidade, não fale.

guvidu disse...

Porquê desvirtuar um post inteligente com isso da sexualidade? Não é que seja tabu, mas tb não vejo que tenha directamente a ver...

guvidu disse...

fiquei + esclarecida qto ao nosso "daltonismo", aquela classificação indígena das cores é mt interessante...vou pensar melhor sobre esta questão!não vou escrever por escrever, mas sim reflectir, acho q esse deve ser o propósito essencial dum post aqui na Serpente.
obrgda por isso, Lapdrey

Anónimo disse...

Caríssimo Lapdrey,

Atentemos na imagem que ilustra o seu post, Lapdrey. O que vemos? São coisas? Que sentido dar-lhes então? Se fossemos maidu diríamos, por exemplo: “Tulak, tulak!/ Tanto tulak/ anseia por lak a minha alma em fogo/Meus olhos morreriam por uma pequena porção de tit, bebida do chão dos teus olhos acostumados à escuridão/Tulak é a minha visão, mas não sou eu.” Em português diríamos, talvez:” Ó chão de oiro, ó bosque! ó Luz que à saida do túnel de mim incendeias a minha alma que anseia pelos brilhos nascentes do dia, ó fogo acobreado do poente que piso, não há probação na minha alma que não anseie pelo calor em espelho das folhas das árvores, onde eu também sou o que aderiu à cálida presença outonal da tua voz, magnífica é a tua visão...”, etc e por exemplo... Em que é que mudámos na sua essência a experiência da realidade? Tanto numa como noutra a poesia foi veículo e expressão criada, a vibração de alma foi talvez diferente, numa e noutra... elucide-nos, Lapdrey! A Propósito, bela imagem, belíssima.

Luiz Pires dos Reys disse...

Quando alcançamos certo limite em lucidez, ou aquela maior tensão de ser em nosso mais extremado estar consciente, em que ver, sentir, pensar e o impulso de agir são, dir-se-ia, simultâneos, em vez de se nos resolver um ou vários problemas, uma ou mais perplexidades, o que se nos apresenta ao sentido - seja ele o interior (da alma) ou o exterior (que nos advém dos sentidos) - é o mistério de sempre apenas vislumbrarmos, com maior ou menor fulgor, ou o termos em nós, inundando tudo o que em nós seja "isso" que temos como o que somos, e o sagrado de haver vida e de se estar vivo.
O que isso seja, haver vida e estar vivo – mistério, e seu segredo e revelação, sagrado e sua sagração – não o sei eu.
Rilke, demorado hóspede da torre em que todo o nosso limite mais de fundo e perto se roça - e que nos é sempre de tão acertado conselho em tudo quanto haja que ver com da vida fazer arte, arte de viver o que somos ou sejamos para ser – Rilke, em avisadas palavras a alguém a quem crescia o sagrado eflúvio do dizer poético, alerta-nos nos seguintes termos:
“Nem tudo se pode aprender ou dizer, como nos querem fazer acreditar. Quase tudo o que acontece é inexprimível e se passa numa região que a palavra jamais atingiu.” (Cartas a um Poeta”, Portugália Edt., pág. 15, Lisboa, s.d.)
Como quer que seja, consciente qual, como e do que seja cada um de nós, com mais ou menos “categorias ou filtros sociais linguísticos”, cada um apreenderá o mundo, os outros e a si mesmo de modo singular e único.
Jamais teremos a certeza, mas, muito provavelmente, vários seres humanos perante o mesmo facto, perante a mesma pintura, escutando a mesma peça musical, tocando a mesma mão de outrem, respectivamente apreendê-lo-ão de modo diferente e dar-lhe-ão sentidos diversos, vê-lo-ão cada um a seu modo, escutá-lo-ão de acordo com a sua específica sensibilidade e, ao toque, tal ou tal mão dará a cada um uma emoção ou comoção única e diversa de cada um dos outros.
Essa provavelmente não é a nossa menor limitação, mas talvez seja a nossa mais preciosa riqueza: sermos como humanas "impressões digitais” do Ser, que em cada alma é única e igual a nenhuma outra.
E é, sobretudo, essa "qualquer coisa" indizível, perante a qual, há muito, sábios e filósofos, poetas e místicos, e agora também cientistas nos asseveram esbarrar, todos por igual abismados perante o mistério insondável que a tudo subjaz.

P.S.
Caro(a) K. o “tal qual” está, presumivelmente, num “plano” ou “estágio” do “caminho” “onde” não há separável nem inseparável, nem jogo ou i-lusão, ou o contrário dum e doutro, que revele ou re-vele pelas criações da mente: isto porque, também presumivelmente, a mente então “já não” existe, “já não” está, “já não” é o que é “agora” - o que seja ou não seja ela, ou se seja ela alguma coisa que não uma “vacuidade” vazia da própria polaridade de vazio e não-vazio.

Quanto à sexualidade (2º round!): não se trata de querer ou não querer falar.
Trata-se tão-só, como eu já aqui referi, de ser ou não propositado fazê-lo na circunstância e no contexto de quanto aqui se tem estado a “debater”.
Se o meu/minha amigo/amiga quiser mostrar a pertinência de fazê-lo, aqui e agora, e o que seja nisso pertinente, sempre muito agradeço que se mo faça.
Por que não sugere uma questão ou tema? Obrigado.

Luiz Pires dos Reys disse...

(Errata: na última linha do meu anterior comentário, onde se lê "por que" deve evidentemente ler-se "porque".)

Anónimo disse...

Lapdrey, você é que foi buscar a Magick e o Aleister Crowley... Como falar disso sem falar do recurso à energia sexual? Claro que há quem o ignore, como se vê.

Quanto ao resto, falo de coisas que pelos vistos não conhece nem tem de conhecer... Mas também não se argumentam.

Luiz Pires dos Reys disse...

K,
É sempre "pormo-nos excessivamente a jeito" e possibilitarmos um tirinho no pé (ou nos dois, até) o estendermo-nos quanto ao que os outros saibam ou não saibam, queiram ou não queiram, e porque queiram ou não queiram.
Calar sobre algo é não saber sobre tal ou tal algo? Não me parece. Principalmente quando calá-lo melhor "fale" e porventura mais argumente, do que falando.
Continuo, porém, a aguardar que me dê a "honra desta dança" crowleiana. Ou prefere sarabanda? Eu danço conforme o par, ou o ímpar...
Venha a música, K.! Ou será que temos só "faz que chuta"...?!
O Crowley pode ter sido muitas coisas e não ter sido outras que talvez devesse ter sido, mas não era "isso" ... cão que ladra e...

Anónimo disse...

Caríssimo Lapdrey,

Cá venho outra vez, sei e não sei porquê.
Sem querer entrar em conceitos filosóficos onde decerto me perderia, por não dominar os instrumentos do discurso racional filosófico, mas, mesmo assim, não me negando a um aprofundamento do tema aqui colocado, a minha intervenção vem no sentido de sugerir, no que fiz, de que trazer para a discussão a teoria da navalha de Guilherme de Occam pode ou não ser produtivo, para a discussão em presença.!? A simplicidade, apesar de enganosa é por vezes grande auxiliadora dos mais complexos e intrincados problemas lógicos ou matemáticos. Tal como a alguns é dado ver a beleza extrema numa equação, e daí retirar o assentimento da sua verdade, também onde por vezes não chega a razão discursiva, a arte, mormente a poesia, é a intuição certa e talvez a porta por onde se intui o mistério que a tudo subjaz.
Até mesmo no domínio das religiões (em estudos sobre o budismo e a física quântica) essas “portas” se comunicam. Sabemos que na Casa do Pai há muitas moradas, muitas vias. E que a linguagem do Ser, Heidegger o diz, é a mesma poesia.
Já agora, antes que venha a resposta, se vier, também acho que a palavra cria o sentido das coisas, sim, e mais, cria as coisas mesmas. Como no princípio...assim será no fim...

PS.Sem querer, entendam, desviar um milímetro do tão prometido "baile" da sexualidade, onde, naturalmente, não entro.

Um abraço

Anónimo disse...

Castrados ou assexuados?

Luiz Pires dos Reys disse...

A questão do “dilema” (se o há) entre simplicidade e complexidade é sempre pertinente, com certeza, cara amiga Saudades, se bem que me pareça que devamos introduzir também na ponderação a noção de pluralidade e interagência.
O simples, creio, está nos extremos "superior" e "inferior" (superno e inferno?) da escala de consideração dos problemas, ou seja, no limite ele está aceitavelmente em Deus e nos fenómenos mais imediatos da natureza.
Tal favorece a simplicidade da dilucidação de tais “pólos” da consideração: um, Deus, porque é tido como necessária e essencialmente simples (coisa a ver, se Deus cabe, na verdade,em tais de-limitantes determinações); os outros porque, sendo múltiplos na sua manifestação, são aparentemente simples na sua explicação. Talvez o não sejam.
Porém, quando transpomos isso para aquela franja da expressão compreensiva da realidade que exige precisamente a interacção de determinações atribuídas a Deus e atribuídas à natureza, para uma explicação aceitavelmente razoável, isso desde logo parece fazer a razão patinar em seu mesmo terreno pantanoso.
Daí que eu, concordando embora em que simplicidade seja em tudo sempre desejável (‘pluralitas non est ponenda sine neccesitate’, como assevera Occam, ao que parece), não posso fugir à igual evidência de que a simplicidade aparenta esconder, em tal modo “concentradamente simples”, a complexidade que repassa em toda a parte no todo.
Como Arthur Koestler sustenta (in “Janus – Uma Sinopse”, Ed. Melhoramentos, São Paulo, 1981) a propósito do que aqui falamos (e perdoe-se a longa, mas inevitável, citação):

"1. O Hólon
1.1 O organismo, em seu aspecto estrutural, não é apenas uma agregação de partes elementares e, em seus aspectos funcionais, não é uma cadeia de unidades elementares de comportamento.
1.2 O organismo deve ser visto como uma hierarquia de muitos níveis de subtodos semi-autónomos, que se ramificam em subtodos de um nível inferior, e assim por diante. Os subtodos de qualquer nível da hierarquia recebem o nome de hólons.
1.3 Partes e todos, em sentido absoluto, não existem nos domínios da vida. O conceito de hólon destina-se a conciliar os enfoques atomista e holista.
1.4 Os hólons biológicos são sistemas abertos auto-reguladores que possuem tanto propriedades autónomas de todos como propriedades dependentes de partes. Essa dicotomia está presente em cada nível de cada tipo de organização hierárquica, e recebe a denominação de "fenómeno de Jano".
(…)
“4.1 Cada hólon possui a dupla tendência de preservar e afirmar sua individualidade como um todo quase autónomo e de funcionar como parte integrada de um todo maior (existente ou em evolução). Essa polaridade entre as tendências auto-afirmativa e integrativa é inerente ao conceito de ordem hierárquica, e também é uma característica universal da vida.
As tendências auto-afirmativas são a expressão dinâmica da totalidade do hólon e as tendências integrativas manifestam sua parceria.
4.2 Uma polaridade análoga existe na interacção das forças coesivas e separativas dos sistemas inorgânicos estáveis, desde os átomos até as galáxias.”

Ao que parece, "simplicidade" e "complexidade", "parte" e "todo" são, a um tempo, existentes em toda a parte e em todos os níveis da realidade, bem como também em parte exclusiva alguma.

Anónimo disse...

Hi, tanta conversa... do desafio do K ninguém fala!

Luiz Pires dos Reys disse...

Qual desafio? E qual K.?

Anónimo disse...

Tu és mesmo como todos os homens... Blá, blá blá blá e blá blá, blá e blá blá... e na hora "H": Adeusinho!
Muita argumentação, muita argumentação e pelos vistos pouca capacidade de veneração. Na falta do Crowley, na fuga do Lapdrey, e retirada do K, vem tu ó Casto Severo, que eu já estou desnudada!

Anónimo disse...

Já percebi o que queres, Ninettezinha querida! Concentra-te então, porque quando chegar o momento H aquilo que desejares tem mais possibilidades de se realizar... Será isto de que falava o K?

Luiz Pires dos Reys disse...

Pronto! Chegaram ao "ponto"! Era de prever.
Está a ver, ó K.!
Não há condições "técnicas"...
(Be patient, Master Therion!)

Anónimo disse...

hum... isto está a aquecer! vamos lá ver quem desiste.

Anónimo disse...

Um bando de idiotas à volta dum blog: é isto a pós-modernidade...

Anónimo disse...

Sorrio ...


Tarde demais, X querido! A Ninettezinha querida, partiu e não volta. Bom Ano!