O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

NATAL (Fernando Pessoa)

Nasce um deus. E outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.

9 comentários:

platero disse...

Belo?
Eficaz?
Claro-como tudo de Pessoa

Bom Natal

Anónimo disse...

Caros Margarida e Platero,

Hoje a Serpente parece não ter portas nem janelas (alguma vez as teve?) A verdade é que entro por um lado, saio por outro, enfim... é muita canseira para a minha febre. Para dizer que gostei do que trouxeste Margarida. Muito.

E também (maior verdade ainda) para cumprimentar o meu amigo Platero: Platerito, irmão jardineiro de rosas,inventor de sonhos e matemáticas, um dia te devolvo os livros que não me deste e só me emprestaste e deste outros. Mas porque será que não nos vemos? Aqui tão próximos.

Um Natal cheio de natais e um cabaz de muitas quadras "p'rapularmos"

Beijo e Saúde.

platero disse...

Saudades

às vezes até me divirto com minhas tonterias.
O´Neil, de quem gosto assim também a transbordar, dizia que alguns dos seus poemas "nem para atacadores".Eu - das minhas versalhadas diria bem pior. Só não faço para não profanar o espaço.

mas escrevia um dia num bilhete de cinema ou em suporte igualmente exíguo. Topa-me só a modéstia:

Pessoas
acredito em uma só
e é quando
sou eu
ou é Fernando

obra, não é? esta minha relação umbilical ao Mestre - o que me levou a parabenzar a Margarida. Ela que me perdoe

Anónimo disse...

Platero,

É tão verdade isso, que esse mesmo bilhete ou outro aparentado (desculpem esta conversa de velhos amigos)apareceu, lio-o eu, num dos que me fizeste chegar. Estranhei imenso, mas não liguei. Já na altura te sabia louco e não pouco.

Bisando beijos e comprimentos bem medidos.

PS. Acho que o antibiótico está a fazer efeito. Daqui a pouco estão aí uns 300 a perguntar onde os comprei...:)

Anónimo disse...

Estultícia: tudo é oculto menos o sê-lo... Quando nos livraremos da pessoana peçonha? Nunca um indivíduo fez tanto mal a um povo e a uma cultura: e o que é pior é que o vírus se tornou epidémico.

Anónimo disse...

Tornaram o Pessoa o alter-ego de todos os portugueses e agora culpam-no disso... Mas a verdade é que ele muito fez por tal... até o que não fez.

Anónimo disse...

A Serpente não tem mesmo portas nem janelas. Não, não é da constipação é mesmo da senhora da mesma rima...
Depois do vómito, só faltava mesmo a "peçonha" que, cada um a seu modo, dão o toque exótico que faltava a esta folia natalícia (digo eu, blog de loucos!) Aqui vai um conselho que espero lhe dê alívio:

Pois, Maria da Conceição
Que não enfraqueça do coração
Já que Pessoa a põe assim
Deve benzer-se com alecrim.

Se o não tiver à mão não faz mal
Deixe no dedo os seus anéis
Pois que a seguir ao Natal
Vem sempre o dia de Reis.(?)

Se ainda assim não lhe agradar
Em água de rosas deve tocar
Desinfectar também os mantos
Não vá vir também o A..... de C.....

Hé gente doida! que faz do Natal Carnaval.

Não leve a mal, Maria,
Esta feliz arrelia
Sorria, que a vida é bela
E vai nascer o menino
Filho da Virgem Maria,Ela.

Pronto: Bom Natal! Já disse.

Luiz Pires dos Reys disse...

Entre o endeusamento e a repulsa que nos extremam e anquilosam está a nunca equidistante mediania que ambas avista e despede, terra de ninguém da indiferença.
Não se importe excessivamente com vírus, viroses e epidemioses, cara Maria da Conceição.
Não é preciso ser médico para se saber que toda a doença contém em si o próprio germe anti-virótico necessário para a cura da infecção.
Seja como for (e, como for, que o seja) ninguém escapa hoje, mesmo quem tal vírus rejeite: todos somos pessoanamente seropositivos, minha amiga.
Uns de nós o transmitem, outros apenas o transportam em si: todos, porém, dum modo ou doutro, lhe são tributários – pelo nojo ou pela gratidão.
O “estar de nojo”, naquele quiçá injustamente obsoleto sentido da palavra, tem poder da catarse do vómito, como já por aqui se esgrimiu entre arrazoados e sem-razões. É tal nojo coisa com final seguro, mas não detectável início.
O estar grato, ao contrário, é coisa com início bem mais definido, mas sem final necessariamente à vista.
É como avistar terra, depois de longa viagem: exulta-se em tal ver, mas, já antes de aportar, a saudade antecipa-se-nos e fundo nos macera pela perda da valia que houve toda a viagem – sucessos e insucessos dela, perdas e ganhos pelo e no caminho - tudo é mais-valia para o que achamos, no fundo, tão em si sem valor: o ter chegado.
Com Pessoa ou sem ele, com mais Fernando, Álvaro, Alberto, Ricardo, Bernardo ou algum outro: isso é, amiga, população que já não arreda, queira-o ou não.
Os vivos sempre tratam de, sabendo-o ou não, deixar a marca com que se marquem e demarquem.
Como em Camões - tal como com qualquer humano titã que se haja de si esvaziado de tal sorte que destino e fortuna nele tenha logrado achar comum morada de ambos – assim com vieira, pascoaes, marinho ou agostinho, e os outros, a não-maiúscula os não fere na altura e fundura de aonde foram em sua vida, via, viagem e porventura até miragem: assim mesmo, com isso tudo, serão sempre tropos vivos e lugares mentais de alguma coisa, não excessivamente grande talvez, mas quase certamente demasiado enorme para a nossa mediana pequenez e, neles, a apenas enorme pequenez de nada rejeitarem e tudo aceitarem, tudo visarem e nada terem por perdido, nada terem por seu, para tudo poderem ter em galardão de todos e de ninguém.
Nisso são grandes: no serem de ninguém, e ninguém lhes ser indiferente.
A prova disso mesmo, minha amiga, é que disso estamos aqui hoje a falar...

P.S. De tal forma assim é que até as "quadras a gosto popular" aqui vieram arrimar-se.(Boa, cara Saudades!)

"Nasce um deus. E outros morrem. A Verdade..."

Anónimo disse...

Estultíciem-mos!