O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ágape


Temos o espírito encarnado na pele,
por isso os poros falam de almas
e os corpos vazios ficam longe do leito
a brincar, a rir, meninos,
a dormir logo
no berço limite das fontes de Eros.
Quiçá volte Eros, quiçá volte,
mas ao Ágape, estamos convidados
em lugar de honor,
semeias-me desde o ventre,
e, em linha ascendente,
geras verbo na garganta
invades-me de versos
que me alcançam,
e perdes-te logo no horizonte,
para além das montanhas e dos rios.
Tenho ainda o sabor da primeira maçã,
a que ficou no coração,
a que nasceu da macieira da esperança
cultivada em longos anos de dor
quando eu era aprendiz da paz e da palavra...
...a maçã doce e ácida que partilhei contigo,
a que saboreamos com inocência,
com mãos longas e abertas,
antes do dia cinzento dos nossos maremotos
o de Lisboa, o da Costa Atlântica.

Quando as terras assentem a sua linha,
quando os rios recuperem a sua cunca,
teremos que abraçar as macieiras,
pedir-lhe frutos novos
e banquetes de sol e ternura,
de paz e de fartura
de magia e de música,
ágapes verdes a beira-mar,
dos que sempre se deram nesta terra,
ao som da gaita e o pandeiro,
à sombra do adro,
no palco vivo de Castro Buxão.

11 comentários:

Anónimo disse...

Iolanda, parabéns pelo belo poema, com sabor a maçãs verdes, trincadas entre risos e carícias. Quer-nos falar da vivência do Eros galaico?

Anónimo disse...

Dançaremos num Beijo vivo, por entre prados e fontes, com o Sol e a Lua entrelaçados nos ventres! Assim seja!

Anónimo disse...

os amores passados continuam a existir no tempo e no espaço(noutro espaço), um dia retornaremos.

Iolanda Aldrei disse...

Esse Eros galaico e saudoso que se torna Ágape quando, assim é, existem ainda no tempo e no espaço que retornam.

Iolanda Aldrei disse...

Um abraço, meus amigos!

Anónimo disse...

assinei como anónimo, mas o meu nome é baal

Paulo Borges disse...

Poderoso poema o seu, Iolanda, que até fez ressurgir o mítico fundador de Portugal, Irlanda e Escócia, Gatelo/Miledh/Mil!...

Iolanda Aldrei disse...

Obrigada Paulo, um abraço ... Mil deixou as saudades na terra, e o tempo do eros a viver.
Um prazer Baal... sempre!

Ficam convidados a um recital em Compostela, com os poemas da Terra Verde... no Modus Vivendi, amanha, pelas 21 h.... Se nao pode ser o corpo, deixem chegar os espíritos.

Anónimo disse...

conheço.

Anónimo disse...

Parabéns a você
nesta data querida
muitas felicidades
muitos anos de Vida...

Feliz Aniversário querida Serpente Emplumada!

Iolanda Aldrei disse...

Obrigada Sta Alice, que sejam muitos! e parabens a todos e todas as crianças e criaturas da serpente.