O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Até quando..?

Oh reflexo meu 
Espelhado em todo o lado
na ignorância da realidade. 
Critico e condeno
Reescrevo o fado
Ignoro a plena verdade.

É fácil construir, remendar
Encontrar mácula na limpidez
Mais díficil é simplesmente dar
Conceder a nossa vez.

Nagarjuna e desconstrucção
duas palavras a reter
Sabedoria e Compaixão
Luminosidade do ser.

E na Vacuidade buscamos
E perdemos a nitidez.
Cegos e surdos negamos
A nossa plena nudez.

Neste teatro existencial
meras bolhas de vapor
vivem embriagadas.
Onda ilusão mar real
Misto de alegria e dor
Vida e morte
                      de mãos dadas.

E como criamos o mundo
Moldamos barro em escultura
e areia em castelo.
Se tocamos no fundo
Adornamos a sepultura
Esquecemos nosso elo.

Viver é criar
um quadro existencial
na paleta da ilusão.
Escolher sempre Amar
o exótico, o banal,
raízes plenas no chão.

E poder transformar
o impuro em imaculado
e rir com imaginação.
Escutar ondas no mar
Esquecer do passado
Saborear com o coração.

E na magia da poesia
tecemos o nosso manto
pintamos as nossas flores.
Na palavra vazia
Entoamos um canto
das mais diversas cores.

Enquanto o louco dança
Embriagado, em êxtase
na eterna espiral.
A humanidade cansa
numa eterna corrida
em nada real.

E, por vezes,
no Sol da aurora
no cristal do amanhecer.
Sinto que em mim mora
Lágrimas do teu pleno ser.

O peso desta loucura
arrebata-me violentemente
num contínuo desfalecer.
E somente me pergunto
até quando a vontade
de cegamente viver?

No verde da imobilidade
desabrocham petúnias,
malmequeres, orquídeas.
E na infinita virgindade
apagam-se calúnias,
violência, mentiras.

O louco respira
no ventre da natureza
nas nuvens de um azul céu.
E o cego grita
em busca da pureza
do vislumbre além véu.

Querer evoluir e mudar
Crescer. Ser. Somente Estar.
Pintura suave delicada
Auto-imposto espelho
Realidade deveras criada.

Até quando a ilusão...?

Maria João Frade

4 comentários:

Anónimo disse...

Até quando tu?

Luiz Pires dos Reys disse...

A resposta parece-me mais do que óbvia!
Até quando você, interrogativo?...

Anónimo disse...

Até quando permaneceremos reféns da ilusão de haver respostas e de termos de contra-atacar quando alguém ataca?

Luiz Pires dos Reys disse...

Será o óbvio, contra-ataque?
O óbvio não é pergunta nem resposta. É simples constatação do "de per se"
E pergunta, é contra-ataque também?
Quem respondeu foste tu, gárgula.
Eu (apenas) formulei uma pergunta...
Pela tua ordem de ideias, se há reféns da ilusão de haver respostas, há também reféns dos reféns da ilusão de haver respostas: é o teu caso, que contra-respondes quando alguém (dizes)ataca, mas apenas afirmou ou interrogou ...
(Estás com o sapato fora do pé: ou será o pé fora do sapato? Olha, fica a pensar nesta...)