“Receio que não alcances Meca,
Ó Nômade! — Pois a estrada que estás
seguindo conduz ao Turquestão.”
Xeque Saadi, Jardim das rosas,
“Sobre as maneiras dos dervixes”
Eu estava sentado, um dia, no círculo de um mestre sufista no norte da Índia, quando se apresentou um jovem estrangeiro. Beijou a mão do xeque e começou a falar. Durante três anos e meio, disse ele, estudara religiões, misticismo e ocultismo em livros, na Alemanha, na França e na Grã-Bretanha. Mudara-se de uma sociedade para outra, à procura de alguma coisa que o conduzisse ao Caminho verdadeiro. A religião formal não o atraía. Reunindo todo o dinheiro em que lhe fora possível pôr as mãos, viajara para o Oriente e vagueara de Alexandria para o Cairo, de Damasco para Teerã, através do Afeganistão, da Índia e do Paquistão. Estivera na Birmânia e no Ceilão, assim como na Malaia. Em todos esses sítios conversara com mestres espirituais e religiosos, e fizera muitas anotações.
Não havia dúvida de que cobrira imensa área de terreno, tanto físico como espiritual. Queria juntar-se àquele xeque porque desejava fazer algo prático, çoncentrar-se em idéias, aprimorar-se. E exibia todos os sinais de estar mais do que preparado para submeter-se à disciplina de uma ordem de dervixes.
Perguntou-lhe o xeque porque rejeitara todos os outros ensinamentos. As razões eram várias, respondeu; diferentes em quase cada caso. — Diga-me algumas — pediu o professor.
As grandes religiões, disse ele, não pareciam aprofundar-se o bastante. Concentravam-se em dogmas, que tinham de ser aceitos antes de qualquer outra coisa. O zen, tal e qual o conhecera no Ocidente, estava fora do contato com a realidade. A ioga exigia uma disciplina férrea se se quisesse que fosse “algo mais do que uma moda”. Os cultos centralizados na personalidade de um homem estribavam-se na concentração sobre esse homem. Não conseguia aceitar o princípio de que a cerimônia, o simbolismo e o que chamava de simulacro das verdades espirituais tivesse alguma realidade verdadeira.
Entre os sufis com os quais entrara em contato, tivera a impressão de que prevalecia um modelo semelhante. Alguns tinham um discipulado entusiasta, alguns utilizavam movimentos rítmicos, que mais pareciam a caricatura de alguma coisa. Outros ensinavam por meio de recitativos indistinguíveis de sermões. Outros ainda se concentravam em temas teológicos.
Estaria o xeque disposto a ajudá-lo?
— Mais do que imagina — respondeu o xeque. — O homem está em desenvolvimento, quer o saiba, quer não. A vida é uma, una, se bem que em algumas formas pareça inerte. Enquanto você viver, estará aprendendo. Os que aprendem através de um esforço deliberado para aprender estão diminuindo o saber projetado sobre eles no estado normal. Homens incultos têm amiúde certo grau de sabedoria porque permitem o acesso dos impactos da própria vida. Quando você anda pela rua e olha para as coisas ou para as pessoas, as impressões que recebe o estão ensinando. Se tentar ativamente aprender com elas, aprenderá certas coisas, mas coisas predeterminadas. Você olha para o rosto de um homem. No momento em que põe os olhos nele, acodem-lhe perguntas, que são respondidas por sua própria mente. É moreno, é louro? Que espécie de homem será? Verifica-se também um intercâmbio constante entre a outra pessoa e você.
“Esse intercâmbio é dominado pela sua subjetividade. Com isso quero dizer que você vê o que deseja ver, numa ação que se tornou automática; você é como uma máquina, mas também é um homem, embora superficialmente treinado. Olha para uma casa. As características gerais da casa estão divididas em elementos menores e avaliadas em seu cérebro. Mas não objetivamente — apenas de acordo com suas experiências anteriores. Essas experiências no homem moderno incluem o que lhe disseram. Destarte, a casa será grande ou pequena, mais bonita ou menos bonita; parecida com a sua ou diferente dela. Mais circunstanciadamente, terá um teto como qualquer outra, ou terá janelas inusitadas. A máquina gira em círculos, porque está simplesmente acrescentando coisas ao seu conhecimento formal.”
O recém-chegado parecia perplexo.
— O que estou tentando transmitir — prosseguiu o xeque, inexorável —, é que você avalia as coisas de acordo com idéias preconcebidas, o que é quase inevitável para o homem intelectual. Chegou à conclusão de que não lhe agradam símbolos em religião. Muito bem, você procurará uma religião sem simbolismo. — Fez uma pausa. — Não é isso o que quer dizer?
— Quero dizer que o emprego do simbolismo por diversas corporações não me parece genuíno nem necessário — retrucou o jovem.
— Isso significa que você reconheceria, se a encontrasse, uma forma correta de empregar os símbolos? — indagou o mestre.
— O simbolismo e o ritual, para mim, não são fundamentais — volveu o aspirante a discípulo —, e são as coisas fundamentais que estou procurando.
— E reconheceria uma coisa fundamental se chegasse a vê-la?
— Creio que sim.
— Então as coisas que dizemos e fazemos lhe pareceriam meras questões de opinião, ou tradição, ou superficialidade; porque nós usamos símbolos. Outros usam cânticos, movimentos, reflexão, e silêncio, concentração e contemplação; uma dúzia de outras coisas.
O xeque fez uma pausa.
O visitante disse:
— Acredita que a exclusividade do judaísmo, os rituais do cristianismo, o jejum do islamismo, a cabeça raspada do budismo, são fundamentais?
O nosso hóspede estava abordando agora um tema intelectual característico.
— Consoante a máxima sufista, “o aparente é a ponte para o Real” — redargüiu o xeque. — O que significa, no caso que estamos considerando, que todas essas coisas têm um significado. O significado pode ter-se perdido, a execução talvez não passe de simples arremedo, a representação sentimental ou incompreendida de um papel. Entretanto, corretamente usadas, elas estão relacionadas, num sentido de continuidade, com a verdadeira realidade.
— Com que, então, originalmente, todo ritual é significativo e tem um efeito necessário?
— Essencialmente, todo ritual, simbolismo, etc., é o reflexo de uma verdade. Pode ter sido engenhado, adaptado, desviado para outros fins; mas representa uma verdade, a verdade interior do que nós denominamos o Caminho do sufi.
— Mas os praticantes não sabem o que significa?
— Eles podem saber num sentido, num só nível; um nível suficientemente profundo para propagar o sistema, Mas quanto a alcançar a realidade e o autodesenvolvimento, o uso dessas técnicas não vale nada.
— Nesse caso — voltou o estudante —, como saberemos quem está usando os sinais exteriores da maneira correta, da maneira do desenvolvimento, e quem não está? Posso admitir que as indicações superficiais têm um valor potencial, visto que podem conduzir a alguma coisa diferente, e temos de principiar por algum lugar. Mas, quanto a mim, eu não saberia lhe dizer que sistema eu gostaria de seguir.
— Há poucos instantes, você solicitava admissão ao nosso círculo — tornou o xeque —, e agora consegui deixálo tão confuso que se reconhece incapaz de julgar. Pois bem, essa é a essência do problema. Você não pode julgar. Não pode usar os instrumentos de um carpinteiro para fazer um relógio. Impôs-se uma tarefa: encontrar a verdade espiritual. Procurou-a nas direções erradas e interpretou-lhe as manifestações da maneira errada. Será de se admirar que esteja nesse estado? Mas tal como é agora, há outra alternativa para você. A concentração excessiva sobre o tema, a ansiedade e a emoção que o dominam, acabar-se-ão amontoando de tal maneira que o obrigarão a procurar um alívio. Então, que acontecerá? A emoção inundará o intelecto; e você odiará a religião ou, o que é mais provável, converter-se-á a algum culto que assuma a responsabilidade. Você se tranqüilizará com a noção de haver encontrado o que procurava.
— Não há outra alternativa, mesmo presumindo que eu aceite a sua crença de que minha emoção poderá inundar meu intelecto? O adestramento intelectual desaprova qualquer insinuação de que ele não é abrangente; nem de que pode ser inundado pela emoção. — A leve aspereza do tom indicava que o pensador estava se afirmando.
O xeque deu-se conta disso.
— A alternativa, que você não aceitará, é alhear-se. Veja bem, quando nos alheamos, não o fazemos da maneira como você o faz. O intelecto o ensina a alhear a mente de alguma coisa e considerá-la intelectualmente, O que temos de fazer é alhear-nos não só do intelecto, mas também da emoção, Como você pode ser acessível a alguma coisa se está usando o intelecto para julgá-la? O seu problema é que você chama intelecto, na verdade, a uma série de idéias que alternadamente tomam posse da sua consciência. Não consideramos o intelecto suficiente. Para nós, o intelecto é um complexo de atitudes mais ou menos compatíveis que você decidiu considerar como coisa simples. De acordo com o pensamento sufista, existe um nível abaixo desse, que é um nível único, pequeno, porém vital. E o verdadeiro intelecto, o órgão da compreensão, que existe em todo ser humano. De tempos a tempos, na vida humana comum, ele irrompe e produz fenômenos estranhos, que não podem ser explicados pelos métodos usuais, às vezes chamados fenômenos ocultos, às vezes havidos por uma transcendência da relação do tempo ou do espaço. Esse é o elemento do ser humano responsável por sua evolução para uma forma mais elevada.
— E devo aceitá-lo em confiança?
— Não, não pode aceitá-lo em confiança, ainda que o queira. Se o aceitasse em confiança, logo o abandonaria. Ainda que estivesse intelectualmente convencido de que ele é necessário como hipótese, poderia perdê-lo. Não, você precisa experimentá-lo. O que quer dizer, naturalmente, que terá de senti-lo de um modo como não sente nada mais. Penetra em sua consciência como uma verdade, diferente, em qualidade, das coisas que está acostumado a considerar verdades. Por sua própria diferença você conhece que ele pertence à área que nós denominamos “a outra”.
Para o nosso visitante isso foi difícil de engolir, de modo que ele voltou à sua maneira estabelecida de pensar.
— Está tentando produzir em mim a convicção de que existe alguma coisa mais profunda, e que eu a sinto? Porque, se não estiver, não vejo por que gastar tanto tempo numa discussão como esta.
— Estou certo de que me achará muito rude — volveu o xeque amável —, mas sou obrigado a dizer que as coisas não são como as vê. Pense bem, você chega aqui e se põe a falar. Eu lhe respondo. Em conseqüência da nossa conversação e dos nossos pensamentos, muitas coisas acontecem. No que lhe diz respeito, tudo o que aconteceu foi que conversamos. Você pode sentir-se convencido, ou não. Para nós, o significado de todo acontecimento é muito maior. Alguma coisa está acontecendo em resultado dessa conversa. Está acontecendo, como bem pode imaginar, nas mentes de todas as pessoas que estão aqui. Mas outra coisa também está acontecendo — para você, para mim, para outros. Alguma coisa que você compreenderá quando a compreender. Tome-a no nível muito simples da causa e do efeito tal como é normalmente compreendida. Um homem entra numa loja e compra um pedaço de sabão. Em virtude dessa compra, muitas coisas podem acontecer — o dono da loja ganha mais esse dinheiro, é possível que encomende mais sabão, etc. As palavras pronunciadas no decurso da transação têm um efeito, conforme o estado de espírito das duas partes. Quando o homem sai da loja, há em sua vida um fator adicional, que não existia antes — o sabão. Muitas coisas podem acontecer em resultado disso. Mas para as duas personagens principais, tudo o que realmente aconteceu foi o pedaço de sabão ter sido comprado e pago. Eles não se dão conta das ramificações do fato, que pouco lhes interessam. Somente quando acontecer alguma coisa digna de nota — do ponto de vista deles — é que tornarão a pensar nisso. Nesse caso, dirão: “Vejam só, o homem que me comprou o sabão era um assassino”; ou talvez fosse um rei. Ou talvez tivesse efetuado o pagamento com uma moeda falsa. Toda ação, como toda palavra, tem um efeito e um lugar. Esta é a base do sistema sufista, que é um sistema sem sistema. E, como você deve ter lido em inúmeras histórias, o sufi se move no meio do incrível complexo de ações e acontecimentos num estado de consciência íntima do significado deles.
— Percebo o que quer dizer — acudiu o visitante —, mas não posso experimentá-lo. Se for verdade, explicará grande número de coisas. Alguns sucessos ocultos; experiências proféticas; o malogro de todos, com exceção de pouquíssimas pessoas, na resolução de enigmas da vida com a simples reflexão sobre eles. E poderia também significar que uma pessoa que tem consciência dos complexos desenvolvimentos registrados à sua volta pode harmonizar-se com eles num grau impossível a outros. Mas, para tentá-lo, eu teria de deixar de lado todos os meus conhecimentos anteriores. E não poderia fazer uma coisa dessas.
O xeque não queria uma vitória verbal e, por isso, não desferiu o coup de grâce.
— Meu amigo, certa vez um homem quebrou a perna. Foi-lhe preciso andar com a ajuda de muletas. Essas muletas lhe eram muito úteis, não só para caminhar, mas também para inúmeros outros propósitos. Ele ensinou toda a família a andar de muletas, que se tornaram parte de sua vida normal. Todo mundo ambicionava possuir muletas. Algumas eram feitas de marfim, outras enfeitadas de ouro. Fundaram- se escolas para exercitar as pessoas no uso das muletas, cadeiras de universidade passaram a versar os aspectos mais nobres dessa ciência. Mas umas poucas, pouquíssimas, pessoas principiaram a andar sem muletas. Isso foi considerado escandaloso, absurdo. De mais a mais, havia tantas utilidades para as muletas! Algumas dessas pessoas recalcitraram e foram punidas. Elas tentavam demonstrar que as muletas podem ser usadas às vezes, quando necessário. Ou que muitos empregos das muletas podiam ser substituídos. Poucos as ouviram. Com intenção de superar os preconceitos, as pessoas capazes de andar sem ajuda passaram a comportar-se de maneira totalmente diferente da sociedade estabelecida. Mesmo assim continuaram sendo em número reduzido.
“Quando se descobriu que, depois de usar muletas por tantas gerações, pouca gente, na verdade, conseguia caminhar sem elas, a maioria ‘provou’ que elas eram necessárias. ‘Aqui’, disseram os defensores das muletas, ‘aqui está um homem. Tentem fazê-lo andar sem muletas. Estão vendo? Não pode.’‘Mas nós estamos andando sem muletas’, intervieram os andantes comuns. ‘Isso não é verdade; é apenas fantasia de vocês’, retorquiram os aleijados — porque, a esse tempo, estavam ficando cegos também; cegos porque não podiam ver.”
— A analogia não se ajusta perfeitamente — disse o jovem.
— E alguma analogia se ajusta perfeitamente? — perguntou o xeque. — Não vê que se eu pudesse explicar tudo com facilidade e de maneira completa, por meio de uma história singela, esta conversa não seria necessária? Só as verdades parciais se expressarr exatamente por analogias. Por exemplo, posso dar-lhe um modelo perfeito de um disco circular, e você poderá fazer drie milhares de cópias, cada uma das quais poderá ser a duplicata das outras. Mas todos sabemos que um círculo é apenas relativamente circular. Aumentem-se-lhe as dimensões proporcionalmente várias centenas de vezes, e ver-se-á que ele deixa de ser um círculo verdadeiro.
— Esse é um fato da ciência física; sei que todas as leis científicas são apenas relativamente verdadeiras. A própria ciência o admite.
— E, no entanto, você procura a verdade completa utilizando métodos relativos?
— Com efeito, e o senhor faz o mesmo, pois disse que os símbolos e quejandos são “pontes para o real”, conquanto sejam incompletos.
— A diferença está em que você escolheu um único método de enfocar a verdade. Isso não basta. Fazemos uso de muitos métodos diferentes e reconhecemos que há uma verdade que é percebida por um órgão interno. Você está tentando ferver água, e não sabe fazê-lo. Nós fervemos água reunindo certos elementos — o fogo, o recipiente, a água.
— Mas, e o meu intelecto?
— Terá de encontrar sua perspectiva correta, seu próprio nível, quando for suprida a atual falta de equilíbrio da personalidade.
Quando o visitante saiu, alguém perguntou ao sábio:
— Quer comentar a entrevista?
— Se eu a comentasse — redargüiu ele — ela perderia a sua perfeição.
Todos tínhamos aprendido, cada qual segundo o seu status.
A doutrina sufista do equilíbrio entre extremos tem diversos significados. Quando se aplica ao discente, à capacidade de aprender com outra pessoa, significa que o indivíduo precisa livrar-se do pensamento incorreto antes de poder começar a aprender. O nosso candidato ocidental a discípulo tem de aprender que não pode trazer suas suposições acerca da própria capacidade de aprender a um campo em que não sabe, de fato, o que está tentando aprender. Só sabe realmente que está insatisfeito. O resto é a sua própria coleção de idéias sobre a causa possível da insatisfação, e uma tentativa para encontrar a cura da doença que diagnosticou sem primeiro perguntar a si mesmo se era capaz de diagnosticar.
Escolhemos um incidente real que envolveu um ocidental; mas essa maneira de pensar não se limita ao Ocidente. De maneira semelhante, o extremo oposto — o homem que quer submeter-se completamente à vontade do mestre —, o qual, segundo se afirma, caracteriza a mentalidade oriental, é quase inútil. O aspirante precisa, primeiro, adquirir alguma medida de equilíbrio entre os dois extremos antes de poder dizer que possui a capacidade de aprender.
Ambos os tipos chegam a conhecer sua capacidade de aprender principalmente através da observação do mestre sufista e da sua maneira de proceder. Como o exemplo humano, seus atos e ditos são a ponte entre a relativa incapacidade do aluno e a posição de ser um sufi. Menos de uma pessoa em cem terá normalmente alguma concepção de qualquer um desses dois requisitos. Se o estudante, mediante cuidadoso exame da literatura sufista, tiver um vislumbre do princípio em que se fundamenta o aprendizado, terá sido mais do que bem-afortunado.
Poderá encontrá-lo em material sufista, contanto que esteja preparado para lê-lo e relê-lo, para disciplinar-se a fim de evitar as associações automáticas que classificam ou rotulam para ele (e para todos os outros) o pensamento sufista, Falando de um modo geral, é mais provável que se sinta temporariamente atraído para alguma escola mais plausível, que estabeleça princípios inflexíveis nos quais possa arrimar-se.
3 comentários:
Grato pelo contributo, decerto muito pertinente! Com muletas ou não, mas de preferência sem elas, vamos à Vida!
Abraço
José António,
gostei muito do texto e do site. Excelente! Obrigada.
Parabéns!
Hoje é dia de festa cantam as nossas almas... à Menina Emplumada uma salva de palmas.
ehehehehehehehehehehehehe
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