O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 4 de março de 2008

Praga



O cego a cantar em russo na Ponte Carlos, sobre o Vladva. A bela rapariga de olhos tristes a tocar guitarra espanhola. A senhora checa a entoar uma ária de ópera na rua nocturna. Quase ninguém neles reparava: a seus pés escasseavam as moedas. E eram eles o coração de Praga, a cidade alquímica, na noite do mundo. Pela sua voz Deus cantou entre os homens mudos, que apressados iam às suas vidas, cheios de nada. (Maio, 2007)

5 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

Fizeste-me lembrar quando parece que os anjos falam pela boca dos fala-só que vagueiam pelas estações de Metro.

Abraço.

Ana Margarida Esteves disse...

Cura

Quando os tambores materializaram
O ritmo do coração,
A Negra avançou sobre o palco
E imperou na sala.

Das suas tranças pendia
O transe de um público cerebral
Que sem querer encontrou em sí
O inconsciente da Terra.

Nos seus lábios soavam ecos
De Yaoundé,
New Orleans,
Saint-Germain-des-Prés,
Batida do Universo
Acelerada quando o fim da escravidão
Iniciou a cura do Ocidente.

A conclusão virá
Quando o público absorver o momento
Em que a Negra abriu os braços,
Levantando voo com as águias,
Chamando-nos a todos “meus filhos”.

Paulo Borges disse...

Sim, é muitas vezes pelos loucos e vagabundos que, nestes tempos de miséria e espiritualidade delico-doce, o sagrado e o divino ainda nos visitam...

Abraço

Anónimo disse...

Temos encontro marcado em Praga, ó meu Amor que nunca verei !

Anónimo disse...

Esperar-te-ei ! Esperar-te-ei, ó meu Amor que um dia verei !