O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 28 de março de 2008

Experiências místicas, sujeito e vacuidade

Segundo o que me parece, a descrença absoluta na realidade é na maioria das vezes mais uma crença do que propriamente um verdadeiro conhecimento (gnose). Concordo com a afirmação do Paulo Feitais: se dissermos simplesmente que a realidade é uma ilusão ficamos aprisionados "do lado fora" da gaiola. É uma crença muito aliviadora e libertadora, sem dúvida, mas não deixa de ser uma crença. Quem lê e compreende intelectualmente, por exemplo, o nono capítulo do "Caminho do Bodhisattva" de Shantideva, alcança um grande alívio e libertação, sem dúvida. Mas há uma grande diferença entre uma compreensão conceptual de que a realidade é ilusória e o conhecimento gnósico dessa mesma questão. Se todos vivemos experiências místicas viradas do avesso que havemos de fazer? Alguém sabe virá-las para o lado certo? Se sabe, que nos ensine. O que sei é que enquanto houver um sujeito que "sente" e que pode dizer "eu sinto" e "eu experimento", a experiência é subjectiva, e por mais que eu tenha compreendido os argumentos que me convenceram de que o "eu" e a realidade não existem, eu continuo a experimentar uma forma de subjectividade. A insubstancialidade da realidade começa por ser uma crença; à medida que se vai aprofundando o processo de des-subjectivização, a crença vai-se tornando aos poucos em gnose, o que exige um trabalho de investigação sobre a natureza da mente e da percepção dos fenómenos, inclusive o fenómeno do sentimento. Se depois da compreensão da vacuidade determinados sentimentos deixaram de me fazer sofrer e até acabaram por desaparecer, então deu-se gnose, diluiu-se parte da subjectividade, desligou-se, nalgum lado, a ligação corpo-mente, o que implica questões neuro-químicas, psíquicas e psicológicas (e não há psicologia sem símbolos, e não há símbolos sem hermetismo e misticismo). Mas se eu espetar uma agulha no braço e sentir dor, então essa ligação, nesse ponto, está intacta, há ali um sujeito, portanto estou ao nível da crença quanto à insubstancialidade do real, pois se houvesse gnose não sentiria qualquer dor. E se alguém cortar a mão a um ser iluminado como Buda, o que acontece? A mão cai ou continua presa ao braço como se esse ser fosse um holograma totalmente insensível e insubstancial? Até onde actua o conhecimento da vacuidade sobre aquilo que conhecemos como as leis físicas da realidade?
A ligação corpo-mente é onde reside a subjectividade, é a partir da relação com o corpo que se cria a noção mental de "eu" ou "sujeito". A relação corpo-mente (sentimento e sensibilidade) é simbólica, parece-me difícil que se consiga explicar como se dilui o sujeito psíquico sem o recurso aos símbolos, e aí entramos na estética e no mistério (experiências místicas) da criação: criação da vida pela sexualidade, criação de prazer e beleza pelo erotismo, mas também pela arte (e aqui entramos no Orfismo e na relação Diónisos/corpo/êxtase--Apolo/mente/ascese). Se concebermos a realidade como um poema, como uma obra de arte, tudo é simbólico, a História é simbólica, mesmo as ciências são simbólicas, ou seja, a realidade é simbólica, a realidade é um mito, tudo é Mito (o que acaba por ser uma forma de "nadificação"). Fica por resolver, contudo, a questão ética: se tudo é mito, por que temos que passar por esta existência ilusória? O que nos motiva para a acção? Por que motivo a nossa missão é a de criarmos condições neste planeta (inexistente?) para a instalação de um Quinto Império? (providencialismo?) Não acho que esta existência terrestre seja a única experiência existencial (ilusória ou semi-ilusória ou ilusória só até certo ponto); tal como Giordano Bruno, acho que há muitos outros mundos existenciais, infinitas dimensões existenciais. A vacuidade é só mais uma peça do puzzle, não creio que tudo se fique por aí.

12 comentários:

Anónimo disse...

Excelente texto.
Poderá tentar responder às perguntas que são colocadas no post do Paulo Borges,mais abaixo, no corpo da serpente?
??

João Beato disse...

O que fazemos com a vacuidade?
Agimos!

Quanto mais profunda for a compreensão da vacuidade, maior é o compromisso com a realidade, maior é a responsabilidade, maior é a liberdade, ou seja, menor é o livre-arbítrio.
Não me parece possível que alguém se possa libertar a si próprio sem libertar todos os que estão à sua volta. Do ponto de vista de um pretenso Todo/Nada, a des-subjectivização é uma libertação, mas do ponto de vista do indivíduo, essa mesma des-subjectivização acaba por ser um compromisso.
As nossas responsabilidade com a colectividade são proporcionais ao nosso conhecimento acerca do todo/nada. Acho que é por esse motivo que os grandes mestres dizem que agem sem agir. Age porque há ali um ser que, numa perspectiva, se dá ao trabalho, constrói, ensina, cria, etc. Não age porque, noutra perspectiva, ele sabe que o impulso para essa acção não se origina naquele ser individual, naquele ego, mas vem de uma consciência/compreensão que trasncende totalmente a sua individualidade (Sócrates dizia que tudo o que ele ensinava lhe era transmitido pelos deuses, ele, o Sócrates, não sabia nada, era só um mensageiro).
De uma certa maneira, isso significa colocar o indivíduo ao serviço de uma causa, pois a sua consciência é muito mais do que individual. O que justifica a identificação com essa causa? O mito, que mais poderia ser...
Porque me identifico com um determinado mito e decido entregar-me a ele? Julgo que isso é insondável. Por que motivo certos homens se suicidam por Alá mantando, aos mesmo tempo, tantos outros homens? Eles entregaram-se a esse mito...
A partir do momento em que compreendi que a crença absoluta nesta realidade é uma ilusão, tomei a tal pílula do Matrix. Depois de tomar a pílula o processo é irreversível, desiludi-me e passei para o lado dos que trabalham para ajudarem os outros a desiludirem-se. Comprometi-me? Libertei-me? Libertei-me e comprometi-me...
Nasci numa cultura alimentada pelo mito do Quinto Império e entreguei-me a esse mito dos "Mensageiros". Todos, sem excepção, têm a sua "mensagem" para tramsmitir.
Claro que há uma "viagem" do sujeito, a viagem simbólica da des-subjectivização/desdramatização (a tal questão mente-corpo): a Mensagem do Pessoa, o "drama estático", é uma desdramatização, cada uma daquelas personagens desconstrói a nossa persona-ego, mas para entrar nelas é preciso dominar o discurso simbólico e ter conhecimentos de hermetismo (e compreender a história de Portugal à luz do mito). O mito e a história têm uma relação muito mais profunda do que nós pensamos.

Anónimo disse...

Obrigada João Beato,

Uma vez mais uma excelente resposta que confirma a minha ideia da resposta possível, muito, muito enriquecida em alguns pontos importantes:
1. «A acção que age sem agir», no sentido em que ela se torna impulso imperioso, que parte não já da subjectivação que prende ao engano e à ilusão (metáfora, talvez, para o marinheiro morto, que simbolicamente as veladoras revelam em sonho, como mito), mas a que se descobre como mais real.
2. Essa acção torna-se impulso imperioso e irreversível, tal como a imagem da perda total do caminho de casa e que surge em simultâneo, com o outro caminho desdramatizado, que, afinal estava mesmo ali, onde parecia morto ou perdido…
3. Compreendida a vacuidade dos fenómenos e de nós mesmos, compreendido, penso, o sentido da acção e até da relação entre a História de Portugal e o mito de que se alimenta a pátria… Como saber que o mito que integramos em nós. É o mesmo Mito… Como saber se esse mito não é mais uma das criações da nossa mente-corpo? Como saber se nós somos esse mito vivido ou se o criámos nós? Esse Nada que é Tudo?
4.Não pretendo “garantias” ou “certezas” nesta matéria…Apenas levar mais longe a pergunta, questionar…
5.Este aspecto entra no terreno da fé? da crença nos mitos?

Desculpe a pergunta extensa e desorganizada.

Paulo Feitais disse...

Caríssimo João, estou em profunda sintonia com este texto admirável e com este teu comentário. Eu creio (esta palavra é bem esquinuda...) que cada um tem / é um mito, que se funda (que se afunda) numa dinamicidade diacosmésica mais ampla, a que podemos chamar Mito. As diversas personagens/mentes dramaticamente investidas de si, entre-expressam-se e, ao mesmo tempo, cumprem-se e desconstroem-se.
O "mito" "pessoal" pode ser um misto de recessos cármicos (no fundo somos escavados por histórias entrelaçadas cujo "enredo" se perde nos confins do dizível e do experienciável) e de afloramentos de energias pulsionais que irrompem do Abismo, do Mito que dá espaços de diacosmicidade às diversas formas de vida que o encarnam.
Mas ao mesmo tempo penso que existem forças que actuam sob o influxo de um Anti-Mito, ou de um Mito "profanado", uma cadeia de processos de conformação das mentes de acordo com certas estruturas simbólicas que impõem a reificação do real e a regulação do viver eticamente comprometido.
A partir de certa altura o homem ocidental deixou de encarar muitas suas vivências como estando ligadas so mito, à medida que a Razão medidora, e não já mediadora, se foi apropriando da verdade de muitas áreas do ser e do conhecer.
O problema não se está em saber o que é ilusão e o que não é ilusório. E a "minha" pergunta é a de saber se o Mito acredita em nós: o Mito acredita em nós? E o que é que em nós se ergue para responder? E o Mito responde?
Talvez de várias formas e sob várias "visagens", porque somos vários e (in) constantes.
Mas isto já é...
Que belas são as flores e os aromas do mar... e tudo mais...

Ana Margarida Esteves disse...

João, muito obrigada por pores palavras em algo que eu há muito tempo tenho andado a tentar exprimir, mas sem encontrar as palavras certas.

Por vezes fazia-me impressão que certos colaboradores falassem de vacuidade e experiências místicas sem dar as "instruções" de como lá chegar. É bem certo que cabe a nós procurá-las, mas mesmo assim dar as deixas, algumas bem herméticas e depois só as deixar pairar no ar pode ser muito frustrante.

"Engolir a pílula vermelha" e reconhecer a vacuidade é realmente algo que nos chama à acção compassive e nos responsabiliza em relação ao nosso semelhante, em vez de nos refastelar num isolamento contemplativo.

O isolamente contemplativo torna-se a pausa necessária para "recarregar as baterias" e renovar o nosso compromisso de co-libertadores da realidade.

Bem (h)ajas pelas tuas palavras tão certeiras.

João Beato disse...

Paulo e Ana, obrigado pelas vossas palavras sábias. Quanto à pergunta sobre se o Mito acredita em nós, bom, vou ter que pensar...
O comentário que deixo abaixo é a resposta àquela Pergunta misteriosa lá de cima.

Um abraço

João Beato disse...

A resposta é sobretudo um profundo silêncio...

Mas também tenho algumas palavras...
Se não acreditar neste mito, se não aderir a ele, terá que aderir a outro qualquer. E fará a mesma pergunta:"como saber se sou mesmo esse mito vivido?"

Para conseguir suportar a existência terá sempre que ter um mito que justifique essa existência, seja ele qual for. Há muitos mitos, é só escolher...
Como vai saber se está mesmo a viver o mito ou se é só mais uma criação da mente-corpo? É uma dúvida radical, porque em última instância tudo é ficção, e a maior delas é o grande Mito.
É por isso que o mito é tão poderoso: imaginemos todos os que aderiram ao mito do marxismo(que fala do fim da História), como podiam eles saber se estavam a ser o mito vivido ou se era só mais uma criação da mente-corpo? Aderiram ao mito e agiram de acordo com ele, acreditaram nele, tiveram fé em que o marxismo era a grande salvação da humanidade. E fizeram-se grandes revoluções... Os que vivem para o mito do consumo, do lucro e do prestígio pessoal não se questionam, vivem para isso e pronto. Acreditam? Têm fé? Devem acreditar que isso é o melhor que têm a fazer com a existência, vivem em função disso...
A partir do momento em que adiro, consciente ou inconscientemente, a um determinado mito, todas as minhas acções serão em função dele.
Se todas as minhas acções são em função desse mito, se ele me faz agir, eu já sou esse mito vivido...
Porque adiro? Porque me identifico com ele. Porque me identifico com ele? Tudo o que disser como resposta será uma justificação secundária, uma racionalização de segundo plano, quando muito poderei dizer, no meu caso pessoal, que esse mito é a minha cultura e se pertenço a essa cultura é para fazer cumprir o mito. É ele que me dá sentido à existência.

Anónimo disse...

Muito bem. É uma opinião, não um total acordo.
Há qualquer coisa que falta ser respondida... O Paulo Feitais referiu-a como sendo forças do «Anti-Mito» ou «Mito profanado» que vêm complicar ainda mais um pouco...

Vou tentar expor o meu raciocínio, na óptica de uma pessoa não familiarizada com os mistérios ou os mitos, uma pessoa de bem, se quiser.

1.Uma das razões que apontou para a não necessidade da crença no mito é porque ele é a grande ficção, ou mesmo a média, ou a pequena. O seu poder advém desse mesmo facto: o de ser ficção. Até aqui correcto. De acordo, em parte.
2. Há mitos à escolha? Em catálogo? Mitos para consumo? Parece que actualmente prolifera muito disso. Desviou-se aqui da minha questão… quis involuntariamente diminuí-la ou subestimá-la, oferecendo-me uma mala com “mitos” o que confunde mais as coisas…
3. Na minha pergunta já ia a afirmação da compreensão do Mito de que fala. Mas, agora, pôr ao mesmo nível, mesmo apenas por comparação o mito do consumismo e até o mito do marxismo… Não acha que há uma diferença entre os termos da comparação – de grau, de natureza, de abrangência… ou de outro termo que melhor se ajuste à desproporção dos termos.
Se eu aderir ao mito do consumismo, faço-o em nome da minha responsabilidade pessoal e individual, contribuindo, é certo, para fazer enriquecer os do outro mito, os do «mito da riqueza», são os danos e benefícios colaterias…? É assim que se relativiza o mito? Mas será que nesta dimensão se coloca a questão da fé de modo semelhante à do Grande Mito arquétipo e intemporal da alma colectiva de um povo?... Um mito já resultante de uma mente que pensa por símbolos, de uma mente desiludida? A dimensão da responsabilidade é semelhante? Não me parece que isto nos leve muito longe…
2. Por exemplo: se eu vejo pessoas com fome, exploradas e sobrecarregadas de trabalho, mal nutridas, mal tratadas, eu posso ter um sonho, uma ficção minha, embora partilhada por muitos, de que é necessário e eticamente imperioso fazer qualquer coisa para minorar o sofrimento dessas pessoas. Aqui a comparação já se ajusta melhor, mas…
3. É em termos da imperatividade da acção que pode haver semelhança. O que está em causa, em ambas as acções é o sentido moral, ético, os valores da fraternidade e até mesmo os valores religiosos, católicos, budista, xintosistas ou outros. A acção tenderá à supressão das necessidades materiais e físicas inerentes à sobrevivência humana. É uma imposição do “mito”. Pensamos estar a fazer o bem. De acordo….
Há no entanto aqui uma diferença enorme, de responsabilidade na acção. Não pode ser só porque chamamos mito a todos fenómenos colectivos que eles de facto o são.
Tanto mais que a fome, a doença, a subnutrição apresentam-se como realidades evidente para todos, não são ficção nem grande nem pequena. Nem se colocam ao nível da fé. Já o Mito do Quinto Império não não pertence ao mesmo nível da realidade…
4. Falámos, e bem, de uma responsabilidade tanto maior quanto maior o nível do conhecimento da mente desperta.
5. A minha questão não era a de haver ou não haver “mitos de bolso” (desculpe estar a classificar os mitos desta forma, até a mim me dói…), nem tampouco se há “contra mitos” ou “atrasa mitos”. A questão situa-se mesmo no âmago da ética. Agir implica sempre uma responsabilidade proporcional ao grau de assumpção da coisa como verdadeira ou da importância que essa acção tem para os outros, não para nós, o que seria absurdo.
Escrevi bastante, e mal, e não disse o essencial. (Até rimou).
Entregamo-nos, agimos, temos essa chama que nos impele a fazê-lo e… se estamos enganados? A responsabilidade e a liberdade são imensamente inquietantes…Bem sei… por isso é que não é tarefa para todos…
Obrigada pela resposta, pôs-me a pensar…Quase “pecado” por heresia. O pensamento racional também não nos leva longe, isso é o que de mim ainda é subjectivo e a minha experiência me têm ensinado.

Uma vez mais, Obrigada.

João Beato disse...

Compreendi perfeitamente a perspectiva. Sem dúvida, uma grande desproporção... uma gigantesca diferença...
Pensemos na acção de Alexandre, nos impérios helenísticos, sobretudo no Egipto. Qual era o mito? Faraós gregos? Que tipo de cultura foi aquela?
E o mito que sustentou o imperialismo romano? E o facto de o Papa ser o herdeiro do título "Pontifex Maximus"? O catolicismo é um império espiritual... Pontifex Maximus sempre foi um título sacerdotal, mesmo para os imperadores romanos.
E a acção dos homens que criaram o império português estava associada a que mito? Vasco da Gama questionava-se se estava a fazer o bem, se por ventura estaria enganado? Até onde ia a sua consciência em relação à sua responsabilidade? Ele foi/é um iniciado...
O que se entende por um "império espiritual"?
Agora foi a minha vez de fazer muitas perguntas.
Muito obrigado por este diálogo tão revelador, podia ficar aqui horas e horas a conversar, com muito prazer.

Obrigado e um abraço

Luar Azul disse...

porquê falar em crença, descrença ou gnose? Quando se vê o amarelo é uma crença, uma descrença, uma gnose?

O que interessa isso?

O que interessa é estar desperto.

O mito é um mapa para quem quer caminhar de olhos bem fechados.

Anónimo disse...

Não sabemos… por isso perguntamos, é inerente ao sujeito que quer aprender.

Luar Azul,

Gostava de lhe perguntar, se, quando fecha os olhos e dorme ou sonha, o amarelo lhe aparece do mesmo modo? Parece-me tão importante fechar os olhos como abri-los. Penso que só estar ou criar a ilusão de se estar desperto, (seja qual for a via que se siga) não acontece só de olhos abertos, também é preciso fechá-los.
Quantas vezes, porém, os temos abertos e não vemos só o amarelo? Ou não vemos nada? E outras vezes temos os olhos fechados e não compreendemos/interpretamos o que vimos e/ou não queremos saber?

João Beato,

Também gostei de pensar em conjunto… Cheguei a uma conclusão provisória. Todos os mitos remetem para o mesmo Mito inicial e fundador. Estou convencida que o estudo da Religiões Comparadas iria encontrar mais pontos de aproximação entre os exemplos que mostrou, do que aqueles que lhe poderia mostrar agora e que penso que você sabe quais são.
Quanto à última pergunta: Talvez seja a Hora! Provavelmente tenho que seguir ainda o longo caminho da gnose, ou um iniciação outra, para abrir os olhos. Nem que seja para ver como é o “amarelo” de um pagão, de um Buda, de um homem do campo, hoje, – desses que também havia desde Adão – mais um mito….Não há tempo, penso, na linguagem dos mitos, e eles podem ser (re) actualizados… (A estética também entra aqui.) O olhar desse homem “ignorante”, como será? Será o desobstruído ou construído olhar limpo e inocente de que falam os despertos? Ou o de Caeiro construído e desconstruído olhar que vê «partes sem um todo»? Ou o de uma mística católica a “falar do mesmo modo que Buda?

Obrigada

Anónimo disse...

Se a vacuidade é só mais uma peça do puzzle não é vacuidade...
Sim, amigos, agarrem-se bem às vossas ficções "espirituais"... agarrem-se bem ao abismo...