O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 6 de março de 2008

Eus e ideias

Nunca pensei que os textos que escrevo gerassem tanta polémica. Ainda para mais, geraram más polémicas, em volta do autor, e não em volta das ideias. Afinal, as ideias não eram assim tantas nem muito importantes:

procurar a iluminação (o que quer que ela seja),
amar ao próximo como a si a mesmo,
fazer a crítica ao inferno burguês (expressão de um comentador) da cidade,
a crítica à severa disciplina dos monges,
à necessidade de rituais religiosos para que haja religião,
à necessidade de uma ética para que haja iluminação (que ética há num instante de contemplação?)

E, mais recentemente, as ideias de que

somos principalmente produtores, ou criadores,
e consumidores,
sendo que tudo (ou quase tudo... o que é tudo?) se poderia enquadrar nestas categorias...

Por ter estar ideias e exprimi-las, fui acusado de ser preconceituoso, arrogante, inconsciente, quase insultuoso... entre outros adjectivos de que me não lembro. Posso ser tudo isso e penso que, de facto, sou um pouco (ou um muito) de tudo isso, misturado com mais coisas boas e outras más. Discutam as ideias, não quem as teve.

As minhas ideias principais, neste momento, são as de que somos principalmente criadores - consumidores e de que, nesta vida, devemos satisfazer as nossas vontades, o que não implica que não exista uma ética e que não tenhamos consciência do bem ou do mal morais que estamos ou não a praticar em determinados momentos.

Mais do que vivermos excessivamente preocupados, penso que deveríamos sobretudo viver, e isso é estar aberto às possibilidades, moralmente boas ou más, que se nos aparecem ao longo da vida. No fundo até defendo a via do meio, que em nada impede a que consumamos, e até defendo que há consumos bons, como contemplações ou uma bebida aqui ou ali, como modos de viver nossos, rotinas.

Se encontrarem preconceito nestas ideias, digam-me onde; ou, se encontrarem algo de que discordem veementemente, critiquem-no, mandem-no completamente abaixo, desfaçam-no.

Paz.

3 comentários:

Anónimo disse...

Paz são apenas três letrinhas!

A tentação é a nossa perdição: havias dito ainda há pouco à multidão "tentarei ser capaz".

Precisavas ser repetitivo e em primeira página para pedir "Paz"?

afhahqh disse...

Paz: em que é que fui repetitivo?

luizaDunas disse...

Olá Nuno,

A questão é que os teus posts são lidos. E comentados. Isto deve dificultar a questão da pertinência de tantos posts. Agora, imagina que todos nós enviávamos 3 ou 4 posts diariamente... Digo-te, seria insuportável, não há Serpente que pudesse voar nesse céu sem azul.

É claro que cada um pode fazer a sua selecção: leio este e não leio aquele. Mas há um certo ambiente comun.itário que importa cultivar, e não a exclusão.

Para além disso também há a energia pessoal de cada um que vem reflectida na expressão frásica mais do que nas ideias. E há certas “químicas” entre pessoas que, em estados ou momentos de consciência diferentes e opiniões ou abordagens agudamente divergentes, facilmente se confundem com “enxovalhos” e “desrespeitos”. Tem a ver com vulnerabilidades inter-pessoais.

Eu creio que o nosso foco deverá estar na relação entre o que somos e quem nos ouve. Ou então realmente a relação com os outros não interessa, cito agora Irvin Yalom:
"Cada um de nós estabelece no Grupo o mesmo tipo de mundo social que temos na nossa vida real"