O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 6 de junho de 2010

Pontes


Pontes. Sempre gostei da ideia de ponte. Da noção de ter algo a ligar duas margens distintas e distantes. E gosto sobretudo das pontes que não são visíveis nem palpáveis e que unem margens improváveis.

Improbabilidade – ora aí está uma ideia que também me agrada.
(Gosto muito de ideias. Mas talvez vos fale disso numa outra oportunidade, se não se importarem.)
As margens que se ligam de forma improvável são ricas e únicas. Proporcionam caminhos que se fazem uma vez. Viagens de ida e sem volta. Sem volta, porque quando as margens improváveis se ligam, não há volta a dar.
E não há mesmo, pois nas minhas pontes improváveis não há lugar para rotundas onde seja possível dar uma volta e regressar. O caminho é um. Aquele, e não outro. E de uma margem posso sempre caminhar no sentido de outra, demorando-me o quanto baste aqui e ali.
Hoje demoro-me nesta ponte, cujo nevoeiro me desafia a permanecer e a descobrir o que nele se esconde.



Texto de Joana Sousa | fotografia de Marco A. Pires | projecto olhar a palavra

2 comentários:

Anónimo disse...

Joana,

E eu gosto muito das pontes dessas "que unem margens improváveis". Gosto, porque esse caminho que as pontes abrem, pode-se atravessar de um lado ao outro a reconhecer a verdade das duas margens, que não podem ser opostas, porque ambas as margens improváveis do rio, são um único caminho, que alguns julgam a sua verdade e a elegem em "Verdade". Esses são os falsos mestres, os que mostram as pontes não para unir caminhos, mas para construir meio para chegar à verdade deles.

Gosto de pontes que unem e, mesmo com névoa e na névoa, sabem que vem do outro lado ao nosso encontro o que Diferente (nos) é o Mesmo, em nós mesmos opostos. Esse é o nosso irmão rio este é o nosso braço e o nosso abraço. Mas há as pontes e há o atravessá-las: a nado, em voo, ou ddevagar como a tarturaga. As pontes...

Eu gosto de pontes, não gosto de grades.

Eu gosto deste texto e já tinha saudades de olhar a tua palavra.

JoanaRSSousa disse...

E eu já tinha (tenho!) saudades do futuro!